Variação da cesta básica em Chapadão do Sul é verificada em projeto de extensão

Equipe de servidores e estudantes do Câmpus de Chapadão do Sul realizou projeto de extensão com objetivo de verificar o índice de variação de preços da cesta básica no município. Coordenados pela professora Giovanna Medeiros Florindo, eles levantaram e analisaram os preços e o poder de compra da população durante todo o ano de 2021.

“Minha motivação para propor essa ação vem da minha formação em Administração e também da pós-graduação em Agronegócios. Nessa área, estudamos toda a cadeia produtiva, desde a extração de matérias-primas, a industrialização de produtos agropecuários, a logística, distribuição, até a chegada ao consumo final. Esse tipo de projeto me chamava a atenção por conta disto: levantamos as informações lá do fim da cadeia, investigando a que preços estão chegando os produtos alimentícios ao consumidor, e, com base neste levantamento conseguimos entender várias questões que contemplam a economia local, por exemplo, o que afeta a formação do preço para este consumidor e, mais especificamente, para o trabalhador que ganha um salário mínimo”, explica Giovanna.

A coordenadora conta que desde quando era estudante de graduação se interessava pelo tema e que, inclusive, havia projeto semelhante na universidade onde se formou. A metodologia utilizada acompanha a das pesquisas realizadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) nas capitais do país. “O Dieese divulga essa pesquisa mensalmente em todas as capitais dos estados e do Distrito Federal. Baseada nela, outras instituições desenvolveram pesquisas similares sobre isso. Sempre pensei, enquanto acadêmica, em propor um projeto como esse após formada, e, ano passado, isso se concretizou”, diz.

“Em Mato Grosso do Sul, temos os dados de Campo Grande. Assim, fazer essa pesquisa em outros municípios nos permite uma avaliação mais completa da economia local, isso reflete na qualidade de vida das pessoas, no poder de compra que elas têm naquela situação, naquele contexto em particular”, acrescenta a professora. “Temos outras pesquisas nacionais, como o Censo e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, que são extremamente detalhadas, mas que demoram um tempo para serem finalizadas e, portanto, recebermos esses resultados, para poder utilizá-los em nossos projetos. Essa ação de extensão permite que possamos acompanhar a economia local, já que levantamos dois tipos de indicadores: o custo de aquisição da cesta básica e a avaliação do poder de compra do trabalhador, bem como a forma como isso vai impactar no que sobra do seu salário para os demais gastos como moradia, transporte, saúde e educação”, comenta.

Provisões mínimas estipuladas pelo Decreto, com valores regionalizados para Mato Grosso do Sul

Segundo a professora, essa foi a primeira vez que o índice foi levantado em Chapadão do Sul. “No momento em que iniciei o projeto, só havia lá e em outro município. A partir daí, vi que outras localidades começaram também a fazer isso, o que foi muito interessante”, fala. Ela explica que, primeiramente, foram feitas reuniões com os integrantes da equipe para uma nivelação dos conhecimentos e assuntos envolvidos no projeto. Em seguida, as atividades foram, efetivamente, iniciadas. “Começamos com as reuniões e discussão de quais os locais utilizados para fazer a coleta dos preços. Tínhamos que obedecer ao máximo a metodologia utilizada pelo Dieese para podermos, de fato, comparar e fazer uma pesquisa com qualidade metodológica. Assim, elencamos os estabelecimentos com maior fluxo de clientes e que tinham maior número de itens que compõem a cesta básica padrão, situados em diferentes bairros do município. Também estabelecemos um calendário de coleta de preços, definindo a primeira segunda-feira do mês, já que observamos que esse não era um dia de promoções utilizado pelos supermercados”, detalha.

“Fomos muito criteriosos para que a pesquisa não fosse enviesada. Tínhamos uma equipe de estudantes que fazia o levantamento de preços e enviava os relatórios. Outra equipe analisava os dados e fazia o cálculo da cesta básica, os dados do salário mínimo e as horas de trabalho necessárias para aquisição dos produtos. Depois um outro grupo elaborava o relatório final, criava as artes para a divulgação do informativo em nossas redes. Utilizamos o Facebook, o Instagram e a página do CPCS. Os professores ajudaram a revisar os relatórios e acompanhavam os estudantes nas várias atividades”, conta Giovanna.

De acordo com o Decreto Lei nº 399, de 30 de abril de 1938, que regulamentou o salário mínimo no Brasil e está vigente até os dias atuais, a cesta básica de alimentos deve ser composta por 13 produtos alimentícios, em quantidades suficientes para garantir, durante um mês, o sustento e bem-estar de um trabalhador em idade adulta: carne, leite, feijão arroz, farinha, batata, legumes, pão francês, café em pó, frutas, açúcar, banha/óleo e manteiga.

Variação mensal do custo da cesta básica

Resultados

Entre os dados gerados pelo projeto, foi constatado que a maior variação da cesta básica ocorreu em novembro de 2021, com custo de R$ 608,15, e, o menor, em abril, com custo de R$ 496,76. Ainda, considerando o intervalo de tempo da pesquisa dos preços – fevereiro a dezembro de 2021 –, a partir de maio, a tendência de alta foi mantida, apresentando uma queda significativa em dezembro (veja gráfico).

Em dezembro, a equipe verificou que o salário mínimo necessário para o sustento deveria ser de R$ 1.465,44. Segundo o levantamento, naquele mês, o trabalhador que ganha um salário mínimo precisou trabalhar, aproximadamente, 117 horas e cinco minutos para adquirir uma cesta básica. Ainda, aplicado o desconto de 7,5% para a Previdência Social, verificou-se que o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu, em dezembro, 58% do salário mínimo líquido para comprar os alimentos básicos.

“Acredito que cumprimos o nosso objetivo principal, que era iniciar esse levantamento e divulgar as informações importantes, ou seja, produzir um informativo por mês”, avalia Giovanna. A professora ressalta que, para uma possível continuidade do projeto, pode ser ampliada a equipe, e, consequentemente, poderão ser realizadas análises mais profundas. “Com esse histórico de um ano, também será possível analisar melhor como o cenário em Chapadão do Sul, o contexto econômico e a forma como está organizada a produção e distribuição de alimentos afeta a composição dos preços”, acrescenta.

Preço médio e variação do preço dos alimentos no mês de dezembro/2021

Ela destaca que já foi possível verificar quais os produtos mais sensíveis às variações, como batata, tomate, a banana, entre as frutas, indicando a necessidade de fazer reflexões a respeito do fornecimento desses produtos e variações climáticas, por exemplo. “Ao iniciar o histórico de dados, permitimos a discussão e análise da logística, comportamento de compra, demanda e o aspecto socioeconômico de Chapadão do Sul. A cidade é jovem, com PIB altíssimo, um dos maiores do Estado, e, com esse tipo de pesquisa, podemos analisar como essa riqueza se traduz na qualidade de vida das pessoas e qual o seu poder compra em relação a pessoas que residem em outros locais”, fala a coordenadora do projeto.

“Demonstramos, como o Dieese, a defasagem do salário mínimo, que, na época da pesquisa, era de 1,1 mil. Em média, esse salário deveria ser de, aproximadamente, 1,4 mil reais para que, em tese, de acordo com o decreto que o criou, a pessoa gastasse, em média, 20% do salário com alimentação. Pela pesquisa, em média o gasto é de 50% do salário atual. É interessante para o município, que é jovem, gerador de muitas riquezas, que recebe muitas pessoas que vem para cá, saber de que forma isso, de fato, reflete na sobrevivência delas”, avalia.

Giovanna também comentou o benefício para os estudantes que participaram da ação. “A maior parte dos projetos no curso de Administração estão envolvidos com consultoria em empresas. O projeto pôde abrir um leque para que os acadêmicos e a sociedade visualizem outras formas de contribuição do administrador, com uma visão mais macro do ambiente, ou seja, com a posse de informações como essa, ele pode contribuir, especialmente, nos setores de produção, para que haja melhores resultados e produtos mais acessíveis para a sociedade”, fala.

“É um projeto que permite trabalhar com disciplinas e cursos distintos. Acredito que possamos contribuir mais. No decorrer do ano, mudei para o Câmpus de Nova Andradina e tudo foi levado a distância. Tivemos algumas dificuldades, por ser a primeira vez. Vamos fazer alguns ajustes e, aqui no CPNA, penso em dar sequência ao projeto a partir do segundo semestre, já que precisaremos compor uma equipe e fazer os ajustes necessários”, finaliza.

Equipe

Além da professora Giovanna, integraram o primeiro grupo: os professores Thiago José Florindo, Alexandre Beutling e Lorena Stolle; o técnico Maik Oliveira Silva; e os acadêmicos Aline Santos Castro, Crislaine Tibério Barboza, Eude Saturnino da Silva, Isabela Mendes da Silva, Flávia Penha Barbosa, Luan Fernando Stadlober e Vinilha Gregório.

 

Texto: Vanessa Amin

Foto e imagens: Acervo da equipe