Intitulada “Impactos da adoção de medidas de distanciamento social sobre o mercado de trabalho em Mato Grosso do Sul”, a análise foi realizada pelo formando de Ciências Econômicas Arthur Eduardo de Andrade adaptando a metodologia de trabalhos internacionais e nacionais para o estado, em trabalho de conclusão de curso que apontou o poderio prejudicial da Covid-19 na economia laboral local.
“Neste trabalho, nos propomos a uma primeira aproximação do que pode ter acontecido no mercado de trabalho de Mato Grosso do Sul em decorrência da pandemia. Não é uma tarefa fácil, é uma literatura nova. A Covid está, definitivamente, espalhando sofrimento econômico ao redor do mundo. Vimos, por exemplo, que mulheres em empregos formais (CLT) sentiram relativamente mais os impactos que os homens”, diz o acadêmico, que foi orientado pelo professor doutor Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo (ESAN).
Utilizando dados da PNAD Contínua (IBGE), eSocial, Seguro-desemprego e Censo 2010, o acadêmico buscou quantificar as perdas no mercado de trabalho.
Em 2019, com 2,7 milhões de habitantes, o estado de Mato Grosso do Sul possuía força de trabalho de 1,4 milhão de pessoas, sendo que 1,3 milhão estava empregada.
Já no começo de maio deste ano foi divulgado um relatório do Sebrae com uma amostra de micro e pequenas empresas. “Das 154 MPEs de Mato Grosso do Sul, 40% declararam que já haviam sido afetadas até então e 90% tiveram seu faturamento mensal reduzido pela crise. Faz sentido pensar que isso vai ter rebote na renda, no emprego e no mercado de trabalho”, completa Arthur.
No trabalho de conclusão de curso, o futuro economista apontou que a força de trabalho no segundo trimestre de 2020, no estado, é igual a do mesmo trimestre de 2012. “Considerando que a população economicamente ativa tende a aumentar junto com a população, então é a maior queda da série histórica e a taxa de participação nesse período também foi a menor”, diz.
Da mesma forma, a taxa de crescimento da força de trabalho também apresentou a maior queda, de quase 10% e as pessoas desocupadas e fora da força de trabalho tiveram, em números absolutos, os maiores registros de suas respectivas séries históricas, aumentando em média 20%.
São 150 mil desocupados, em comparação com 120 mil no ano passado e 876 mil fora da força de trabalho (pessoas que desistiram ou que não estão procurando emprego) comparados aos 690 mil em 2019, totalizando mais de um milhão de trabalhadores parados. Até então, os piores registros somando as duas estatísticas apresentavam em média 850 mil pessoas nessa situação (PNAD).
Na força de trabalho ocupada, as duas maiores quedas aconteceram também em 2020, sendo de quase 15% no segundo trimestre.
“Quando olhamos para os empregados no setor privado, observamos impactos mais severos sobre os trabalhadores sem carteira assinada, com uma queda de quase 30% se comparado ao mesmo trimestre do ano anterior. Para os trabalhadores domésticos, os impactos sobre os celetistas foram relativamente mais severos, com uma queda de também aproximadamente 30%. A pandemia tende a afetar mais ocupações com menores níveis de rendimento”, afirma Arthur.
Estudos mostram que o Brasil possuía em média 22,7% das pessoas em potencial de teletrabalho no período de pandemia, cerca de 20 milhões de trabalhadores. Em MS, o percentual era de pouco mais de 20%. Contudo, de maio a agosto, com base na PNAD, o acadêmico apresentou que em média apenas 7,8% trabalharam de forma remota no estado.
“Vemos que as pessoas que recebem menos não têm, praticamente, potencial de continuarem trabalhando durante a pandemia. São as que estão ficando mais desempregadas”, aponta Arthur.
As mulheres concentram a maior perda de empregos formais na pandemia. No estado, nos dois primeiros meses de 2020 que antecederam a pandemia, 28% da criação líquida de vagas foram direcionadas às mulheres.
Nos três meses seguintes, 54% da destruição líquida de vagas eram ocupadas por mulheres e, a partir de junho, 37% dos postos eram ocupados pelo trabalho feminino.
Para o ano de 2020, do total de 7,4 mil vagas líquidas criadas no estado, apenas 2% foram ocupadas por mulheres.
Para ver os impactos sobre os setores (população ocupada), o acadêmico utilizou duas formas: os dados sobre a população ocupada e sobre o número de pedidos de seguro-desemprego.
“O grupamento composto por atividades voltadas à agricultura apresentou relativa resiliência porque caiu 7%, se comparado com outros, o impacto foi bem menor. Indústria caiu 16% e construção 22% (comparação com o segundo trimestre de 2020) e o comércio também apresentara uma queda tímida de 7%. Dos grupamentos que compõem setor de serviços, transporte e alimentação apresentaram quedas de 22% e 17%, respectivamente, e o de serviços de informação teve queda acumuladas nos dois primeiros trimestres de 28%”, expõe.
Quando se analisa os pedidos de seguro-desemprego, alojamento e alimentação representavam 8% do total de pedidos no período, mas apresentou a mais expressiva variação se comparada ao ano anterior um aumento de 72%. A agricultura registrou o menor, com 3%, enquanto a média para os outros foi de 17%.
Também foi possível verificar que as pessoas que recebiam acima de dez salários mínimos tiveram uma variação muito grande no mês de maio. “Conseguimos correlacionar com os trabalhadores com superior completo, ao considerarmos que são mais qualificados e recebem mais e que tiveram aumento médio de 10% nos pedidos entre maio e junho”, aponta Arthur.
Para as pessoas que recebiam até um salário mínimo, houve aumento expressivo de pedidos em seis meses do ano, dos nove meses analisados, com 40% a mais acima da média de 2019 e de 58% acima da média de 2018.
Texto: Paula Pimenta