Professor e estudantes do Curso de Medicina do Câmpus de Três Lagoas apresentaram dois relatos de casos clínicos raros com conduta médica inovadora na 22ª edição do Congresso Internacional São Paulo de Cirurgia Vascular e Endovascular. O congresso é um dos maiores eventos na área, com abordagem multidisciplinar das doenças arteriais, venosas e linfáticas.
“Certamente, os relatos de casos clínicos desempenham um papel crucial tanto para a ciência médica quanto para a formação dos estudantes de Medicina. A apresentação e discussão de relatos de casos clínicos em congressos promovem o pensamento crítico e a resolução de problemas entre os profissionais de saúde. Assim, levar relatos de casos clínicos para congressos é fundamental não apenas para a disseminação do conhecimento e avanço da ciência médica, mas também para enriquecer a formação dos estudantes, promover o desenvolvimento profissional contínuo e estimular a inovação e a colaboração no campo da Medicina”, comenta o professor César Presto Campos.
Por definição, o relato de caso clínico é uma apresentação objetiva e clara de um caso clínico real com detalhes sobre o quadro de saúde de um paciente, com detalhes sobre a conduta médica e a evolução do paciente. Esse tipo de trabalho pode resultar em uma apresentação escrita e/ou oral. “Os relatos de casos clínicos fornecem uma visão prática e detalhada de condições médicas reais. Ao escrever e apresentar esses casos em congressos, os estudantes têm a oportunidade de desenvolver habilidades sobre diagnósticos diferenciais, estratégias terapêuticas e desafios clínicos do mundo real. Isso ajuda a integrar a teoria com a prática e fortalece a formação acadêmica”, explica o professor.
Os estudantes do Curso de Medicina, Léo Morato Luize e Heitor Yuri Nogara, apresentaram o trabalho intitulado Tratamento tardio de trombose arterial aguda extensa em membro inferior direito: trombectomia mecânica associado a trombólise com cateter multiperfurado 30 dias após episódio agudo: um relato de caso, desenvolvido sobre o quadro clínico de um paciente de 79 anos acometido de Trombose Arterial Aguda.
“Quando ele (César) contou o caso, o pessoal não deu muita importância, mas eu vi que ali tinha algo importante e que precisava ser documentado tanto pelo caso, quanto pelo sucesso. […] A literatura indica nesse caso que a amputação deve ser feita quando o quadro passa de 14 dias. Com 16 dias, a cirurgia ainda pode ter sucesso, mas com 30 dias não é recomendado, principalmente porque o paciente é um senhor de 79 anos. O professor César viu nos exames uma possibilidade e comandou com maestria um procedimento nada convencional, que resultou no salvamento de uma perna que tinha recomendação de amputação devido a um quadro de 30 dias de Trombose Arterial Aguda”, explica o estudante Léo Morato.
A convite do estudante Léo, Heitor aceitou a proposta e teve a oportunidade de desenvolver seu primeiro relato de caso. “O que me chamou a atenção na proposta foi a originalidade e as características do caso. […] Além da oportunidade de escrever o meu primeiro relato de caso, esse tipo de trabalho é importante porque é um ponto de partida para outros profissionais usarem o método para salvar vidas e formularem novas hipóteses ou estudos. Por exemplo, a partir desse relato, pode ser desenvolvido um estudo quantitativo e comparativo de casos semelhantes”, complementa o estudante Heitor Yuri Nogara.
Quem também recebeu o incentivo do professor César foi a estudante Cássia Ataide. Ela apresentou o relato de caso Embolização de pseudoaneurisma de artéria uterina após abortamento espontâneo completo, feito sobre um caso que envolveu a cooperação da área obstétrica e da cirurgia vascular e endovascular para manutenção da fertilidade da paciente. “O meu relato de caso foi sobre o desenvolvimento de um pseudoaneurisma na artéria uterina, […] que é uma das causas de hemorragia pós-parto tardia, mas é uma causa rara e geralmente está relacionada a manipulações prévias, como o uso de fórceps e/ou a curetagem pós-abortamento. Essa paciente desenvolveu a condição após o abortamento e não fez curetagem. Na literatura, na maior parte dos casos, as pessoas descobrem isso após o rompimento do pseudoaneurisma e muitas vezes é necessário fazer cirurgias às pressas e até uma histerectomia total da mulher”, explica.
Nesse caso, a decisão dos médicos e professores envolvidos no caso, César Prespo e Rafael Cassemiro, foi investigar com profundidade a situação da paciente. Com a descoberta do pseudoaneurisma na artéria uterina, a equipe utilizou técnicas cirúrgicas avançadas para retirada do hematoma.
“Como estudante, foi uma experiência única e gratificante apresentar [um relato de caso] num congresso com os maiores nomes da cirurgia vascular. […] Graças ao incentivo dos professores, vou ter no currículo um trabalho apresentado para Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular e isso conta muito para o meu currículo e para a minha residência”, explica Cássia.
O evento é promovido pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular e foi realizado entre os dias 25 a 27 de abril, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Texto: Claiane Lamperth
Fotos: Arquivo pessoal