Selecionado entre os cinco melhores dentre cerca de 700 trabalhos de pesquisa de todo o mundo, o projeto “Biossurfactantes para Combater Doenças Transmitidas por Mosquitos”, de pesquisadores do Instituto de Química da UFMS, irá participar do Desafio em Química Verde e Sustentável da Fundação Elsevier (Elsevier Foundation Green and Sustainable Chemistry Challenge).
O desafio será realizado durante a Conferência de Química Verde e Sustentável, entre os dias 14 e 17 de maio deste ano, em Berlim (Alemanha).
Coordenado pelos professores do INQUI Dênis Pires de Lima e Adilson Beatriz, o projeto tem como pesquisadores participantes a professora Ana Camila Micheletti (INQUI), Rosângela da Silva Lopes (doutorada no INQUI), o mestrando Cléverton Miguel Müller e os professores Maria Rita Marques (CCBS), Edson dos Anjos dos Santos (CCBS) e Antônio Pancrácio de Souza (CCBS). As pesquisas são realizadas no Laboratório de Síntese e Transformações de Moléculas Orgânicas – Sintmol (http://sintmol.sites.ufms.br/).
Criada por um comitê das Nações Unidas, a Fundação Elsevier destina esse desafio a projetos de países em desenvolvimento. As propostas compreendem projetos que ainda estão em execução.
Desafio
Em 2016, a Fundação recebeu mais de 700 projetos, dos quais 65 foram selecionados em uma primeira triagem e, posteriormente, foram definidos os cinco melhores.
“Para nós, pesquisadores, essa seleção entre os Top five já é um prêmio. Essa seleção é bastante gratificante porque vemos a possibilidade de trazer benefícios ao nível local, nacional e mundial, porque o resultado dessa pesquisa pode ajudar muitos países”, diz o professor Dênis de Lima, que irá defender o projeto na Alemanha, em viagem patrocinada pela Fundação Elsevier.
Os cinco representantes dos projetos selecionados terão dez minutos para defender suas propostas, que passarão pela avaliação de um júri científico e estarão concorrendo à primeira e à segunda colocação, com prêmios de 50 mil e 25 mil euros, respectivamente, valor que será direcionado a continuação dos projetos.
Larvicida poderoso
Dados na literatura demonstravam que o Líquido da Casca da Castanha de Caju (LCC) tinha uma atividade inseticida. O grande problema era a solubilidade em água. A inovação do projeto de pesquisa do grupo do INQUI foi transformar isso em um detergente solúvel em água.
O biossurfactante (detergente) desenvolvido no INQUI reúne o óleo da casca de castanha de caju com o óleo de mamona para ajudar no efeito surfactante, ou seja para produzir o detergente/sabão.
“Esses sabões são feitos a partir de recursos renováveis, não há qualquer derivado de petróleo. Usamos os dois óleos e adicionamos hidróxido de sódio”, explica o professor.
As pesquisas demonstraram que em 48 horas do depósito do sabão em água há a completa mortalidade das larvas do mosquito Aedes aegypti, transmissor de doenças como a Dengue, Zica e Chikungunya e também da Febre Amarela. Para a ação larvicida são destinados 0,2 mg de sabão para cada litro de água.
O projeto ainda está em desenvolvimento porque existem outras perspectivas a serem exploradas, como o isolamento de cada um dos componentes do óleo da castanha de caju, para saber se há a necessidade de se usar um, dois, ou mais componentes.
“Também é nosso objetivo fazer outros compostos, outros tipos de detergentes, além de testar a relação da estrutura dos compostos químicos com a atividade biológica, para saber como pode influenciar na atividade inseticida e local de atuação, de forma a selecionar melhor o produto final”, completa o professor.
Um dos pontos de destaque do biossurfactante, que já teve o depósito de patente solicitado, é o custo, por se tratar de um produto barato. “Um dos preceitos da química verde é utilizar matéria prima renovável. Outro ponto importante é que esses bioinseticidas, produzidos com matéria prima vegetal, segundo vários autores, têm maior biodegradabilidade no solo, o que não causa um efeito tóxico nem cumulativo na natureza”, coloca.
Longa pesquisa
O projeto já foi premiado algumas vezes, inclusive em feiras internacionais, e faz parte de uma linha de pesquisa iniciada em 1999, por meio de uma parceria com uma empresa de Campo Grande, a Merko Produtos Agropecuários e, posteriormente, a Kardol Indústria Química Ltda, a partir do seu presidente Elton Caetano Favero.
À época, ele apresentou aos pesquisadores o desafio de sintetizar compostos, como da resina de mangueira, por desconfiar de seu poder herbicida. Os pesquisadores descobriram que esses compostos estudados, que tinham real ação herbicida, eram mais abundantes no LCC, o que despertou o interesse pelo óleo da castanha de caju.
De acordo com o professor Dênis, o projeto também visa a correlação com o setor produtivo, ainda mal remunerado pela extração desses produtos naturais.
“Tendo mais um produto que pode ser usado como inseticida, como o do nosso projeto, podemos estimular a produção, aumentando a renda desses produtores. Isso também promove o interesse de empresários e do governo. Dessa forma, temos o valor científico, mas também um aumento do valor agregado de um produto elevando o bem estar social, em todos os aspectos”, completa.