Uma iniciativa de pesquisadores da UFMS deu novo significado às paredes da Escola Estadual Cândido Mariano, em Aquidauana. Se antes elas passavam despercebidas, agora o cenário ganhou novas cores e serve para o aprendizado dos estudantes da Educação Básica.
O projeto de extensão “A Residência Pedagógica e o diálogo com o saber escolar: uma proposta de uso da arte no ensino da História e Geografia na Educação Básica” foi idealizado pelos pesquisadores Ricardo Batista e Agnaldo Rodrigues, do Câmpus de Aquidauana (Cpaq). A proposta é trabalhar com os alunos da educação básica questões que reflitam a sua realidade cotidiana, exercitando a cognição, por meio de metodologias de ensino como os mapas mentais.
Após as atividades teóricas e práticas que envolvem a produção dos mapas, o projeto finalizou a proposta com a entrega de um mural didático. A iniciativa transformou as paredes da escola em um conteúdo de aprendizado, que pode ser explorado por professores, desde o Ensino Fundamental até a conclusão do Ensino Médio.
O coordenador do projeto, Ricardo Batista, explica que a ideia surgiu a partir de uma de suas estudantes, que também é artista. A acadêmica havia feito um mural na creche onde o filho estudava. As pinturas lúdicas chamaram a atenção, quando os professores decidiram levar a proposta para a escola estadual.
“Nós apresentamos para a diretora, que recebeu muito bem a proposta. Então, passamos a desenvolver este projeto, que tem como objetivo a promoção de práticas pedagógicas que valorizem e estimulem a aprendizagem significativa dos alunos a partir dos conhecimentos regionais”, explica o coordenador.
Para quem entra na escola, é impossível não se encantar com o mural didático. As cores chamam a atenção e as imagens, cheias de detalhes, contam a história da formação do planeta.
A idealização do mural foi pensada de forma cronológica. As imagens levam a uma sequência de eventos, que podem ser trabalhados em conjunto ou separadamente. “Iniciamos pelo Big Bang e, em seguida, a formação do planeta Terra desde o processo de resfriamento e formação atmosférica até a divisão dos continentes. Temos também a Serra de Maracaju, que é uma unidade de representação da paisagem muito característica de Aquidauana”, diz o professor.
As características que remetem à região de Aquidauana são muito importantes para o projeto. Além da representação da Serra de Maracaju, o mural também contém elementos que remetem às culturas dos povos tradicionais que vivem na região.
“Demos destaque para os indígenas terena que são bastante significativos e representativos aqui em Aquidauana. Focamos também na população negra, que é representada pelo quilombo Furna dos Baianos, também da nossa região, e, em seguida, a gente tem um quadro que mostra e representa a Guerra do Paraguai. Temos também a ferrovia Noroeste no Brasil, que foi muito importante para a redefinição do processo de integração regional da microrregião do Pantanal. São quadros que trazem elementos locais que ajudam os professores a explorarem esses conteúdos, a partir da cognição, ou seja, aquilo que o aluno tem de conhecimento prévio, porque são elementos que ele vê no seu cotidiano”, detalha.
A participação dos estudantes da escola não fica apenas na hora do aprendizado. Os alunos do Ensino Fundamental ajudaram a realizar as pinturas, enquanto os professores da escola auxiliaram no processo de concepção de cada quadro. “Foi muito interessante essa relação, trouxe uma aproximação afetiva entre a escola e a Universidade”.
A ideia envolveu 24 acadêmicos de graduação de história e geografia, além de dois mestrandos de Geografia e Estudos Culturais e três professores preceptores. O projeto foi desenvolvido ao longo de cinco meses e concretizou com a entrega do mural para a escola, que agora será utilizado pelos acadêmicos que fazem estágio obrigatório e os próprios professores da escola estadual.
Para o coordenador, o projeto é importante para entender a escola como um espaço de aprendizagem – que não fica cercado apenas na sala de aula e pode estar inclusive na estrutura da instituição. Assim, a parede deixa de ser apenas uma parede e passa a ter significado.
“A parede se transforma em um conteúdo didático, de modo que os professores podem explorar e ministrar aulas. Não só isso, os alunos, no ato de contemplar as imagens ali representadas, podem trazer à sua cognição os elementos que estão na sua realidade local, tendo em vista que as pinturas remetem ao conhecimento regional”, conclui.
Texto: Mylena Rocha
Imagens: Arquivo Pessoal/Ricardo Batista