Sete pesquisas realizadas na UFMS foram selecionadas para participar do Catalisa ICT, iniciativa criada pelo Sebrae para aproximar a academia e o mercado por meio da oferta de capacitação em gestão, mentorias, fomento a projetos e acesso ao universo empresarial para os selecionados.
O Programa incentivou a inscrição de mestrandos, doutorandos, mestres e doutores e mil projetos em todo o país foram escolhidos para participar das próximas etapas.
“O Catalisa ICT é uma iniciativa de suma importância para o estímulo à inovação. O conhecimento e tecnologias gerados nas universidades devem ser introduzidos no ambiente produtivo e social para que de fato se efetive a inovação”, afirma Vilma dos Santos Ramos, administradora da Secretaria de Empreendedorismo e Inovação da Aginova.
Segundo Vilma, o Catalisa ICT contempla todas as etapas necessárias para que isto aconteça, “ou seja, desde a definição do objeto da pesquisa até a introdução da tecnologia no mercado, seja por meio da criação de uma empresa pelo próprio pesquisador, seja pela transferência para uma empresa existente”, complementa.
Os pesquisadores que tiveram as pesquisas selecionadas irão participar das atividades de capacitação online gratuita, com até dois meses, nas temáticas prioritárias: atitude empreendedora; inovação aberta; gestão da inovação; prospecção tecnológica e plano de inovação.
Selecionados
O professor John Carlos Mantilla, do Instituto de Física (Infi) e do Programa de Pós-graduação em Ciências dos Materiais, teve a pesquisa “Estudo das Propriedades Físicas de Óxidos Magnéticos Nanoestruturados Obtidos Por Sol-Gel e Sputtering” selecionada.
“A finalidade do meu projeto está focada em Ciências dos Materiais com ênfase no estudo de sistemas magnéticos e materiais magnéticos nanoestruturados. Ditos óxidos metálicos são interessantes pois exibem propriedades físicas e químicas amplamente exploradas em aplicações em catálise heterogênea, magneto-eletrônica e dispositivos ópticos. Temos interesse especial na aplicação catalítica de alguns desses óxidos semicondutores com estruturas de Perovskita como catalisadores para oxidação de particulados de diesel”, expõe o professor John.
O motor a diesel, explica o pesquisador, é uma fonte geradora de particulados com tamanho médio de 10nm a 100nm e, diante do fato de a frota de ônibus e caminhões nos países mais populosos utilizarem o diesel como principal combustível, há uma necessidade de se controlar os níveis de emissão de particulados.
“É importante investir na pesquisa de novos materiais com baixo custo de regeneração que consigam degradar os particulados. Assim, a combustão catalítica é um processo atrativo para converter compostos nocivos ao meio ambiente em compostos mais amigáveis. Essa pesquisa objetiva o desenvolvimento científico de novos catalisadores baseados em óxidos binários ou óxidos mistos de diferentes metais. Os novos óxidos nesse projeto, com potencial de atuarem em oxidações, serão aplicados na reação de combustão e comparados com outros óxidos na literatura”, diz.
Outro interesse é na fabricação de óxido magnéticos multifuncionais visando sua utilização na área da saúde (hipertermia magnética). “Com este projeto se pretende aprofundar o conhecimento na área do estudo de óxidos magnéticos multifuncionais, que apresentam diferentes aplicações em nível industrial. Entre os objetivos de interesse está a formação de alunos na graduação e pós-graduação para aprimorar seus conhecimentos científicos e inovadores que permitam uma melhor inter-relação entre a indústria e a universidade”, completa.
O professor Adilson Beatriz, do Instituto de Química (Inqui), incentivou dois de seus pós-graduandos orientandos, do Laboratório Sintmol, a participar da seleção. Ele destaca que essa é uma iniciativa articulada pelo Sebrae, com a parceria de entidades do ecossistema local de inovação, com o objetivo de acelerar e fomentar negócios inovadores de base tecnológica, para alavancar a geração de riqueza e bem-estar.
“Incentivei dois alunos da pós-graduação, porque são projetos com potencial para inovação/empreendedorismo. Foram selecionados na primeira etapa, que consiste na participação de curso e elaboração de propostas e, conforme o andamento em outras fases do programa, podem até chegar em um ponto em que a pesquisa pode se tornar um negócio, uma startup”, expõe.
Selma Rodrigues Costa é uma dessas pós-graduandas que obteve sucesso com a sua pesquisa “Obtenção de Bioplástico Proveniente de Celulose”, que trata da síntese de um bioplástico feito a partir de celulose proveniente das plantas taboa e camalote.
“Nós esperamos um produto inovador, pois há muito tempo existe um grande problema com o uso de plásticos convencionais e agora com os microplásticos. A ideia surgiu como resposta a esse problema, criar um produto de rápida degradação que possa atender a demanda do uso de plástico e apresentar qualidade e segurança”, explica Selma.
Para a pós-graduanda, essa é uma oportunidade maravilhosa. “Fiquei muito feliz em poder participar pois, além de acrescentar no meu desenvolvimento profissional, vou ser capacitada para lidar com as questões da inovação e do mercado”.
Também pesquisador no Sintmol, o doutorando Willian Ayala Correa teve aprovado seu projeto de pesquisa “Síntese e determinação da atividade antimicrobiana de novas Cefalosporinas produzidas a partir do ácido 7-aminocefalosporâmico (7-ACA) frente a bactérias gram-positivas e gram-negativas multirresistentes”.
O projeto tem como proposta o estabelecimento de um protocolo de cultivo de fungo com aumento da produção de metabólitos secundários específicos com baixo custo e alta produtividade, segundo o doutorando.
“A ideia consiste no domínio da técnica de produção desses insumos para autonomia científica na produção de novos antibióticos derivados do ácido 7-aminocefalosporânico. Nossa motivação partiu de um problema que se tornou evidente com a pandemia da Covid-19: a falta de insumos no país. O 7-ACA é o intermediário chave para a produção de cefalosporinas semissintéticas e o Brasil não produz este intermediário e nem os insumos farmacêuticos ativos (IFAs) provenitentes deste para a produção de antibióticos pela indústria farmacêutica. As cefalosporinas semissintéticas são antibióticos amplamente usados”, explica Willian.
Ao participar do Catalisa ICT, Willian almeja poder contribuir com o domínio da produção do 7-ACA em escala piloto, utilizando processos biotecnológicos, além de criar uma empresa inédita de base biotecnológica para o Estado de Mato Grosso do Sul.
O projeto “Produção de Óleo Vegetal, Farinha, Polpa, Bagaço e Amêndoa de Plantas Nativas do Cerrado e Pantanal do Mato Grosso do Sul”, do doutorando em Ciência dos Materiais David Machate, está relacionado com extrativismo sustentável de frutos maduros de baru e bocaiuva em parceria com as populações residentes nas áreas rurais, locais que se desenvolvem essas plantas no estado.êndoa de bocaiuva
“Este projeto poderá promover o plantio destas espécies de vegetais pelas populações nos locais de coleta e pode garantir a redução das queimadas descontroladas porque, do Cerado e Pantanal, a população terá o seu sustento. Assim, garantindo a recuperação das áreas devastadas e preservando o meio ambiente”, expõe David.
Também foram selecionados os projetos “Inteligência Artificial Aplicada no Processamento de Imagens de Sensoriamento Remoto em Áreas Urbana”, de Pedro Alberto Pereira Zamboni; “Deep Learning em Aplicações Hidrológicas Urbanas”, de Thales Shoiti Akiyama e “Controle da Qualidade em Laboratórios de Análises Clínicas”, de Wellington Santos Fava.
Texto: Paula Pimenta/Letícia Bueno