O número crescente de casos noticiados pela imprensa sobre feminicídio e violência contra a mulher levou pesquisadores do Campus de Aquidauana (CPAQ) a desenvolver um estudo sobre a violência de gênero na região Centro-Oeste. A pesquisa busca conscientizar a sociedade brasileira sobre a importância de combater esse agravante.
O estudo é coordenado pelo professor Aguinaldo Rodrigues Gomes e conta com a participação de professores e estudantes dos cursos de História, Pedagogia e da Pós-graduação em Estudos Culturais. Seu objetivo é analisar as diversas formas de violência de gênero cometidas principalmente contra as mulheres, por meio do levantamento de registros destas práticas nas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM) do estado de Mato Grosso do Sul.
De acordo com o professor, a ideia do projeto surgiu a partir de sua atuação no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Atuando em Rondonópolis, o pesquisador acompanhou a recorrência dos casos noticiados na imprensa sobre feminicídio, violência contra a mulher e a população de mulheres trans. “A partir da observação dessas situações graves, formulei o projeto em 2017 para investigar uma ampla gama de atos de violência que se manifestam contra os sujeitos considerados frágeis pela cultura machista, principalmente as mulheres”, disse.
A pesquisa foi iniciada em fevereiro de 2018 e possui dois anos e meio de duração. Dentre os resultados já obtidos pelo projeto, destacam-se a dissertação de mestrado de Ana Letícia Bonfanti, intitulado “Vidas que merecem ser protegidas: Violência Sexual contra meninas, Gênero e Educação”, para o Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMT e o trabalho de conclusão de curso da estudante Katia Rosana Hernandes, nomeado “Levantamento de dados acerca da violência de gênero na microrregião de Aquidauana/MS”, para o curso de História da UFMS.
O livro “Corpos em trânsito: existências, subjetividades e representatividades” também é fruto do projeto. “O livro objetivou reunir estudos sobre corpos que não se adequam a heterocisnormatividade de gênero e sofrem violências em função disso. A obra contou com diversos pesquisadores e instituições de pesquisas nacionais, além de ativistas gays e transexuais”, conta professor Aguinaldo.
Na atual pesquisa de campo, o levantamento de dados tem sido realizado através da coleta de documentação fotografada ou registrada nas fichas de pesquisa, entrevistas e o recolhimento de dados nas plataformas digitais dos órgãos voltados para o combate à violência contra a mulher. “Já houve uma visita preliminar na Casa da Mulher Brasileira em Campo Grande, porém, por conta da pandemia, o trabalho de campo foi suspenso. Estamos esperando a liberação para a sua continuidade. Enquanto isso, estão sendo recolhidos os dados publicados por órgãos do governo”, explica Katia Rosana Hernandes, mestranda do curso de Estudos Culturais.
A estudante ainda destaca os impactos positivos que o estudo poderá gerar na sociedade. “A divulgação dos dados faz com que se tenha a exata dimensão dos casos na região e assim possam ser adotadas medidas de proteção a essas mulheres que se encontram em situação de vulnerabilidade social”.
Segundo o coordenador do projeto, estudos sobre o tema são de extrema importância na atualidade, visto que o machismo é um agravante que promove a violência física, psicológica e patrimonial, além de outras formas de exclusão, como a desigualdade salarial, assédios no ambiente de trabalho e a insegurança no deslocamento aos espaços sociais.
“O projeto espera que a partir de sua divulgação por meio de artigos, palestras e atuação em conjunto com os movimentos, possa contribuir para conscientizar a sociedade brasileira sobre a necessidade de combater a violência contra a mulher, principalmente a violência doméstica, muitas vezes invisível”, ressalta Aguinaldo. “A educação, em seu sentido social, é o melhor meio para a prevenção e combate a violência, sendo um mecanismo eficiente na erradicação da violência contra a mulher no ambiente doméstico e familiar”.
Intitulada “Dispositivos da intolerância: discursos e práticas de violência de gênero na região centro-oeste”, a pesquisa está sendo desenvolvida pelos professores pesquisadores Miguel Rodrigues de Sousa Neto (UFMS), Helen Paola Bueno (UFMS), Raquel Gonçalves Salgado (UFMT) e Carmem Lúcia Sussel Mariano (UFMT). Também fazem parte da equipe os estudantes Ana Letícia Bonfanti, Luciel Furtado de Amorim, Ezequiel Machado Cruz, Karla Arismendi Oliva, Maria de Fátima Limeira da Silva Cunha, André Luiz Gusmão, Katia Rosana Hernandes e Marluce Balbuena Bueno.
O projeto está sendo realizado em parceria com as delegacias de atendimento a mulheres em situação de violência (DEAMS/MS) e a Casa da Mulher Brasileira, que permitem o acesso aos dados públicos sobre os casos de violência no estado.
Dentro do projeto também encontram-se outras pesquisas em andamento, como a da mestranda Gisele Paquer Camargo, do Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais da UFMS, sobre o acolhimento de mulheres transexuais no sistema de saúde nos municípios de Aquidauana e Anastácio.
Para contato ou mais informações, basta enviar um e-mail para aguinaldo.gomes@ufms.br.
Texto: Juliana Ovelar – estagiária da Agecom no CPAQ