Pesquisadores estudam novas substâncias para o combate ao Coronavírus

A corrida por fármacos que ajudem a combater o Coronavírus movimenta cientistas de todo o mundo e na UFMS mais uma frente está em atividade com o projeto de pesquisa “Preparação econômica e sustentável de novas substâncias com potencial para serem utilizadas no protocolo de tratamento da infecção pela Covid-19”.

Coordenado pelo professor Dênis Pires de Lima, do Instituto de Química (Inqui), o projeto propõe inicialmente trabalhar com análises computacionais e a síntese de análogos de substâncias conhecidas como Chalconas e Flavonóides, que são produtos naturais, principalmente isolados de plantas, e também com análogos do fármaco conhecido como Nafamostato.

“A indústria farmacêutica tem focado bastante seus objetivos no descobrimento dos novos fármacos para o tratamento, pelo menos, dos sintomas da Covid e esse processo em geral é muito longo, complexo e oneroso. Diante desse inconveniente, essa indústria tem diferentes estratégias para chegar num fármaco, com o objetivo de diminuir esse tempo, para obtenção de um composto promissor, particularmente nessas situações emergenciais. Uma dessas estratégias tem a ver com o nosso projeto, que é o desenho de fármacos assistidos por computador, que é conhecido na literatura científica como CADD (Computer Aided Drug Design), ou seja, o planejamento de fármacos assistidos por computador”, explica o professor Dênis.

O planejamento direcional de moléculas potencialmente bioativas, por meio do CADD, e a proposta de uma flexibilidade de preparação e economia de processo são consideradas indispensáveis, segundo o pesquisador.

“Com base nisso, e na situação emergencial que envolve a Covid-19, propomos a preparação desses análogos com alta potencial antiviral por meio de estudos de CADD. Já foram feitos estudos preliminares, correlacionados a análises computacionais e os compostos que planejamos computacionalmente teriam atividade. Além disso, as rotas descritas nesse projeto apresentam um baixo custo. Tem um grande potencial de escalonamento e possiblidades flexíveis de preparação, ou seja, podemos usar varias rotas para obter os mesmos compostos”, explica o professor Dênis.

Existe uma grande quantidade de estudos que avaliaram a capacidade antiviral nos produtos naturais, especificamente das classes de compostos Chalconas e Flavonoides, e que obtiveram segundo dados da literatura,  resultados muito promissores no combate a diversos tipos de vírus, tanto relacionados a RNA e DNA, por meio de estudos in vitro e também in vivo e podem atuar com diversos mecanismos de ação importantes, tendo em vista a variedade de mutações/modificações genéticas que o vírus relacionado à Covid pode acionar nessas suas infecções.

“A capacidade de atuação sob diferentes vias faz com que as moléculas de ambas as classes se destaquem como potenciais protótipos para o tratamento de infecções virais como a Covid. Foi possível observar através de estudos computacionais uma interação entre essas moléculas que planejamos e os receptores de duas enzimas conhecidas como Mpro e TMPRSS2 que atuam na replicação e reconhecimento viral, respectivamente”, expõe o pesquisador.

O Nafamostato é um fármaco utilizado para o tratamento da pancreatite aguda e, por meio da metodologia de reposicionamento de fármaco, descobriu-se então que há um potencial muito grande dessa substância no combate da Covid-19.

“Esse fármaco conseguiu prevenir a fusão do vírus às membranas das células hospedeiras, nossas células, por meio de inibição da proteína TMPRSS2. No entanto, ainda é necessária a realização dos estudos de otimização dessa substância e posterior planejamento de análogos para obtenção de antivirais mais efetivos. Daí o nosso foco no Nafamostato, além das outras classes de substâncias”.

A obtenção de análogos de Chalconas já foi iniciada, assim como as análises computacionais, e atualmente os pesquisadores estão estudando e desenvolvendo metodologias mais sustentáveis, simples, econômicas, que permitam a obtenção de uma gama de compostos com alto rendimento.

Quaisquer dessas substâncias que for preparada em boa quantidade, num processo considerado mais limpo, de menor agressão ao ambiente, será disponibilizada para a realização dos estudos com relação aos testes biológicos.

Multidisciplinar

Os estudos terão colaboração de outros pesquisadores da UFMS, do Inqui, Inbio, Famed, Facfan e em outras universidades, como a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Universidade Mogi das Cruzes (UMC), incluindo docentes, estudantes de pós-graduação e iniciação científica de diferentes áreas.

A expectativa é de quem em 36 meses já haja resultados robustos. “Nesse tempo, pretendemos preparar as substâncias almejadas, testá-las biologicamente e apresentar os resultados a comunidade científica na forma de vários meios como: artigos científicos, patentes, apresentação em eventos e na mídia de maneira geral. Acreditamos que nesse período, poderemos fornecer resultados importantes para termos protótipos de fármacos com potencial no tratamento da Covid-19”, diz o professor Dênis.

Somente depois de testes muito específicos e rigorosamente conduzidos, os pesquisadores conhecerão a possibilidade de uso e distribuição para a comunidade geral.

“Essa etapa, geralmente, é morosa, mas temos a confiança, que mesmo que os compostos não sejam utilizados de imediato, eles farão parte de um arcabouço e biblioteca de acesso para que lancemos mão na pesquisa e desenvolvimento de novas entidades moleculares com grande potencial de utilização não só no tratamento da Covid-19 como em outras eventuais pandemias passíveis de ocorrer e que já estão sendo anunciadas no meio cientifico”, completa.

De forma geral, a proposta apresenta vários aspectos relevantes de inovação metodológica e de impacto social, segundo o coordenador, tais como o fato de as rotas sintéticas apresentadas serem inéditas; são resultantes da fusão de estratégias eficientes atualmente utilizadas na indústria farmacêutica; utilizam reagentes de baixo custo e acessíveis comercialmente, ou que possam ser preparados rapidamente; são facilmente escalonáveis; são inspiradas em moléculas potencialmente bioativas, como as Chalconas e Flavonóides; tanto os intermediários quanto os produtos finais possuem potencial de serem multialvos, ou seja, atuar em vários alvos do organismo, possibilitando resolver vários problemas associados à infecção e além disso, o projeto também visa a formação de recursos humanos com competência multidisciplinar.

“A ampla divulgação dos resultados originais poderá fornecer uma base consistente para se desvendar mecanismos de ação e a relação estrutura química-atividade biológica das moléculas preparadas, tornando possível ampliar as perspectivas de obtenção de novos protótipos de fármacos para o tratamento da Covid-19. Adicionalmente, esperamos também contribuir com a inovação de métodos de preparação de várias substâncias apresentando estruturas privilegiadas, formando uma biblioteca de compostos testados nos modelos de atividade biológica programados através de novas parcerias”, enfatiza o coordenador.

Texto: Paula Pimenta

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