Foto: Francisco Valente Neto

Pesquisadores alertam para colapso de comunidades em florestas tropicais

Potenciais “sinais de alarme” que antecedem colapsos de comunidades em florestas tropicais foram avaliados por grupo de pesquisadores e recém-publicados no artigo “Warning signals of biodiversity collapse across gradients of tropical forest loss” na Nature: Scientific Reports.

Entre os autores, está o professor Fabio de Oliveira Roque, ligado ao Instituto de Biociências nos programas de Graduação em Ciências Biológicas e Pós-Graduação em Biologia Animal e Ecologia e Conservação.

“O artigo apresenta uma revisão sobre comunidades animais que apresentam perdas de espécies de forma abrupta em determinado nível de desmatamento. A principal contribuição do trabalho se refere à tentativa de prever estes colapsos  a partir da análise de variabilidade dos sistemas. O artigo explora como estas informações podem ser úteis para conservação da biodiversidade”, expõe o professor.

Foram avaliados possíveis sinais de alerta que podem ajudar a identificar a proximidade das comunidades ecológicas com os limiares da biodiversidade com a perda de habitat, ou seja, “pontos de inflexão” – nas florestas tropicais.

“Testamos a ideia geral que, antes de colapsos de comunidades (perda abrupta de espécies) ao longo de gradientes de desmatamento de florestas tropicais, valores de medidas de biodiversidade (exemplo, a riqueza e composição de espécies)  variam mais fortemente entre as áreas. Nossa abordagem abre novas janelas para se testar outras medidas, como por exemplo, “o tempo de recuperação aos distúrbios” – uma medida esperada por aumentar antes de colapsos”, explica Fabio.

O grupo de pesquisadores focou esforços no entendimento de colapsos de comunidades animais ao longo de gradientes de perda de vegetação nativa. Segundo o professor, a conversão de habitats é a principal causa de perdas de biodiversidade nos trópicos, contudo espécies invasoras, mudanças climáticas, fragmentação de habitats, caça e superexploração também figuram entre as causas de perda de biodiversidade em nível global.

Todos os grupos – insetos aquáticos, anfíbios, aves e mamíferos – apresentaram limiares de extinção em diferentes níveis de desmatamento, entretanto anfíbios foram os mais afetados na floresta atlântica brasileira e nas comunidades amazônicas de mamíferos e aves, “sugerindo que mudanças iminentes em algumas assembleias de espécies podem ser previsíveis”.

Foram encontradas diferenças nas respostas de grupos, como exemplos mamíferos e aves, da Mata Atlântica e da Amazônia. “Provavelmente estão relacionadas com os históricos de mudanças de usos do solo nas áreas estudadas. Ainda é cedo para grandes generalizações sobre isto”, diz.

O professor Fabio destaca que a principal mensagem do artigo é “não desmatar as florestas tropicais abaixo de níveis de risco de limiares de extinção, pois este fenômeno não é linear e causa perdas desproporcionais de espécies e serviços ecossistêmicos. Restaurar paisagens para atingir níveis acima dos limiares também é um caminho importante”.

Para o artigo, os pesquisadores trabalharam com base em dados publicados em revistas da área de biodiversidade e conservação.  “Os estudos de ecologia na região Neotropical, particularmente no Brasil, estão entrando numa fase mais madura, na qual temos mais condições de fazer sínteses a partir de dados já publicados. Além disso, podemos contribuir mais fortemente com informações para orientar tomadas de decisão em conservação e planejamento regional”, completa.

Acesse o artigo em https://www.nature.com/articles/s41598-018-19985-9.