Deflagrada pela Polícia Federal em março deste ano, a Operação Carne Fraca, que apontou problemas em lotes de carnes vendidas no mercado interno e externo, mexeu com a credibilidade da qualidade do produto e gerou uma redução de 20,8% do consumo de carne bovina no país.
Esse percentual é resultado da pesquisa realizada pelos professores Filipe Quevedo-Silva e Caroline Pauletto Spanhol Finocchio, da ESAN, e o professor Otávio Freire, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, para saber qual foi o real impacto da Operação para o consumidor brasileiro.
“A ideia inicial era a de pesquisar marcas de carne no Brasil, porque anos atrás não tínhamos nomes fortes relacionadas a esse produto, mas isso vinha mudando. Contudo, no meio desse processo aconteceu a Operação Carne Fraca. Por isso, decidimos tentar entender como as notícias publicadas teriam afetado a percepção do consumidor, a confiança em relação ao consumo de carne bovina”, explica o professor Filipe Quevedo-Silva.
Na semana posterior à operação, realizada em 17 de março, foi iniciada a pesquisa “Carne Fraca, Risco e Varejo de Carne Bovina: efeitos da mídia sobre o consumidor brasileiro”. Pouco mais de 400 pessoas foram entrevistadas em todo território nacional, em coleta online, com cerca de 40 perguntas, estratificada por consumo per capita de carne, de forma que bem representasse o consumidor brasileiro.
A pesquisa identificou que 98% das pessoas haviam ouvido falar da Operação Carne Fraca e 68,4% associaram as notícias a uma crise nacional no sistema de produção.
“Perguntamos aos que viram essa situação como crise, como isso afetava sua percepção de risco ao comer carne, como afetava a avaliação da carne, em uma métrica que apontava questões como qualidade, segurança, produção segura e limpa, intenção de compra, se comeriam com a mesma frequência, se manteriam as mesmas marcas, entre outras variáveis”, diz o professor.
Abalo
O principal motivador para a diminuição na intenção de consumo é a percepção de risco associada à carne. “As pessoas que tinham visto algum tipo de mídia falando sobre a crise, de alguma maneira, foram significativamente afetadas na sua percepção de risco, diferentemente daquelas que tinham visto menos notícias. Isso mexe com a avaliação da carne e, por consequência, com a avaliação de compra”, aponta.
Esse mecanismo de ver a notícia e não querer consumir é mediado pela percepção de risco, segundo Filipe.
“Na verdade, o que foi afetado realmente foi a percepção de risco, de segurança alimentar em comer carne bovina, e isso acaba desencadeando as respostas de consumo, com uma redução de aproximadamente 12% na intenção de consumir a carne bovina em função das notícias sobre a crise”, completa o professor.
Uma variável apresentada na pesquisa foi o ceticismo em relação à mídia, que atinge 55% dos entrevistados. “Por conta de tudo o que está acontecendo, algumas pessoas têm uma posição mais cética em relação ao papel da mídia e assim essa pessoas também acabaram por ser menos afetadas, independente de consumir carne bovina, ou não. Alguns já apresentam uma tendência de achar que a mídia exagera ou é mentirosa”.
E tem ainda os que acham que vale a pena correr riscos para comer o “churrasco de fim de semana”, cerca de 66% dos entrevistados.
Por último, o professor enfatiza que a confiança em algumas marcas, que estava sendo construída ao longo dos anos, vai demorar para ser reestabelecida.
A proposta é repetir a pesquisa dentro de seis meses e um ano após a operação, para saber qual o comportamento dos consumidores ao longo do tempo.