Vivida entre o final do século XIX e início do século XX, a belle époque corumbaense inspira pesquisadores a descobrir como todo o potencial socioeconômico desse período foi paulatinamente substituído por um processo de declínio da região que, mesmo não vivenciando mais seu tempo áureo, ainda hoje é imprescindível para o desenvolvimento da Bacia do Prata.
Essas e outras questões serão estudadas durante dois anos pela pesquisa “Integração Sul-Americana e o papel estratégico de Corumbá (MS) na rede urbana da Bacia do Prata”, aprovada no edital Universal da Fundect-MS.
“O objetivo central desta proposta de investigação é o de demonstrar que o sucesso no processo de Integração Sul-Americana também passa pela revalorização de Corumbá e sua região como elo estratégico no conjunto da rede urbana da Bacia do Prata e é imprescindível compreender as condicionantes geográficas que concorreram para o processo de declínio econômico de Corumbá, sobretudo, a partir da segunda metade do século XX”, explica a coordenadora da pesquisa, professora do curso de Geografia do Câmpus Pantanal, Elisa Pinheiro de Freitas.
A pesquisa será desenvolvida por uma equipe multidisciplinar composta por professores e pesquisadores da UFMS, Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) que participam do Centro de Análise e Difusão do Espaço Fronteiriço (CADEF), grupo que investiga o Movimento Espacial da Fronteira há mais de 15 anos.
Os trabalhos iniciam-se com amplo levantamento de dados já produzidos por diferentes órgãos oficiais que deverão ser separados e sistematizados.
“A pesquisa também prevê um estudo comparativo da cidade Corumbá com outras cidades sul-americanas que estão situadas no contexto da Bacia do Prata e deve observar quais fatores dinamizam as economias daquelas cidades para entender as particularidades de Corumbá. Para tanto, está prevista a realização de trabalho de campo em Porto Murtinho (MS), Ponta Porã (MS), Puerto Quijarro/Puerto Suarez (Bolívia), Concepción (Paraguai), entre outras”, afirma a professora do CPAN.
Todo esse estudo resultará em um livro para a difusão do conhecimento produzido, produto de grande interesse para diversas cidades da Bacia do Prata, a segunda maior bacia hidrográfica do Brasil e que se estende também pelo Uruguai, Bolívia, Paraguai e Argentina.
Linha do tempo
A história é o ponto de partida. Navios estrangeiros e nacionais, pessoas e mercadorias por décadas movimentaram o então maior porto fluvial da América do Sul e a cidade de Corumbá, que por muitos anos simbolizaram um dos principais eixos econômicos da integração sul-americana.
“Quando se inicia o declínio, a hipótese mais interessante mostra que tal fato teve a ver com a industrialização no Estado de São Paulo, fazendo com que o Mato Grosso do Sul participasse da divisão territorial do trabalho numa condição subordinada às demandas da economia paulista. Esse processo foi acelerado com a construção da Estrada de Ferro Noroeste que ligou São Paulo a Corumbá (MS)- Santa Cruz (Bolívia). Evidente que recorrer às dinâmicas próprias dos tempos pretéritos é essencial para a compreensão do que se passa hoje nessa cidade de caráter cosmopolita, mas que padece de uma série de inércias seja no plano econômico, político, entre outras”, avalia a professora Elisa.
Mas o futuro também é alvo da pesquisa que pretende elucidar os fatos que aprofundam a desaceleração da região.
“Um problema que é histórico é a questão do mercado imobiliário. Há uma demanda por moradias, não apenas para os setores populares, mas também para outros setores sociais que têm enorme dificuldade em permanecer na cidade, em decorrência dos preços abusivos dos alugueis. Essa questão é histórica, por exemplo. E acreditamos que o aprofundamento da Integração Sul-Americana será vital para Corumbá por conta dos investimentos em infraestrutura previstos na Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA)”, exemplifica a pesquisadora.
Outra questão a ser levantada é com relação à hidropolítica na região da Bacia do Prata, fazendo-se necessário aprofundar as pesquisas devido às possíveis futuras disputas por água e por outros recursos minerais abundantes na região de Corumbá.
“Também queremos saber que forças atuam para impedir (ou avançar) na criação de uma Zona de Livre Comércio tendo, em Corumbá, um polo dinâmico da fronteira oeste do território brasileiro. E por fim, investigar quais têm sido as principais ações do Governo Federal para a reativação de investimentos nos terminais portuários de Corumbá/Ladário com vistas a superar a capacidade ociosa que existe atualmente”, finaliza.