Resultados preliminares apontam Pilates na melhora da saúde física e mental de gestantes de alto risco e sobreviventes de câncer de mama

Efeitos dos exercícios do método Pilates sobre os índices glicêmicos, sintomas urinários e sexuais, mobilidade e qualidade de vida de mulheres com diabetes Mellitus gestacional e na sexualidade, autoestima e qualidade de vida de mulheres sobreviventes do câncer de mama são estudados em pesquisas desenvolvidas no curso de Fisioterapia da UFMS.

O método foi desenvolvido por Joseph Hubertus Pilates, no início da década de 1920, em um programa que envolve condicionamento físico e mental, com exercícios físicos e alongamento, que muitas vezes utiliza o peso do próprio corpo na execução, com trabalho diferenciado da respiração.

“É um método criado há muito tempo mas que, agora, faz mais sucesso. Trabalha a integralidade, alongamento, fortalece, melhora a respiração, o posicionamento correto da coluna”, explica a professora Ana Beatriz Gomes de Souza, coordenadora das pesquisas, iniciadas em 2017 e que têm a participação de acadêmicos bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica (Pibic).

O projeto que trabalha com mulheres sobreviventes do câncer de mama é uma parceria com o Hospital do Câncer Alfredo Abraão e a Associação Brasileira de Assistência as Pessoas com Câncer (Abrapec), responsáveis pela triagem dos pacientes.

São mulheres que já passaram pela cirurgia, tratamento de radioterapia e/ou quimioterapia e que agora realizam hormonioterapia. As que estão em tratamento clínico ou internadas não podem participar do estudo, mas recebem fisioterapia motora e respiratória à beira do leito, segundo a professora Ana Beatriz.

A pesquisa com o Pilates é resultado de um primeiro projeto que promoveu o diagnóstico dessas mulheres, para conhecer o perfil de cada uma, as necessidades de saúde, a qualidade de vida, publicado na revista Mastology, da Sociedade Brasileira de Mastologia. “Queríamos saber como poderíamos ajudar e descobrimos que essas mulheres, que retiram a mama e usam o hormônio antiestrogênico, têm muitos sintomas de disfunção sexual, perda da autoestima e da feminilidade”, explica a professora.

Muitas das mulheres apresentam também dispareunia (secura vaginal), incontinência urinária e vergonha do parceiro pela retirada da mama. “Por isso, elencamos o Pilates, que é um método que trabalha o core, que é a musculatura, abdômen, assoalho pélvico e coluna, além da respiração, fluidez dos movimentos, concentração, postura, ou seja, é um método completo”, diz.

As pacientes fazem exercícios no solo, com bola, colchonete. Resultados preliminares apontaram que a força da musculatura do assoalho pélvico melhorou após os exercícios de Pilates, assim como o índice da função sexual, lubrificação vaginal, orgasmo e satisfação.

Além da condição física, foram analisados os aspectos emocionais, também bem avaliados, já que a liberação de endorfina pelo exercício melhora o bem estar, principalmente porque as pacientes fazem amizades, trocam informações e experiências, sentindo-se acolhidas e cuidadas por um período.

“No outro grupo controle, em que as mulheres não fizeram o Pilates, houve piora da condição emocional e físico-funcional”, afirma Ana Beatriz. Trinta e sete mulheres já participaram do projeto, que é ofertado gratuitamente, em dez semanas de atividades, com a participação de acadêmicos do curso de Fisioterapia do 3º, 7º e 9º semestres.

Após participarem do projeto de pesquisa, essas mulheres podem dar continuidade às atividades no estágio Saúde da Mulher do curso de Fisioterapia, realizado na Clínica Escola Integrada.

Gestantes

Gestantes de alto risco, com diabetes Mellitus ou hipertensão, são público alvo do outro projeto de pesquisa. Elas são encaminhadas ao projeto pelos médicos obstetras do Hospital Universitário.

As gestantes se reúnem toda quarta-feira no HU, das 7h às 19h, para serem monitoradas no controle de glicemia e pressão. Recebem tratamento com nutricionista para elaborar e oferecer dieta adequada e durante à tarde participam das atividades de cinesioterapia com base no método Pilates em uma sala da maternidade.

“Elas, em geral, têm sobrepeso. Na gestação, o sistema nervoso está muito influenciado pela progesterona – depressor desse sistema – então elas apresentam uma certa resistência  as práticas corporais, mas as que estão praticando acabam contagiando as outras. Além disto não é qualquer  exercício que pode ser realizado na gestação”, diz a professora.

Além de responderem a questionários, e passarem pelo controle constante da glicemia e da pressão artérial, as gestantes são avaliadas quanto à mobilidade, qualidade de vida, energia para as atividades, grau de felicidade, apoio emocional em casa, aparência pessoal, realização e dados sociodemográficos.

Entre os questionários aplicados está o nórdico de sintomas osteomusculares, em que as gestantes indicam quais os locais de dor, e o referente a questões sobre ansiedade e depressão, que avalia a  tensão ou se sentem contraídas, se possuem sensações ruins ou aperto no estômago, além da avaliação de incontinência urinária e vida sexual. Iniciado este ano, 15 gestantes fizeram as sessões de Pilates e novo grupo será oferecido em agosto.

“Os exercícios de Pilates são indicados na gestação por serem uma atividade de baixo impacto, que trabalha a musculatura das regiões mais sobrecarregadas nesse período: a pelve e a coluna. Os efeitos são benéficos sobre as dores na coluna, na região do nervo ciático, melhora da incontinência urinária, e aquelas que já tiveram filho afirmam que os exercícios em muito ajudaram no parto normal, devido o trabalho feito na mobilidade do quadril, no movimento pélvico”, expõe a fisioterapeuta.

Depois dos exercícios, os profissionais de saúde registram redução do índice glicêmico nas gestantes, uma das grandes dificuldades que enfrentam já que possuem resistência a insulina. O diabetes, quando não controlado, apresenta problemas graves podendo causar transtornos materno-fetal.

“O diabetes é uma doença muito dependente do estilo de vida. O exercício pode prevenir ou mesmo tratar juntamente com a dieta e medicamentos. Essa é uma das principais causas da mortalidade materna, assim como a hipertensão, por isso deve ser bem controlada”, afirma Ana Beatriz.

O curso de Fisioterapia também oferece continuidade das atividades às mães com a ginástica hipopressiva pós-parto.

Paula Pimenta