Na manhã desta quinta-feira, 8, foi realizada uma das lives mais aguardadas do Integra UFMS. Professores e pesquisadores da Universidade se reuniram de forma virtual para tratar do tema “Queimadas em áreas úmidas: consequências e ações de enfrentamento”.
O debate mediado pelo doutorando em Ecologia e Conservação pela UFMS, Bruno Henrique Ferreira, teve a participação dos professores Arnildo Pott, Danilo Bandini Ribeiro, Geraldo Alves Damasceno Júnior e Paulo Eduardo Teodoro.
Este ano, o Pantanal enfrentou uma das secas mais severas dos últimos 50 anos.
O professor visitante da UFMS Arnildo Pott apresentou algumas espécies da flora pantaneira e comentou sobre as observações feitas durante os mais de 40 anos de andanças pelo Pantanal.
“Desde quando o Pantanal queima? Desde quando ele existe”, assim o professor Arnildo começou a explanação sobre a seca e as consequências para a região pantaneira. Segundo ele, as pessoas fazem muita confusão sobre o que é Pantanal, bacia, alta bacia, o que é planície, e assim por diante.
Ao comentar sobre a flora pantaneira, ele lembra de espécies que pegam fogo com facilidade. “Quando é palmeira, aquilo é um convite para incêndio, é muito combustível. O babaçu, o carandá, morrem? Não. Vai dizer que gosta de fogo? Menos. Mas só morre se queimar o palmito que é a gema apical”, explica o pesquisador.
Ao comentar a seca severa, o professor diz que o Pantanal é um ambiente complexo. “Dentro dessa complexidade de ambientes, à beira do rio, nós já podemos ver uma zonação, uma sucessão. E o rio vai cavando de um lado e depositando do outro, então esta floresta ripária, ela está acostumada a essa dinâmica, acostumada entre aspas. E muito do que tinha água permanente aqui, 270 dias, este ano não teve, secou. Corixos secaram. Todo esse material orgânico é combustível”, explica o professor ao comentar sobre os incêndios no Pantanal.
O professor Paulo Eduardo Teodoro, do campus de Chapadão do Sul, utiliza o sensoriamento remoto para detectar focos de calor. Durante a live, ele apresentou dados comparativos entre 2016 e 2020.
“Em 2016, em Porto Murtinho e Corumbá, observamos bastante focos nessa região. Em 2017, não observamos tantas mudanças em relação a 2016. O ano de 2018 foi mais animador, nós tivemos uma redução nesse número de focos de calor ao longo do ano. Em 2019, nos preocupamos muito com esses focos de calor que ocorreram no nosso bioma Pantanal, tanto que foi em 2019 que o governo emitiu decreto que proibia qualquer tipo de queimada no Pantanal, e esse ano ele voltou a emitir novamente este decreto”.
O pesquisador alerta que este ano ainda vão aparecer novos focos de calor. “2020 está sendo um ano bem atípico, e esse número de focos de calor tem se mostrado extremamente alto na região de Mato Grosso, e isso preocupa muito, nós temos várias consequências diretas e indiretas”, comenta o professor Paulo Eduardo.
Para o professor Geraldo Alves Damasceno Júnior, não é possível ligar a situação enfrentada pelo Pantanal às mudanças climáticas. “A gente não tem muitos dados para dizer que as mudanças climáticas estão causando isso ou não. A gente teve períodos de seca semelhante ao que está acontecendo agora na década de 60, quando não tinha desmatamento e quando as mudanças climáticas não estavam assim tão acentuadas”, esclarece.
O professor Danilo Bandini Ribeiro, coordenador do projeto Noleedi, iniciativa que estuda o efeito do fogo na biota do Pantanal sul-mato-grossense e sua interação com os diferentes regimes de inundação, diz que evitar o fogo em um ecossistema como o Pantanal é uma ilusão. “Você nunca vai conseguir evitar 100% do fogo no Pantanal, você pode no máximo adiar o fogo, aí vai acumular biomassa e quando o fogo vier vai ser muito mais intenso, muito mais destruidor”.
Segundo o pesquisador, o manejo do fogo é necessário, porque não existe a alternativa de acabar com o fogo no Pantanal. “Uma alternativa talvez seja substituir a vegetação do Pantanal por exóticas, mas o efeito para a biodiversidade é muito pior, a gente não quer isso, a gente quer é preservar o Pantanal”. Para Danilo, uma prática ruim é pôr fogo no final da estação seca, quando tem muita biomassa acumulada, e fica difícil de controlar o fogo.
“O bom manejo são as queimas controladas, no início da estação seca ou em períodos de estiagem, durante a própria estação chuvosa ou até mesmo existem técnicas de pôr fogo na hora mais quente do dia, pois o fogo se extingue naturalmente”, finaliza.
O Integra UFMS 2020 continua até sexta-feira, 9. A programação completa pode ser acessada em integra.ufms.br. As transmissões estão sendo feitas ao vivo pelo canal da TV UFMS, pela Rádio Educativa UFMS e também na página da UFMS no Facebook.
Texto e imagens: Miriam Valadares