Projeto Noleedi será apresentado ao público na SBPC

A 71ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) será o local para o lançamento público do “Projeto Noleedi – Efeito do fogo na biota do Pantanal sul-mato-grossense e sua interação com os diferentes regimes de inundação”.

O professor da UFMS Danilo Bandini Ribeiro, coordenador do Projeto Noleedi, irá ministrar a palestra “Efeitos do fogo na biota do Pantanal sul-matogrossense e sua interação com os diferentes regimes de inundação” no dia 24 de julho (quarta-feira), às 15 horas e 40 minutos, no auditório Cerrado.

Efeito do fogo no Cerrado e Pantanal, na Terra Indígena Kadiwéu

Coordenador do projeto Noleedi, professor Danilo Bandini Ribeiro, confere GPS com brigadistas da Terra Indígena Kadiwéu. Foto: Divulgação/Fernanda Prado

O fogo pode ser considerado um distúrbio ao meio ambiente que pode prejudicar algumas e beneficiar outras espécies. Ambos resultados dependerão da época, intensidade e frequência sendo que seu uso indiscriminado tem levado à grandes prejuízos ambientais em escala global. Por outro lado, os incêndios naturais são componentes integrais dos ecossistemas e, tradicionalmente, povos indígenas têm utilizado o fogo para manejo das culturas e para caça. Portanto, existe uma demanda urgente de definição da época e intensidade ideais de prescrição do fogo em locais sob diferentes condições ambientais como, por exemplo, regimes de inundação.

Incêndios são responsáveis por aproximadamente um quarto da perda de florestas no mundo. No Brasil, o impacto expresso pela intensidade, frequência histórica e sazonalidade do fogo na vegetação nativa ainda é pouco conhecido. Embora a biota¹ do Cerrado esteja adaptada ao fogo, incêndios antropogênicos (derivados de atividades humanas) ou queimadas em períodos indevidos podem prejudicar a reprodução sexuada de algumas espécies, por meio da queima de diásporos2 ou perda da viabilidade de sementes. Pode ainda estimular a germinação de outras espécies aumentando a riqueza e a abundância destas. No entanto, a exclusão do fogo pode, a curto prazo, gerar o acúmulo de biomassa e potencializar a intensidade de futuros eventos de fogo, o que dificulta sua contenção.

O “Projeto Noleedi – Efeito do fogo na biota do Pantanal sul-mato-grossense e sua interação com os diferentes regimes de inundação” é uma iniciativa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), aprovada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que está pesquisando os efeitos do fogo no Cerrado e Pantanal. O projeto é executado na Terra Indígena Kadiwéu, que possui cerca de 540 mil hectares localizados no norte do município de Porto Murtinho, sudoeste de Mato Grosso do Sul.

Ao longo de 36 meses o projeto pretende gerar dados sobre os efeitos do fogo ocorrendo em diferentes épocas (precoce, modal e tardio) na biota da região; verificar a interação dos diferentes padrões de inundação com os efeitos do fogo sobre alguns grupos-chave da biota local; criar de forma cooperativa e com o envolvimento de agentes do Estado, populações tradicionais e pesquisadores um protocolo de manejo do fogo e também um protocolo de avaliação de impactos de incêndios na biota e avaliar o manejo do fogo como uma estratégia de restauração passiva, além de identificar traços que permitam selecionar espécies com potencial para serem utilizadas na restauração de ecossistemas sujeitos ao fogo, de modo a garantir recursos para a manutenção da fauna e o sucesso no recrutamento de novos indivíduos. Também será conhecido o efeito do fogo sobre a reprodução de espécies da flora utilizadas pela comunidade indígena.

Pesquisando o fogo

Desta maneira, o “Projeto Noleedi” objetiva avaliar os efeitos da queima precoce, modal e tardia na biota, adotando como indicadores os grupos utilizados no programa Monitora do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio): aves, mamíferos, borboletas e moscas frugívoras e plantas vasculares. Para isso, os regimes de queima prescrita e controle serão estabelecidos em 20 áreas de 600mx600m com maior ou menor influência do alagamento e do fogo. Todos os grupos serão amostrados antes e após a queima controlada, para estabelecer a época mais oportuna de prescrição do fogo como ferramenta de manejo para a região.

A iniciativa investigará o efeito dos diferentes regimes de fogo e inundação sobre variáveis da biota de riqueza, abundância, composição, diversidade, desenvolvimento estrutural, fenologia6 reprodutiva de espécies de plantas de interesse da comunidade, sua produtividade e germinação de sementes, além do efeito sobre parâmetros físico-químicos do solo.

“O projeto pretende estudar o efeito do fogo e da inundação nos seres vivos do Pantanal e da Bacia do Alto Paraguai. Ele é um projeto diferente por vários motivos, primeiro por estar sendo feito dentro de uma Terra Indígena, que é uma área pouco estudada, apesar de ser uma área bem grande, e também porque ele não vai ver apenas o efeito pós-fogo, a gente vai manejar o fogo para tentar usá-lo como aliado na preservação. Pretendemos ao final do projeto fazer um protocolo de prescrição de queima de modo que afete o mínimo possível os seres vivos, evitando grandes incêndios acidentais que destroem, além da diversidade dos animais e das plantas, também as áreas de produção, as edificações e tudo mais”, afirma o coordenador do projeto e professor do Instituto de Biociências da UFMS, Danilo Bandini Ribeiro.

A pesquisa poderá servir de base para estudos e intervenções em outras regiões do Pantanal, Terras Indígenas que tenham essa mesma demanda e demais áreas úmidas continentais do Brasil e do mundo influenciando, inclusive, políticas públicas. Do ponto de vista científico, o projeto trará novos resultados sobre o efeito do fogo na biota e as possíveis interações entre o fogo e o regime de inundação do Pantanal. Também serão divulgados resultados inéditos sobre a distribuição temporal de borboletas frugívoras na região do Pantanal e a influência do tempo de inundação na distribuição espacial e temporal destes insetos. Os resultados inéditos serão divulgados na forma de dissertações de mestrado e teses de doutorado, artigos científicos em revistas especializadas e reportagens jornalísticas.

O Projeto Noleedi foi submetido pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e aprovado na “Chamada CNPq/Prevfogo-Ibama Nº 33/2018 – Pesquisas em ecologia, monitoramento e manejo integrado do fogo”, lançada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Prevfogo-Ibama. Com o edital, o CNPq visa propiciar a atuação conjunta com o Prevfogo-Ibama na consecução de projetos de pesquisa científica, tecnológica e/ou de inovação aplicados que visem preencher as lacunas de conhecimento sobre manejo integrado do fogo, com destaque para ecologia e impactos do fogo, monitoramento, prevenção e combate de incêndios florestais, nos biomas Amazônia, Pantanal e Cerrado, preferencialmente nas áreas em que o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) atua.

Executado pela UFMS e pelo Prevfogo-Ibama, o Projeto Noleedi tem duração de 36 meses e iniciou suas atividades em janeiro de 2019. Conta com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e parceria de diversas instituições: Semagro (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul), Fertel (Fundação Estadual Jornalista Luiz Chagas de Rádio e TV Educativa de Mato Grosso do Sul), Funai (Fundação Nacional do Índio), Programa Corredor Azul/Wetlands International/Mupan (Mulheres em Ação no Pantanal), Terra Indígena Kadiwéu e Rede Aguapé de Educação Ambiental do Pantanal.

Projeto Noleedi na 71ª Reunião SBPC

O Projeto Noleedi contará com estande próprio durante todos os dias da 71ª Reunião a SBPC, de 21 a 27 de julho, onde o visitante poderá conversar com pesquisadores e brigadistas da Terra Indígena Kadiwéu que integram a equipe do projeto, conferir vídeos e áudios, informações de instituições parceiras, além de conhecer artefatos utilizados em campo e o artesanato Kadiwéu.

Além da palestra do professor Danilo Bandini Ribeiro, outros pesquisadores do projeto e integrantes da Terra Indígena Kadiwéu também integrarão mesas redondas, debates e minicursos que tratam de temáticas relevantes ao projeto. Confira:

Mesa-Redonda: FOGO, INUNDAÇÃO E VEGETAÇÃO NO PANTANAL (SBB) (Sênior)

Sexta-feira, 26/7/2019 – das 15h30 às 18h

Coordenador e palestrante: Geraldo Alves Damasceno Junior (UFMS)

Palestrantes: Alexandre de Matos Martins Pereira (IBAMA) e Edna Scremin-Dias (Fundect-MS)

Multiuso 1 – Bloco 15 – sl. 009

Minicurso: MC-44 – OFICINA DE CERÂMICA INDÍGENA (NEABI/UFMS) (Sênior)

Ministrantes: Antonio Hilário Aguilera Urquiza (UFMS), Viviane Luiza da Silva (UofM) e Creuza Virgílio (AMAK)

Ementa: História da cerâmica indígena de Mato Grosso do Sul contada pelas/pelos palestrantes, com ênfase na correta utilização dos materiais e métodos para confecção dos potes de cada etnia

Público-alvo: Geral

FAED – Bloco 8 – sl. de desenho 2

De 22/7/2019 à 25/7/2019 – das 8h às 10h

Encontro: BIOECONOMIA: NOVO PARADIGMA DE DESENVOLVIMENTO PARA MATO GROSSO DO SUL – RESULTADOS E PRÓXIMOS PASSOS – SEMAGRO/GOV MS (UFMS, SEBRAE)

Terça-feira, 23/7/2019 – das 14h às 18h

Coordenadora: Marina Hojaij Carvalho Dobashi (Semagro)

Inbio – Bloco 18 – sl. 215 (2º pav)

Mesa-Redonda: COMO CONSERVAR AS PLANTAS ALIMENTÍCIAS NATIVAS E FORTALECER O DESENVOLVIMENTO LOCAL? (Sênior)

Quarta-feira, 24/7/2019 – das 15h30 às 18h

Coordenadora e palestrante: Ieda Maria Bortolotto (UFMS)

Palestrantes: Fernanda Savicki de Almeida (Fiocruz) e Nathália Eberhardt Ziolkowski (Ecoa)

Fadir/Faeng – Bloco 3 – sl. 801

Fonte: Projeto Noleedi (UFMS/Prevfogo-Ibama)