Doenças emergentes, em especiais as arboviroses, que incluem o vírus da Dengue, Zika, Chikungunya e Febre Amarela, assombram com os números de vítimas, mas especialmente pela prospecção de disseminações futuras ainda recorrentes. O cenário atual e o que nos espera foi o mote da mesa-redonda que reuniu importantes especialistas no tema.
Homenageada como uma das dez principais pesquisadoras em 2016 pela conceituada Revista Nature e pela TIME entre as 100 pessoas mais influentes em 2017 na categoria de pioneiros pela atuação na epidemia de Zika no Brasil, a pesquisadora Celina Maria Turchi Martelli abriu suas considerações destacando “o absurdo, em pleno século XXI, de uma epidemia de casos de bebês com microcefalia, que se mostraram resultado do contágio das mães pelo Zika vírus”.
A declaração de emergência no caso do Zika vírus, em 2015, foi muito importante do ponto de vista de ação para que todos os procedimentos passassem a feitos de uma forma mais rápida, segundo a pesquisadora.
“Da notificação até o reconhecimento da doença foi um período muito difícil, houve todo um embate. Mas a confluência exitosa aconteceu por profissionais de saúde, gestores e pesquisadores trabalharem juntos. E é importante destacar a ação dos profissionais que estavam no atendimento e que notificaram a existência do aumento do número de casos de microcefalia em crianças nascidas no Recife, à época, onde foi notificado um número acima da média de casos”, explica a pesquisadora.
Entre 2015-2016 houve quase 10 mil casos de síndrome congênita do Zika, com 20% confirmados. No caso do contágio do Zika vírus, assim como em outras arboviroses, o maior número de casos concentra-se entre as pessoas com menor poder aquisitivo e que vivem em locais de pobreza, de vulnerabilidade, apontando a desigualdade na distribuição.
Nas cidades, a presença de grande quantidade de vetores Aedes aegypti, a mudança climática, com aumento da temperatura, a teratogênese fetal, a possibilidade de transmissão sexual e mais recentemente a identificação de evidências do vírus Zika no Brasil em primatas, leia-se São Paulo, continuam como alertas. “Esse é um assunto que interessa e ainda ameaça muito as populações de áreas vulneráveis”, aponta Celina.
A circulação do vírus diminuiu, mas segundo pesquisadores é preciso estar preparado para uma possível reemergência. “Ainda é uma ameaça à saúde pulica, por isso precisamos saber, por exemplo, o que está sendo feito para melhorar o diagnostico dessas arboviroses, como manter o atendimento a essas crianças, se estamos preparados para uma nova epidemia, como está a produção de vacina”.
Coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Presidência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o
professor da UFMS Rivaldo Venâncio da Cunha destacou que essas doenças são velhos problemas que, infelizmente, não estão sendo superados ao longo do tempo.
Caso da Febre Amarela, destacou o pesquisador, ficavam mais restrita à região Amazônica e nos últimos anos assustou as populações de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e que se projeta para o Rio Grande do Sul.
De 1980 a 2016, foram registrados no país 800 casos de Febre Amarela Silvestre, número que chegou a 2950 casos em 2018.
“Como explicar a rapidez e a magnitude dessa Febre Amarela? Há uma conjunção de fatores, como as mudanças ambientais e climáticas intensas, o aquecimenro global, seca histórica na Região Nordeste, tragédia ambiental de Mariana, expansão da fronteira agrícola no Maranhão, Tocantins , Piaui e Bahia, demora nas ações voltadas para os eco-turistas, vacinação tardia dos trabalhadores rurais que vivem próximos as áreas de florestas, falência na comunicação social sobre a efetividade da vacina, tudo isso somado a uma possível mutação viral”, expõe o pesquisador.
Os cenários de Dengue e Chikungunya também foram apresentados pelo professor Rivaldo que afirmou estar falido o atual modelo de controle dos vetores urbanos. “Sem novos aportes tecnológicos continuaremos convivendo com epidemias de arboviroses, assim como enquanto convivermos com esse Apartheid social de difícil controle. Por isso educação, ciência e tecnologia são investimentos que precisam continuar sendo feitos”, afirmou.
Paula Pimenta