Pesquisa estuda consumo de insetos por seres humanos

As projeções de uma população mundial acima de nove bilhões de pessoas em 2050 movimentam estudos, ainda incipientes, sobre o consumo de insetos por humanos como forma de suprir a futura insuficiência na produção de proteínas.

Professora Thelma Lucchese, coordenadora da pesquisa

Nessa linha, que converge com o Programa de Insetos Comestíveis da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), um grupo multidisciplinar de professores da UFMS, Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP) e Université de Nantes reuniu-se na inovadora pesquisa “Consumo de Insetos por Humanos”, coordenada pela professora Thelma Lucchese da ESAN.

A ONU estima que mais de dois bilhões de pessoas em todo o mundo já suplementam suas dietas com insetos, em especial nos países do Oriente. Mas essa realidade ainda é vista com desconfiança e repulsa no Ocidente.

“O objetivo geral deste projeto será realizar uma tipologia de atitudes relacionadas às diferentes maneiras dos indivíduos pensarem sobre a incorporação dos insetos enquanto alimento. A partir das informações dos resultados da pesquisa de campo, vamos realizar processamentos da matéria prima, elaborando produtos que serão testados em análise sensorial” explica a coordenadora do projeto.

A pesquisa, financiada pela Fundect, reúne pesquisadores de diversas expertises. A professora Thelma Lucchese Cheung irá atuar no campo da mercadologia, estudando o mercado e possíveis consumidores. Pela UCBD, a professora Marnei Cereda, engenheira agrônoma especialista em engenharia de alimentos, estudará a microbiologia dos insetos, avaliando se o alimento é seguro do ponto de vista nutricional, se pode ser ingerido e se não trará problema para o ser humano.

O professor e agrônomo Eduardo Spers, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), irá trabalhar no laboratório de análise sensoriais, onde serão produzidos produtos como farinha e barra de cereal com insetos. O grupo completa-se com a pesquisadora e professora da Université de Nantes, Celine Gallene, referência sobre o consumo de insetos.

“Essa pesquisa tem caráter de inovação não apenas pelo fato do consumo de insetos, mas também pela produção, com o desenvolvimento de produtos que poderão ser patenteados”, diz a professora Thelma.

Alimentação

Embora bem menos consumidos do que no oriente, em países ocidentais algumas culturas ainda preservam o hábito de consumir insetos (entomofagia). Pode-se citar, no caso do Brasil, a ingestão de parte da formiga tanajura ou içás, um hábito indígena, ainda hoje visto de modo mais expressivo em alguns estados do Norte, Nordeste e parte do Centro-Oeste. Essa formiga, quando frita, tem sabor de capim-limão, exemplifica a professora Thelma.

As pesquisas demonstraram também que o gafanhoto seco e frito tem gosto de camarão e o grilo, dependendo da forma como é preparado, tem sabor bem próximo à pipoca.

“Isso é muito importante para a minha área de pesquisa. As teorias me explicam que quanto mais próximo está o alimento daquilo que é comum e aceitável para um consumidor em relação ao gosto, mais fácil ele aceitará consumir. Antes de oferecer um produto com barata d’água eu preciso explicar qual será a experiência sensorial do consumidor ao experimentar”, diz.

Além disso, os pesquisadores precisam garantir que o alimento é feito com inseto criado em condição apropriada para consumo humano, que não é nocivo, logo não irá fazer mal, que está seco e desidratado e que talvez não tenho sido usado o animal inteiro, mas apenas partes, o que reduz a repulsa quando se pensa em cabeça, estomago, pernas, etc.

“De acordo com outros estudos já realizados em países ocidentais, as experiências sensoriais mais bem-sucedidas foram conseguidas quando os pesquisadores utilizaram farinha de insetos, por exemplo em massas de pizza”, completa.

Os primeiros estudos serão feitos como jovens entre 20 e 40 anos, grupo que está mais propenso a experimentar, conforme pesquisas.

A professora salienta que os animais – inicialmente serão utilizados barata d´água, grilo e larva – não são provenientes do extrativismo, mas são insetos de cultivo, que serão adquiridos de empresas brasileiras especializadas.

Sustentabilidade

Fonte riquíssima de proteína animal, de sódio, potássio, ferro e cálcio, os insetos estão diretamente ligados aos conceitos de sustentabilidade, subsistência e preservação do meio ambiente.

“Um besouro escaravelho tem a mesma quantidade de proteína de um bife de fígado. Além disso, enquanto os rebanhos consomem muita água e emitem grande quantidade de gases, a maioria dos insetos não emite gases de efeito nocivo e consomem muito pouca água”, afirma a professora.

Nas vantagens ambientais, a FAO sustenta que sua criação não depende de grandes extensões de áreas. “Outra justificativa é a sustentabilidade. A produção pode e deve ser estimulada entre os pequenos agricultores”, completa a professora.

Saiba mais sobre o Programa da FAO em: http://www.fao.org/3/d-i3264o.pdf