Mapaeamento ambiental contribui para a conservação da biodiversidade do Estado

Não há como proteger as plantas e animais que ignoramos ou nem sabemos que existem, por isso o conhecimento é um dos maiores aliados na conservação da biodiversidade. Foi acreditando no poder da informação e da ciência que pesquisadores da Universidade, preocupados com a conservação e uso sustentável dos recursos naturais, iniciaram o projeto Flora e fauna da Serra de Maracaju e Pantanal: Conhecer para preservar. A partir daí, decidiram buscar soluções para um problema recorrente na região Centro-Oeste do Brasil: a falta de informações que permitam o desenvolvimento de programas de conservação e manejo.

A professora do Instituto de Biociências Camila Aoki confirma que há uma forte discrepância na distribuição de estudos e, consequentemente, no conhecimento sobre as diferentes regiões brasileiras. “O Centro-Oeste é carente de informações sobre sua flora e fauna, situação agravada em Mato Grosso do Sul, onde os inventários de vários grupos animais são escassos ou totalmente inexistentes e a coleta de material botânico por quilometro quadrado é o menor dentre os Estados brasileiros”, afirma a pesquisadora.

O trabalho iniciado em 2013 já reuniu informações sobre plantas terrestres e aquáticas, vários grupos de invertebrados como abelhas, libélulas, borboletas, besouros e formiga-leão, e também vertebrados, como anfíbios, répteis, aves e mamíferos. “Ampliamos o conhecimento da distribuição de várias espécies, algumas registradas pela primeira vez no estado e com isso, contribuímos para o conhecimento da biodiversidade do Mato Grosso do Sul”, explica a professora.

Dentre os levantamentos, há registro de 97 espécies de árvores e arbustos terrestres, 128 espécies de plantas aquáticas; 41 espécies de libélulas; 45 espécies de anfíbios; 82 espécies de répteis, e 135 espécies de aves. Os resultados já publicados também revelam informações sobre padrões de distribuição e de produção de flores e frutos ao longo do ano.

O projeto conta com pesquisadores de diversas áreas da biologia e ecologia. A equipe atual é composta por sete professores e um pós-doutorando da UFMS, além de pesquisadores da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Universidade Federal da Grande Dourados, Universidade Estadual de Goiás e vários alunos de graduação e pós-graduação, contribuindo assim para a formação de recursos humanos no Estado.

O biólogo Rogério Rodrigues Faria, doutor em Ecologia e Conservação e pós-doutor em Macroecologia e em Inovação Tecnológica, participa do projeto desde 2014 e coordena, ao lado de Aoki, o grupo de pesquisa Estudos integrados em biodiversidade do Cerrado e Pantanal do qual faz parte o projeto Conhecer para preservar. “Sem dúvida nenhuma, a experiência mais recompensadora tem sido a formação de recursos humanos. O projeto tem sido o primeiro passo para a pesquisa dos estudantes de Biologia em Aquidauana. Muitos seguiram para Pós-Graduação em programas como os de Recursos Naturais, Ecologia, Biologia Vegetal, Biologia Animal e também o de Ensino de Ciências”, destaca.

Conhecer para preservar 

O levantamento detalhado das espécies de uma dada região é o único meio de se conhecer a real diversidade da flora e fauna. Para os pesquisadores, a produção de listas de espécies, a correta identificação e a manutenção da biodiversidade amostrada em herbários e coleções zoológicas contribuem para novos estudos e desenvolvimento de programas (para) de recuperação ou conservação.

As informações obtidas em uma década de trabalho foram publicadas em diversos periódicos científicos e livros e têm sido divulgadas para a comunidade por meio de projetos de extensão, que ocorreram prioritariamente em escolas publicas da Aquidauana, Anastácio, Nioaque e Dois Irmãos do Buriti. Deste modo, o projeto contempla, ensino, pesquisa e extensão, além de estar vinculado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade.

Um dos resultados do projeto foi o registro de espécies ameaçadas ou vulneráveis à extinção, como arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus), papagaio-galego (Alipiopsitta xanthops), o cumbaru (Dipteryx alata) e a aroeira (Astronium urundeuva). Também houve novos registros de espécies de libélulas para o estado (Aphylla molossus, Erythemis mithroides e Oxyagrion basale), além de informações inéditas sobre uso de habitat por mamíferos (capivaras e uma espécie de roedor, Thrichomys fosteri) e de recursos alimentares por diversas espécies de aves.

“Temos muitas espécies de borboletas e de algas que são novos registros, mas ainda não estão publicados. Apesar de termos avançado no conhecimento sobre a biodiversidade regional, ainda há muito para se conhecer e, para isso, é necessário conservar. Em contrapartida, só gerando conhecimento, conseguiremos traçar planos e estratégias efetivos para conservação da biodiversidade”, finaliza a professora.

Texto: Adriano Furtado
Fotos: arquivo da pesquisadora