Imagem das mãos de um pesquisador manipulando materiais de laboratório. ?

Fungo que atinge trabalhadores rurais é tema de pesquisa

Mato Grosso do Sul é o estado com a maior frequência relativa de mortes por paracoccidioidomicose, doença causada por fungo que atinge principalmente trabalhadores rurais.

Por ser um estado com forte base econômica agropecuária, o assunto tem sido amplamente estudado em pesquisas realizadas no Programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas e Parasitárias da UFMS.

Pós-doutorando na FAMED-UFMS, o professor James Venturini tem realizado pesquisas sobre o assunto. Ele explica que os fungos Paracoccidioides brasiliensis e o Paracoccidioides lutzii, que causam a micose sistêmica chamada paracoccidioidomicose, estão presentes no solo.

“Os trabalhadores rurais, quando em contato com a terra, se expõem ao fungo, que é contraído via respiratória. Cerca de 2% dos indivíduos que entram em contato com o fungo adoecem e contraem a paracoccidioidomicose. Dos infectados, 90% são trabalhadores rurais do sexo masculino. As mulheres, em idade reprodutiva, estão mais protegidas por conta do hormônio estrógeno”, expõe o pesquisador.

Essa é uma infecção que ataca principalmente os pulmões, mas também pode atingir mucosa oral ou pele. “Os trabalhadores rurais, quando adoecem, passam a ter muita dificuldade para respirar porque estão com uma infecção, como se fosse uma tuberculose. Mesmo tratando, os pacientes acabam se curando da infecção, mas os pulmões ficam com cicatriz, chamada de fibrose, que causa uma limitação respiratória”.

Dessa forma, os pacientes acabam tendo dificuldade para trabalhar. “Às vezes, perdem o emprego. Muitos não têm carteira assinada, o que agrava a situação econômica, e como alguns costumam consumir bebida alcoólica, em um estágio mais depressivo, acabam se tornando dependentes. Essas consequências advindas da doença são subestimadas. É um problema social muito grande”, avalia o professor.

Cerca de 75% dos pacientes apresenta a forma pulmonar e o tratamento é longo, mais de dois anos, com uso de medicação diária. Muitos também enfrentam mudança na voz, porque a doença atinge, em alguns casos, a laringe.

Com projeto aprovado no CNPq, o professor quer entender melhor a fibrose. O que a causa, se é o fungo, o tratamento ou a resposta imunológica do hospedeiro, por que pode piorar com o tratamento, se esse acelera ou não o crescimento desse tecido de cicatrização fibrose, entre outras questões.

Nas pesquisas, eles também procuram por biomarcadores, que são substâncias presentes no soro do paciente que poderiam dar o indício da evolução da fibrose. Até o momento não há como intervir na fibrose, por isso se busca uma terceira linha com novos medicamentos, entre eles produtos naturais, para se encontrar alguma substância que possa interferir nesse processo de cicatrização, de forma a inibi-la e permitir que o paciente volte a respirar melhor e tenha uma vida mais normalizada.

Entre as pesquisas por vir, a parceria com a UFMS resultará em outro estudo para descobrir se o componente genético predispõe o indivíduo a ser contaminado. O que já se sabe é que questões como nutrição e imunidade influenciam na maior probabilidade de desenvolvimento da doença por quem teve contato com o fungo.

Na região de Botucatu, onde o professor James Venturini também desenvolve pesquisas na Unesp, a média é de 15 novos casos por ano. No Hospital Dia, em Campo Grande, são dois casos novos por mês, ou seja, 24 anuais.