Encontro promove o acolhimento de estudantes indígenas na Cidade Universitária

Uma cerimônia marcou a recepção aos estudantes indígenas que ingressaram em cursos de graduação. O encontro foi realizado na manhã desta quinta-feira, 14, no Auditório do Complexo Multiuso 1, na Cidade Universitária. Atualmente, a UFMS possui cerca de 900 estudantes indígenas em todos os câmpus e a acolhida reforça o apoio ao ingresso e a permanência na Universidade. A recepção foi organizada pelo núcleo estudantil Rede de Saberes Indígenas.

O reitor Marcelo Turine enfatizou o sentimento de satisfação pelo progresso e integração dos estudantes indígenas na Universidade. “Para nós, é um orgulho muito grande. [Representa] respeito aos povos indígenas, é um respeito à inclusão. E a educação é isso: a educação é a transformação, é a oportunidade. A educação pública transforma a vida dos nossos jovens, do nosso Mato Grosso do Sul, do Brasil. Então é um momento de acolhimento, é um momento de ver os outros. Temos oportunidades para a permanência desses jovens na Universidade, assim como os desafios que nós temos de aprendizagem, desafios de moradia, desafios de integração. Então, é colocar a UFMS à disposição para que a gente consiga ter um aproveitamento ainda melhor”, disse.

O pró-reitor de Assuntos Estudantis, Albert Schiaveto de Souza, aproveitou o momento para expor o que a Universidade pode oferecer aos calouros indígenas durante a graduação. “A UFMS é uma Universidade pública, gratuita e, inclusive, aberta para todas as pessoas. E, em especial, no estado onde temos uma população muito grande das populações tradicionais indígenas, é muito importante que façamos um acolhimento especial para esses nossos estudantes. Temos alguns programas específicos para atender os nossos estudantes indígenas durante o tempo que estão conosco na UFMS. Nós temos, na região de Aquidauana, o projeto Aldeias Conectadas. Nós também contamos com um programa do Governo Federal, a Bolsa Permanência, que é exclusiva para indígenas e quilombolas. Assim, nossos estudantes também recebem assistência. Estamos preocupados também com o ingresso desses alunos indígenas. As cotas para pretos, pardos e indígenas podem ser separadas pelas universidades para que tenhamos um maior número de estudantes. Portanto, separamos essas cotas e garantimos uma entrada maior, isso significa que a Universidade é inclusiva tanto no ingresso quanto na permanência dos nossos estudantes na UFMS”.

O coordenador do núcleo estudantil Rede de Saberes Indígenas e professor da Faculdade de Ciências Humanas, Antônio Hilário Aguilera Urquiza, analisou o avanço das políticas públicas na Universidade e ressaltou que a ideia agora é garantir a permanência desses estudantes. “Com as políticas de inclusão, de cotas, quase não há problemas hoje em relação à entrada dos indígenas nas universidades. O grande problema agora é a permanência. Então, fazer um momento especial para eles não é só recepção dos calouros, já é pensando na permanência. Para que eles se sintam em casa, acolhidos, conheçam setores da Universidade, conheçam professores e, sobretudo, conheçam os seus colegas veteranos indígena e a sala da Rede de Saberes que é um projeto que a gente tem na UFMS”, explicou.

O coordenador regional da Fundação Nacional dos Povos Indígenas de Campo Grande, Elvisclei Polidório, reforçou o compromisso da Instituição com os estudantes indígenas e relembrou a trajetória para que eles pudessem ocupar esses espaços. “Eu quero reforçar que cada um de vocês tem uma importância muito grande para nossas comunidades indígenas, para nossas lideranças indígenas que estão na base, foi uma luta. A gente sempre usa essa palavra ‘luta’ como indígena. Foi uma luta para a gente conquistar esses espaços em que vocês estão hoje inseridos. Lideranças que não são letradas lutaram para isso, para vocês estarem aqui hoje, cursando, estudando e também pensando em como ajudar a comunidade, como ajudar as lideranças indígenas”.

O estudante indígena do Curso de Jornalismo e integrante do núcleo estudantil Rede de Saberes Indígenas da Universidade, Kauê Terena, destacou a importância do acolhimento dos novos estudantes indígenas na Universidade. “Quando eu cheguei aqui, eu senti uma diferença muito grande da minha comunidade, sair da minha comunidade e chegar numa capital do Estado, na minha cidade, na UFMS. E aí, os meus veteranos indígenas, que eram de outros cursos, que já estavam na Rede de Saberes, me acolheram e trouxeram um pouco para perto de casa. E é isso o nosso papel da Rede de Saberes, tentar trazer um espaço de acolhimento dentro da UFMS”, afirmou.

A caloura indígena do Curso de Direito, Ellen Freitas, demonstrou animação ao ingressar na Instituição e pretende explorar todas as experiências estudantis na Cidade Universitária. “Eu fiz o Exame Nacional do Ensino Médio e passei aqui na UFMS. Bom, eu não sou daqui, sou do interior, do interior do Mato Grosso do Sul, de Japorã, da Aldeia Porto Mundo, da etnia Guarani Ñandeva. Então, é um sonho realizado para mim estar no Curso de Direito, que agora estou cursando. É um prazer mesmo poder representar a minha etnia dentro de uma universidade como essa, aqui na Federal, da capital”, celebra.

Ao todo, quatro universidades do estado do Mato Grosso do Sul – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) – realizam o Programa “Rede de Saberes”. O objetivo do programa é apoiar especialmente a permanência de estudantes indígenas na educação superior da região.

Texto: Elton Ricci
Fotos: Álvaro Herculano