Desde setembro de 2021, professores e acadêmicos dos cursos de Agronomia e Engenharia Florestal do Câmpus de Chapadão do Sul (CPCS) auxiliam a Associação Gileade a usar água e fertilizantes de forma racional. A ação de extensão é coordenada pelo professor Rafael Felippe Ratke. A Associação acolhe pessoas do sexo masculino com problemas associados ao uso nocivo ou dependência de substancias psicoativas.
“A disponibilidade de água potável para uso na agricultura diminuiu a cada ano, devido a fatores como poluição, degradação do solo e demais ações antrópicas prejudiciais ao meio ambiente. Entretanto, a demanda por alimentos tem crescido, o que exerce forte pressão sobre o uso da água para a irrigação. A irrigação é uma forma de aumentar a produção de alimentos em pequenas áreas, porém requer um alto investimento de recursos e deve ser monitorada adequadamente para evitar o desperdício de água”, destaca.
O professor lembra que o Brasil é um grande produtor de hortaliças, que abastece seu mercado interno. “A produção de hortaliças é realizada em pequenas áreas e, na maioria das vezes, pela agricultura familiar, garantindo a segurança alimentar do país e a alimentação saudável da população. Para alcançar níveis elevados de produção os agricultores utilizam a irrigação, devido à pouca área disponível. Porém, o uso de água é cada vez mais restrito e caro para os irrigantes. Nesse sentido, para promover a produção sustentável de alimentos, temos que reduzir o uso de água de irrigação que pode ser feito pelo monitoramento da umidade do solo através de tensiômetros”, explica.
“Ao reduzir o uso de fertilizantes com recomendações de adubação de culturas baseada na análise de solos e uso de fertilizantes mais eficientes, diminui-se o uso de recursos naturais como o petróleo para a produção de ureia”, comenta Rafael. Ele destaca que a ideia de trabalhar nessa ação de extensão surgiu a partir do desenvolvimento de pesquisas científicas sobre o uso do hidrogel (substância que retém água e depois a libera no solo para a planta e fertilizantes). “Na minha concepção, esses resultados deviam ser compartilhados com a sociedade. Além disso, ao acompanhar o trabalho na horta da Associação Gileade, verifiquei que poderíamos auxiliá-los com práticas para diminuir o uso de água e fertilizantes. O intuito, também, do projeto é aproximar os estudantes dos cursos da sociedade sul-chapadense”, fala.
Sobre a escolha da Associação, o professor esclarece que foi feita com base no seu histórico, administração e por possuir uma horta como terapia ocupacional para a recuperação de dependentes químicos. “Muitos dos internos da associação são trabalhadores rurais, que ao deixarem a internação voltam a seu trabalhar em fazendas e podem utilizar as práticas ensinadas onde estiverem”, destaca.
De acordo com o professor, o primeiro passo para iniciar o projeto foi coletar amostras e fazer a análise para caracterizar o solo utilizado e propor as técnicas para reduzir o uso de água e fertilizantes. “A coleta de amostras de solo da horta foi acompanhada pelos internos da Associação, em grupos de três internos, junto ao estudante bolsista de extensão, supervisionados por mim. Seguimos os protocolos de biossegurança, como uso de máscaras e álcool em gel nas visitas à horta”, ressalta Rafael.
O projeto está em desenvolvimento e conta com a participação de quatro professores do CPCS e dois estudantes. “Um dos resultados esperados é desenvolver ações de educação e promoção da conservação do meio ambiente, tornando a produção de alimentos mais sustentável”, diz Ratke. “Os acadêmicos, atuando na parte técnica da horta, terão convívio com os internos, o que integra socialmente estes indivíduos, promovendo o desenvolvimento social de todos. Portanto, também esperamos que esta ação de extensão, conscientize jovens e adultos de diferentes classes da sociedade, a produção sustentável de alimentos, promovendo a economia de água e energia”, complementa.
Para o acadêmico do quinto semestre de Engenharia Florestal Newton Ribeiro da Silva Junior participar do projeto está sendo uma ótima experiência. “Além de ser muito bom para meu currículo, estou aprendendo bastante e me apaixonando mais ainda pelo meu curso. Participo, especificamente, das atividades de avaliação de solo, tanto química como física”, diz.
Rafael salienta também que o projeto está em consonância com vários dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU: Erradicação da Pobreza, Fome Zero e Agricultura Sustentável, Educação de Qualidade, Trabalho Descente e Crescimento Econômico e Redução das Desigualdades.
Texto: Vanessa Amin
Fotos: Acervo dos pesquisadores