Desde março, uma grande equipe de estudantes, professores e profissionais voluntários – hoje com cerca de 50 pessoas – abraçou o importante papel científico e social da Universidade pública ao desenvolver o projeto de “Avaliação sistêmica integrada da Covid-19 em Mato Grosso do Sul: aspectos moleculares, epidemiológicos, clínicos, imunológicos e de vigilância” que une em diversas frentes uma rede de ações e pesquisas relacionadas ao Coronavírus.
Coordenadores do projeto, os professores Ana Rita Coimbra Motta de Castro e James Venturini apresentaram à equipe de colaboradores, voluntários e demais professores envolvidos, assim como à vice-reitora, Camila Ítavo, os andamentos dos trabalhos em desenvolvimento na primeira reunião técnica on-line com todo o grupo.
“Esse trabalho teve início em março, quando a pandemia começou a ganhar proporções no Brasil. Somos do Programa de Pós-graduação em Doenças Infecciosas e Parasitárias e tínhamos de fazer algo. O grupo tem esse perfil de abraçar causas de epidemia (dengue, coqueluche, hepatite, HTLV), sendo histórico no programa. Nesse meio tempo já havia um movimento da Reitoria e juntamos as forças e temos hoje um grupo muito forte e coeso”, afirma o professor Jaime, responsável técnico pelo Laboratório de Doenças Infecciosas e Parasitárias.
A professora Ana Rita salientou que a intenção é deixar esse legado para a Universidade, que é um Laboratório de pesquisa de alto padrão, que possa atender outras futuras pandemias. “Temos de agradecer ao apoio da Reitoria. O trabalho é muito grande, a demanda é maior ainda, mas estamos aqui. Sem cada uma das pessoas envolvidas, não teríamos chegado aos quase 12 mil exames realizados (detecção da Covid), sem contar a qualidade e a rapidez com que entregamos esses resultados, pensando sempre na saúde pública”, expôs.
A vice-reitora parabenizou a equipe e disse que emociona ver a quantidade de estudantes, professores e técnicos que se voluntariaram e se colocaram à disposição do país.
“Vocês acolheram uma proposta maravilhosa, capitaneada pelos professores, respondendo aos apelos da sociedade. Não tem sido fácil, mas estamos buscando e conseguindo recursos com o MCTI e o MEC. Mas de nada adianta ter o material, equipamento, se não tivermos pessoas. Tenho que dizer aos professores, técnicos e estudantes que o desafio da humanidade é construir essa formação cidadã, trabalhar com respeito, entender o papel que nos cabe, por isso, muito nos emociona esse trabalho de formação técnica e também humana” afirma Camila.
Avaliação Sistêmica
O projeto tem o nome de Avaliação Sistêmica Integrada, de acordo com o professor James, porque sem a integração nada possível ser feito para contribuir em uma pandemia.
“Do ponto de vista pessoal, é muito importante estarmos atuando num contexto de relevância mundial. Essa avaliação é um olhar para o todo, porque as coisas não acontecem de uma forma compartimentalizada. Por isso, temos tantos perfis profissionais diferentes, tantos projetos envolvidos. Isso tem ganhado proporções e tem gerado a procura externa de mais ações por conta da capacidade que temos em desenvolver esses projetos”, diz o coordenador.
Tudo começou com a proposta de se fazer o diagnóstico da Covid na UFMS, a partir de uma demanda do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), para ajudar a Secretaria de Estado de Saúde. Foram destinados R$ 900 mil em recursos, metade empregado em equipamento e metade para consumo para realizar exames de RT-qPCR (Drive Thru e Projeto de Vigilância Virológica) e realizar testes rápidos, além de sequenciamento completo do genoma do vírus SARS-CoV-2.
“O projeto de Vigilância Virológica de Profissionais da Saúde em MS também tem apoio do Estado que enxergou essa vigilância como algo extremamente importante para que os funcionários, que estão no front, possam ser testados periodicamente e dessa forma afastá-los, quando positivo, no intuito de evitar surtos da propagação do vírus no ambiente hospitalar”, explica o professor.
Além dos hospitais, a testagem em profissionais da saúde inclui os quem estão nos laboratórios, como essa equipe do projeto que age no diagnóstico de Covid. É também um estudo de coorte prospectiva, a partir de um grupo de pessoas que são acompanhadas por um certo tempo para verificação da detecção do vírus ou anticorpo.
Esse projeto inclui 700 participantes, acompanhado a cada 15 dias, em um período de seis meses.
“É um projeto de pesquisa, mas também assistencial, porque quando se tem um caso positivo, principalmente em assintomático, pode-se afastá-lo para poder se recuperar e cuidar da sua família e tem ainda como característica oferecer aos participantes que derem positivo testar os contactantes nas suas casas”, diz James.
Esse projeto também teve recursos do MEC, no valor de R$ 3 milhões, basicamente empregados em equipamentos e material de consumo.
Outro projeto trata dos Aspectos Clínicos e Imunológicos da Covid-19 em MS e compreende três estudos: estudo transversal de base populacional, em que os dados obtidos possibilitarão a análise das redes de transmissão e investigação da variabilidade genética dos isolados virais; estudo de caso-controle, para identificar a participação de alvos genéticos na gravidade da doença; e estudo observacional prospectivo, com uma coorte de pacientes com Covid-19 para analisar fatores imunológicos associados ao risco de óbito e complicações. Também com recursos do MEC, no valor de R$ 3 milhões.
“São estudos realizados no mundo todo e é importante que saibamos o que acontece na nossa região”, segundo o coordenador.
Nesse meio tempo, a UFMS e mais 11 universidade federais passarão a ter Laboratório de Campanha para testagem. Serão fornecidos insumos para a realização de cerca de seis mil RT-qPCR, em Campo Grande e Três Lagoas, sendo públicos-alvo os que já estavam em projetos em andamento, além de pequeno número de servidores e estudantes da UFMS sintomáticos.
“O MCTI, por meio da Rede Vírus, propôs a essas universidades federais fazer uma testagem em saliva utilizando a metodologia espectroscopia, para testagem pareada com a RT-qPCR. Teremos bolsistas, material e é uma possibilidade de fazermos parte de uma pesquisa nacional. Estamos atraindo grandes estudos nacionais e internacionais para a UFMS e isso dá uma visibilidade para a nossa Universidade e tem um efeito indireto muito grande”, avalia James.
Também foi instituído em agosto o Laboratório de Apoio ao Diagnóstico de Covid para serviços de saúde públicos e privados para venda de exame, em contrato com a Fapec.
Um novo projeto a começar é o Brace – projeto de vacina BCG para Covid-19, que tem como intuito diminuir a gravidade da doença em profissionais de saúde. O projeto envolve alguns países e no Brasil serão testadas pessoas em Campo Grande, cerca de duas mil, além de profissionais de saúda da Fiocruz-RJ.
Texto: Paula Pimenta