Oficinas de matemática promovem educação inclusiva em Corumbá

Projeto já alcançou mais de mil alunos da rede pública de ensino

Nos últimos anos, as escolas da rede pública de Corumbá têm demandado a participação do Câmpus Pantanal (CPAN) no desenvolvimento de propostas metodológicas e didáticas que auxiliem na diversificação do ensino de Matemática para séries finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Cientes disso, grupo de professores e estudantes do curso de Matemática do CPAN, coordenado pelo professor Marcelo Dias de Moura desenvolveram o projeto de extensão Oficinas de Matemática.

“Em 2021, realizamos a sexta edição do projeto junto às escolas estaduais Dom Bosco, Maria Helena Albaneze, Nathércia Pompeo dos Santos e Rotary Club e à municipal Cássio Leite de Barros. As oficinas tiveram como finalidade a formação de equipe para desenvolver propostas que pudessem auxiliar melhor os acadêmicos na aquisição de competências e habilidades esperadas de um professor da disciplina”, explica Marcelo.

Segundo Marcelo, além disso, por meio da participação no projeto, os estudantes puderam interagir com os professores e alunos das escolas e trocar experiências para a elaboração das atividades, dentre elas: uso de softwares matemáticos, construção de videoaulas, jogos matemáticos e gamificação (a aplicação de elementos de jogos em atividades de não jogos), construção de aplicativos para smartphones, confecção de materiais didáticos, resolução de problemas e modelagem, uso de calculadoras e planilhas de cálculos, abordagem etnomatemática, manipulação de dados estatísticos, entre outras.

Realizado entre junho de 2021 e janeiro deste ano, o projeto contou com a participação de 33 acadêmicos de graduação, entre bolsistas e voluntários, e três professores do CPAN e envolveu 360 alunos da educação básica e quatro profissionais da educação. “O projeto foi construído incialmente para ser executado durante o período de Pandemia de COVID-19 a partir de junho de 2021, logo, todas as atividades iniciais aconteceram de forma remota, usando as ferramentas do Google Meet e do Google Sala de Aula para as atividades e o grupo de WhatsApp para as demais discussões”, diz o coordenador.

De acordo com Marcelo, as etapas do projeto foram as seguintes: preparação das atividades e reuniões, leitura de material bibliográfico, planejamento das oficinas, ambientação das escolas envolvidas, confecção das oficinas; aplicação das oficinas nas escolas, reuniões semanais dos grupos para avaliação e replanejamentos e participação em eventos. “As atividades de aplicação das oficinas ocorreram inicialmente de forma remota, prosseguindo para a forma escalonada de participação dos alunos e, por fim, com a presença de 100% dos alunos das escolas”, comenta. Para a realização das atividades, foram utilizados espaços do câmpus como os laboratórios de informática, de Ensino de Matemática e de Geometria e de Integração de Programas Institucionais e Projetos de Extensão de Matemática.

“Após a execução das atividades foi apresentado um questionário de avaliação. A maioria respondeu que o projeto atendeu as expectativas”, avalia Marcelo. Para o grupo de acadêmicos integrado por André Filipi Silva, Andressa Jamily Bogado, Ariel da Silva, Adilson Corrêa, Jaqueline Sara e Zhyankhy da Costa, “a oficina serviu também como um conceito de experiências de conhecimento mais aprofundado do ambiente profissional que será enfrentado após a formatura, pois para que a oficina acontecesse tivemos que organizar aulas, planejá-las; algo necessário na formação docente”.

Os estudantes também disseram que apesar das adversidades, a aplicação do projeto se mostrou reveladora. “A aplicação foi uma experiência transformadora e complexa, aparentemente simples, entretanto com muitos desafios, devido ao tabu ainda existente sobre os assuntos abordados. Os obstáculos fizeram com que nos reinventássemos, procurando novos meios para a aplicação e o desenvolvimento. De fato, mostrou uma nova realidade que deve ser trabalhada, a inserção do discente na sala de aula e a busca por novos recursos que tragam uma diferença no trabalho a ser desenvolvido”, contam.

O grupo de estudantes realizou a oficina de modo presencial, seguindo todos os protocolos estabelecidos, na Escola Estadual Dom Bosco. Para tanto, escolheram como tema as relações entre os jogos olímpicos, especificamente as modalidades de natação, esgrima, atletismo, e a matemática, apresentando conceitos e aplicação de fórmulas para cálculo de área, volume de paralelepípedos e geometria plana.

“A concepção de ensinar alguns conceitos matemáticos para os alunos de uma forma mais prática e lúdica concomitantemente, assim como o raciocínio lógico, por exemplo, veio por meio da matemática nos jogos olímpicos. A inovação na forma de ensinar matemática vem evoluindo com o passar dos anos, novas metodologias e documentos que viabilizam a transformação da educação. Nesse sentido, montar a oficina de forma que mostre que a matemática está presente em tudo, nos fez recorrer ao que estava mais falado no ano. Um modo lúdico e eficiente de desenvolver o saber e fazer matemático”, relatam.

Além de abordarem os conteúdos específicos da disciplina, os estudantes também incrementaram a oficina trazendo para discussão temas sociais abordados durante os jogos, como: saúde mental dos atletas de alta performance, representatividade feminina e defesa da comunidade LGBTQIA+.

“Quero agradecer por mais uma etapa concluída maravilhosamente, a oficina foi muito bem aceita pelos nossos alunos e representou uma novidade que despertou muito o interesse pelo aprendizado na Matemática. Tive como resposta as notas boas, sempre esperamos aquelas notas vermelhas nas provas e fui surpreendida, principalmente nos cálculos algébricos, nas operações com as frações. Teve uma relevância muito grande na escola e tenho muito mesmo que agradecer a todos, aos acadêmicos. Fiz novas amizades e conseguimos nos conhecer melhor, trocar informações e aprender muito. Vou levar essa satisfação para sempre”, comenta a professora Rozilene Vasquez dos Santos, supervisora nas escolas estaduais Maria Helena Albaneze e Nathércia Pompeo dos Santos.

Edições anteriores

As duas primeiras edições do projeto foram realizadas em 2009 e 2010, nas escolas estaduais Maria Leite e Carlos de Castro Brasil e envolveram 19 acadêmicos voluntários e dois bolsistas do Curso de Matemática, dois professores supervisores das escolas e 367 alunos.

Em 2018 e 2019, o projeto trabalhou com a escola estadual Carlos de Castro Brasil, com 28 acadêmicos voluntários e dois bolsistas, três professores supervisores da escola e atendeu 250 alunos. No primeiro ano da pandemia, em 2020, Marcelo lembra das dificuldades enfrentadas. “Foi um desafio muito grande para a equipe conseguir levar as atividades aos alunos das escolas. Muitos não tinham como acessar os materiais ou participar ao vivo dos encontros, devido à falta de equipamento apropriado ou pacotes de dados suficientes”. O projeto ocorreu totalmente de forma remota, na escola estadual Dom Bosco e na escola particular Instituto Baruki de Educação e Cultura (IBEC). Participaram 18 acadêmicos voluntários e dois bolsistas, uma professora supervisora da escola e foram atendidos 60 alunos.

“Esperamos que a experiência adquirida com a construção e aplicação das oficinas nas escolas possa ter contribuído de forma substancial no ensino de Matemática na educação básica aos nossos futuros professores”, concluiu o professor Marcelo.

 

Texto: Vanessa Amin

Imagens e fotografias: Acervo do projeto Oficinas de Matemática