Oficina promove intervenção de saúde mental por meio do bordado

Todas as sextas-feiras pela manhã, em uma sala da Clínica Escola Integrada da Universidade, um grupo de mulheres se reúne para bordar. A atividade faz parte de uma oficina terapêutica chamada Bordando a Vida, onde, além de produzirem tecidos ornamentados, as participantes conversam dividindo histórias e ensinamentos.

De acordo com a professora do Curso de Enfermagem responsável pela oficina, Priscila Marcheti Fiorin, o objetivo é promover melhorias na saúde mental das participantes, por meio de intervenções cognitivas, construtivas e afetivas. As participantes são mulheres que têm acima de 45 anos que passaram por algum sofrimento psíquico e que, em sua maioria, já realizaram ou ainda realizam tratamento no Centro de Apoio Psicossocial (CAPS).

A oficina é organizada em três momentos: no primeiro (cognitivo) as mulheres conversam e recebem informações sobre a saúde física e mental. São trabalhados temas como menopausa, diabetes, infecção urinária, hipertensão, felicidade, amizade, amor, família e sonhos, entre outros. Depois dessa conversa inicial passam ao bordado (construtivo), que é, segundo a professora, o momento de relacionamento interpessoal. “Com o bordado vamos criando vínculos, amizades e compartilhamos nossas histórias de vida. E vamos também relacionando o bordado à vida, ou seja, conversamos, por exemplo, sobre os sentimentos que surgem quando erramos no bordado, sobre errar também na vida, que é comum, que precisamos admitir o erro e voltar atrás, assim como no bordado, desfazer o ponto errado e refazer da maneira correta. O sentido da oficina é positivo, é para trazer alegria, autonomia e principalmente afeto às participantes”, explica.

O terceiro momento (afetivo) é feito semanalmente como encerramento da oficina. As participantes, acadêmicas e professora formam uma roda, abraçadas, e relatam os sentimentos suscitados no dia, os pensamentos positivos que tiveram e os ensinamentos adquiridos. “Nesse momento também sempre falamos uma frase que tem muito efeito que é: ‘Que bom que você veio!’. Assim, reforçamos a importância de cada uma das mulheres na oficina, provocamos sorrisos e esperamos que se sintam bem acolhidas. Percebemos que além dessa frase ter um efeito muito positivo na vida delas, o carinho nesse momento também é fundamental. Tivemos relatos de que o beijo no rosto realizado nesse encerramento teria sido o único que aquela pessoa recebeu durante toda a semana”, conta Priscila.

Relatos e reflexões

Luzineide Araújo, que participa desde o começo do projeto na UFMS, reflete que o bordado é difícil, mas compensa. “Eu não sabia bordar, nunca passou pela minha mente que poderia aprender, mas aqui estou aprendendo com as meninas e com a professora. Tem de ter paciência e a gente vem porque quer melhorar, aos poucos a gente pega o jeito. Quando eu bordo fico mais focada, mais tranqüila, fico alegre de estar aprendendo algo novo”, disse.

Nilda Gonçalves afirma que o bordado acalma os sentimentos. “Se às vezes chegamos nervosas, vamos nos acalmando com o bordado, é muito bom. Quando erramos desmanchamos, e isso faz parte da vida, porque na vida às vezes nem tudo dá certo, mas aí consertamos e continuamos, vamos pra frente”, ensina.

A acadêmica Gabriela Piazza do 9° semestre de Enfermagem e integrante da LASME também não sabia bordar, aprendeu com a professora e junto com as participantes da oficina. “Tem sido uma experiência muito interessante na Liga e na oficina porque eu consigo como estudante, como futura enfermeira, realmente aliar o bordado à minha vida. Todas as vezes que eu erro eu preciso voltar e eu preciso adquirir resiliência pra conseguir fazer isso. O enfermeiro não trabalha apenas em hospitais e clínicas, pode também trabalhar junto com a população promovendo a saúde mental. Assim, trabalhamos para desconstruir todo o preconceito que existe com relação aos transtornos mentais, com relação à psiquiatria e à saúde mental, e estar nesse projeto, trabalhar com essas mulheres, me traz muita resiliência, traz muito conhecimento. Eu realmente vejo esse crescimento como pessoa e como futura profissional”, pontuou.

Consulta individual e triagem

Na oficina Bordando a Vida a professora Priscila conta que não há envolvimento dos familiares, mas eles podem comparecer nas consultas individuais de enfermagem, realizadas às quartas-feiras. “Nas consultas individuais é onde conversamos sobre as dores e tristezas de cada mulher, mas também buscamos junto com elas pequenas metas a serem atingidas, intervenções que irão promover e melhorar sua qualidade de vida”, explica Priscila.

É nas quartas-feiras também que a LASME realiza a triagem das mulheres que querem participar da oficina. As interessadas podem entrar em contato e solicitar mais informações pelo telefone (67) 3345-7962.