Monitoramento de capivaras permite conhecer hábitos dos animais e orientar a população de Campo Grande

Conhecidas por serem os maiores roedores do mundo, as capivaras são animais queridos pelos campo-grandenses. Elas podem ser avistadas na Cidade Universitária, principalmente nas proximidades do Lago do Amor, ou em outras áreas verdes da cidade. Um exemplo é o Parque das Nações Indígenas, onde as capivaras utilizam colares com um sistema de localização, como o GPS, que permite o seu monitoramento.

A pesquisa “Megacidades diversas: como e por que grandes vertebrados sobrevivem em grandes centros urbanos” teve início em 2014 e estuda as capivaras, além de outros animais como quatis, gambás, lobinhos, jabutis e araras. O objetivo é investigar o movimento urbano das espécies de diferentes grupos zoológicos raramente presentes em grandes centros, mas que tem populações persistentes na capital.

O coordenador da pesquisa e professor do Instituto de Biociências, Luiz Gustavo Oliveira Santos, explica que a motivação da iniciativa é investigar como as capivaras vivem e quais os seus hábitos, para subsidiar estratégias de manutenção dessas populações dentro da cidade a longo prazo. “Monitorar é uma uma maneira popular de aprender sobre os animais”.

Por meio da pesquisa foi possível desenvolver quatro pontos fundamentais, que o professor destaca como metas e desafios. “Este trabalho tem quatro pilares importantes. O primeiro conservar os animais dentro da cidade. O segundo pilar é manter nossa qualidade de vida, já que, o convívio entre pessoas da cidade e animais é benéfico. O terceiro pilar é um desafio, diminuir os acidentes com óbito para as capivaras e danos físicos e materiais para os humanos. E o quarto pilar é uma questão de saúde pública é diminuir as áreas de risco de transmissão de doenças”, ressalta.

Segundo o coordenador, não há superpopulação de capivaras em Campo Grande. Diferente de outros roedores, as capivaras formam grandes grupos familiares. Ao todo, existem cerca de 350 animais no Parque das Nações, divididos em seis grupos distintos e em cada grupo há animais monitorados. Na UFMS, há dois grupos de capivaras, que somam 120 animais, e no Parque do Sóter há 80 roedores. A estimativa é que Campo Grande tenha uma população entre 5 a 10 mil capivaras, já que ainda não é possível contar todos os animais existentes. “O que a gente sabe é que nesses parques urbanos, nessas áreas verdes onde vamos rotineiramente, as populações são as mesmas nos últimos dez anos”, destaca.

O uso dos colares permitiu, além de conhecer os hábitos dos animais, descobrir quais são as áreas de maior risco. “Com os animais com GPS a gente consegue identificar quais são as áreas de rua que eles mais passam. Então, conseguimos, juntamente com o poder público, orientações de onde colocar lombadas eletrônicas e placas de identificação. O papel do projeto é exatamente ajudar a governança pública a gerir quais são as áreas de risco”.

É importante ressaltar que a pesquisa visa a vigilância sanitária e, por isso, os animais passam por uma rotina de exames com a coletas de sangue e tecido para detectar a presença de parasitas. O objetivo é identificar, o quando antes, a presença de parasitas, para evitar que as pessoas fiquem doentes.

“Assim como qualquer projeto de conservação em qualquer lugar do mundo, o objetivo é manter os animais. O desafio é mantê-los dentro de um grande centro urbano, que tem cerca de um milhão de habitantes. Por isso, a pesquisa é importante para conhecer os hábitos dos roedores e, assim, proporcionar espaços adequados para que eles possam se movimentar dentro da cidade”, reforça.

Febre maculosa

A febre maculosa é uma doença infecciosa que pode causar desde formas assintomáticas até casos mais graves, com risco de morte. No Brasil, os casos graves estão associados à infecção pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida principalmente pelo carrapato da espécie Amblyomma sculptum, popularmente conhecido como carrapato-estrela. De acordo com o pesquisador há um grupo de bactérias que podem causar a doença com sintomas mais leves. No entanto, a bactéria Rickettsia rickettsii não foi encontrada nos parques da cidade.

O professor destaca que neste ano foi iniciado um projeto que tem financiamento do Governo do Estado para monitoramento das capivaras, dos carrapatos e das pessoas que frequentam os parques urbanos da cidade. Com as informações, será possível orientar melhor a população. “A gente já sabe onde as capivaras andam e passamos a capturar carrapatos no gramado. Temos a observação de pessoas e como elas se comportam nos parques. Percebemos que homens, mulheres e crianças tem um perfil diferente de se expor e assim podemos pensar nas políticas públicas para orientação nos parques”.

Texto: Mirtes Ramos

Fotos: Arquivo do pesquisador Luiz Gustavo Oliveira Santos