Já parou pra pensar em como a realidade se manifesta na literatura?

Literatura e poesia se encontraram com questões políticas, éticas e sociais na mesa-redonda “O que a literatura tem a dizer sobre ética, política e sociedade hoje?”, realizada na tarde de quarta-feira, 19, como cronograma da Semana de Desenvolvimento Profissional 2020.

Ministrada pelos professores doutores do Curso de Graduação em Letras da UFMS, Rosana Zanelatto e Flávio Nantes, e pela assistente social da Coordenadoria da Mulher do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, Vanessa Vieira, a discussão abordou temas como violência contra a mulher, de gênero, racismo, assédio moral, política e suas relações com clássicos da literatura brasileira.

Vanessa Vieira

A assistente social falou sobre a frequente realidade de mulheres em situação de violência e sobre a manifestação do patriarcado no cotidiano do serviço social jurídico. “Se pensarmos no patriarcado como um sistema de dominação sob as mulheres, ele tem tudo a ver com a violência contra a mulher”, afirmou Vanessa. Diante dessa abordagem, a palestrante ainda buscou em obras como “O cortiço”, de Aluísio Azevedo e “Gabriela, Cravo e Canela”, de Jorge Amado, a ambientação para suas explicações.

Rosana Zanelatto

Por meio dos textos “K.: Relato de uma busca”, do escritor Bernardo Kucinski, e “A crise na educação”, da filósofa alemã Hannah Arendt, Rosana Zanelatto focou suas reflexões nos tópicos educação, memória e ética. A professora pontuou ao longo de sua apresentação a importância de que o respeito à diversidade se estenda ao ambiente educativo.  “É um lugar pra respeitar a diferença e para perceber que todos temos alguma questão que nos separa, e pode ser que essas questões nos unam em algum momento. (…) O ambiente educativo, e os ambientes onde nós todos estamos, inclusive da universidade, seja ela pública ou privada, é um ambiente coercitivo porque retoricamente, por vezes, nós reforçamos determinados comportamentos. Ainda que não percebamos.”, falou.

Flávio Nantes

Flávio Nantes discursou a fim de explicar que a literatura não tem nenhum compromisso com a realidade, mas que, no entanto, em muitos casos ela exprime problemas sociais vigentes. “Há uma entrevista de abril de 1969, que a Clarice Lispector fez com Pablo Neruda por ocasião da vinda do Nobel de Literatura ao Brasil, e ela perguntou: ‘o que é que você acha da literatura engajada?’, ele respondeu: ‘mocinha, toda literatura é uma literatura engajada’, ou seja, pensando no que a Clarice perguntou ao Neruda e na resposta que ele deu a ela (…) o que é que a que literatura tem a dizer sobre, conforme a nossa Mesa, política, ética e sociedade hoje?”, argumenta o professor.

Para sua interpretação, o docente buscou nos contos “As tias” e “Amora” do livro homônimo “Amora”, de Natalia Borges Polesso de modo a explicar temas ligados à sexualidade e política. “Literatura, para o bem ou para o mal, é um gesto político”, disse.

Espectadores tiveram participação ativa nas discussões

A transmissão contou com mais de 180 espectadores e foi realizada por meio da plataforma Google Meet e levantou várias questões da atualidade que, quando relacionadas à literatura, puderam ser compreendidas por uma nova perspectiva. Ao longo do debate, muitos elogios foram feitos aos professores e à Vanessa, assistente social convidada, e a interação do público conseguiu ser observada na  sessão de perguntas e respostas, que se estendeu por aproximadamente uma hora depois do final das falas dos palestrantes.

 Serviço

As atividades da Semana são abertas para toda a comunidade acadêmica e externa. Até o momento da publicação desta matéria são mais de 7 mil inscritos. A programação segue disponível até sexta-feira, 21, com palestras, oficinas, minicursos e workshops. Para mais informações sobre o cronograma do evento ou inscrições, acesse o site: http://sedep.ufms.br/.

Aos inscritos que já participaram de atividades e preencheram as listas de frequências, a organização informa que a emissão de certificados será feita pelo SICERT no link: https://certificados.ufms.br/. O participante será avisado sobre a disponibilidade do certificado por e-mail cadastrado no ato de inscrição.

Texto e imagens: Gabriela Vilela e Victória de Oliveira (Estagiárias da Agecom)

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