Impactos das mudanças climáticas no patrimônio cultural é tema de ciclo de diálogos em Corumbá

O Câmpus do Pantanal (CPan) realiza a etapa regional do Ciclo de Diálogos sobre Patrimônio Cultural e Ações Climáticas, entre os dias 24 e 26 de junho, no Centro de Convenções do Pantanal de Corumbá. O evento tem como objetivo discutir como o patrimônio cultural pantaneiro será impactado pelas mudanças climáticas, assim como buscar soluções para o cenário por meio do diálogo. A atividade, que integra a campanha Eu Respeito, é gratuita e aberta, sem necessidade de inscrição prévia. 

O Ciclo de Diálogos será regionalizado pelos seis grandes biomas do Brasil e a primeira etapa deles será no Pantanal. A partir do debate, o objetivo é desenvolver um documento que será enviado para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP 30. A atividade é desenvolvida pela UFMS em parceria com o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos) e o Departamento de Articulação, Fomento e Educação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A professora do CPan e coordenadora da atividade, Luana Campos, explica que o evento é aberto a todos, mas tem foco especial em moradores de comunidades tradicionais do Pantanal. “Estamos convidando especialmente as comunidades tradicionais que ocupam território, como ribeirinhos, isqueiros, povos indígenas e quilombolas, já que o patrimônio cultural ganha uma dimensão singular na vida das comunidades de conhecimento e ocupação tradicional”.

Segundo a professora, patrimônio cultural pode ser entendido como elementos fundamentais para a vida e identidade de um povo. “É a forma como esse povo ocupa e produz no seu território, a forma com que esse povo expressa o seu conhecimento, expressa a sua história”. 

A coordenadora enfatiza que períodos prolongados de seca e ocorrência de incêndios, fenômenos potencializados no Pantanal pela crise climática, impactam diretamente patrimônios culturais. “No Pantanal, temos um patrimônio que é a festa do banho de São João, onde a fé é expressada através dos festejos que vão até o rio, que comemora o período de cheia. Mas hoje o rio está visivelmente abaixo do nível normal. O que nós estamos vendo por exemplo nesse ano é um festejo regado a fumaça e cinzas por conta das queimadas”. 

“Todo modo de vida dessas comunidades ligadas ao rio de alguma forma vai sendo impactado pelas mudanças climáticas. Nós estamos falando de uma dimensão bastante complexa e inter-relacionada. Até o momento, temos muitas dúvidas sobre o que fazer diante desse cenário. Por isso, é necessário fazer um debate regionalizado no nosso país, onde cada bioma apresenta características muito singulares”, complementa. 

De acordo com a professora, o debate promovido no bioma pantaneiro deve trazer contribuições significativas para a discussão. “Acredito que aqui no Pantanal, por termos vivo na memória muito do conhecimento tradicional vindo das populações originárias, vamos ter alguns indicativos interessantes de como transformar esses períodos de seca em algo menos danoso ou ações que possam preservar o modo de vida dessas comunidades antes da estação mais seca que tende a aumentar. Acredito que adaptação e resiliência seja palavras que vão surgir bastante no diálogo promovido no Pantanal”.

Texto: Alíria Aristides