Ao caminhar por vias públicas, é comum que os pedestres retirem o celular do bolso para checar as notificações, navegar na internet ou até atender chamadas. Situações como essas fazem parte do cotidiano, mas, além dos benefícios e facilidades que o aparelho oferece, andar e conferir o celular podem gerar consequências graves. Pesquisadores da UFMS desenvolvem um estudo que avalia os impactos do uso de celulares no equilíbrio de pedestres.
O coordenador da pesquisa e professor do Instituto de Saúde Integrada, Gustavo Christofoletti, explica que o trabalho avalia as consequências da utilização desses aparelhos em situações distintas. “O objetivo é ver o impacto do uso do celular sobre o equilíbrio estático e dinâmico das pessoas, tanto na atividade de digitação de mensagens quanto na conversação, paradas em pé ou durante caminhada. Nosso intuito é também alertar sobre o risco para o equilíbrio de fazer tarefas duplas”, relata.
Nos resultados já observados pelos pesquisadores e divulgados em periódicos nacionais e internacionais, constatou-se que o uso de celular, tanto para ligação quanto para digitação de texto, interfere na marcha dos pedrestes e geram riscos em travessias devido à distração, assim como erros de decisão, redução na velocidade e dificuldades na elaboração das mensagens. Os resultados também revelam que tanto jovens quanto idosos são impactados pelo uso do celular. No entanto, os idosos possuem maior risco devido às alterações naturais decorrentes do envelhecimento.
Sidney Afonso Sobrinho Júnior é doutorando em Saúde e Desenvolvimento no Centro-Oeste pela UFMS e um dos pesquisadores que participam da iniciativa. No mestrado, o pesquisador focou nas consequências para o público jovem. “Quem mais utiliza os celulares em ambientes públicos são jovens de 18 a 30 anos, que estão sempre buscando interação social”, explica. O pesquisador reforça que a dupla tarefa pode gerar diversos riscos para a segurança. “A pessoa negligencia o que está ao seu redor quando está digitando, ouvindo áudio ou música porque essas tarefas inibem a ação primária de caminhar. Isso afeta a capacidade do pedestre de atravessar uma rua com segurança, de olhar para os lados e, ao não prestar atenção, há maior chance de se envolver com acidentes, de necessitar de cuidados médicos”, enfatiza.
A pesquisa tem cerca de 100 participantes, divididos em grupos para análise da caminhada com ou sem o celular, em ambiente controlado e em ruas públicas, com a presença de obstáculos, irregularidades de calçadas e outras situações reais. Os grupos são formados por voluntários de idades e condições físicas distintas. “A ideia é avaliar quais fatores estão mais vinculados ao desequilíbrio de dupla tarefa, se é o sexo, nível de escolaridade, idade, presença de doenças e afecções neurológicas, como a doença de Parkinson”, explica o professor Gustavo.
Equipamentos de ponta para análise de movimentos são utilizados pelos pesquisadores durante os testes dos voluntários. Um dos equipamentos, o Baiobit, é de origem italiana e verifica a angulação e deslocamento, com análise da marcha por meio de sensores de movimentos. Parte da investigação também é feita com o Baroscan, que permite a análise da preensão plantar, a forma como ocorre a descarga do peso no pé de indivíduos parados ou andando, com ou sem o celular.
O trabalho desenvolvido envolve professores e alunos do mestrado e do doutorado da UFMS e Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Além disso, o projeto recebe apoio da Fundect e, mais recentemente, foi selecionado para recebimento de recursos na Chamada Universal do CNPq. “Esta é uma pesquisa nova em uma área muito promissora, que pode gerar muitos frutos. A gente sabe que está no caminho certo porque conseguimos apoio de fundações importantes, mas também pelo grupo de pesquisadores talentosos envolvidos no trabalho”, enfatiza o professor.
Para o pesquisador Sidney Sobrinho, projetos nesse campo são necessários devido à importância de se promover segurança no trânsito para todos, o que inclui os pedestres. “O uso do celular, da forma como está, tende a trazer muitos problemas para a saúde, acidentes, gastos públicos. As pesquisas na área são muito importantes por promover a discussão sobre o problema que acontece no mundo todo. Por isso, são necessárias políticas públicas e promover a discussão em universidades e escolas. A sociedade precisa buscar formas de harmonizar de maneira saudável o uso de celular”, conclui.
Texto: Alíria Aristides
Foto: Arquivo do pesquisador Gustavo Christofoletti