Hidrolisado proteico de guavira pode auxiliar na cicatrização e reparo tecidual

Estudo foi tema de tese no Programa de Pós-graduação em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste

Considerada fruto-símbolo de Mato Grosso do Sul, a guavira tem conquistado os mercados regional e internacional. Com sabor adocicado, ela pode ser consumida ao natural, na forma de suco, sorvete, é rica em vitamina C e também em cobre e zinco. Também conhecida por guabiroba ou gabiroba, seu processo de frutificação ocorre de novembro a janeiro. O potencial do fruto tem sido alvo de vários estudos de graduação e pós-graduação na UFMS. Para além das propriedades nutritivas, um desses trabalhos investigou o uso do hidrolisado proteico da guavira em processos de cicatrização e reparação de tecidos.

Participação como palestrante no 5º Seminário Estadual da Guavira, realizado em 2022, onde Verônica apresentou sobre a importância socioambiental da guavira para a preservação e restauração do Cerrado e o seu potencial biotecnológico para o desenvolvimento de bioprodutos e pesquisa de bioativos derivados da espécie.

Intitulada Atividade biológica do hidrolisado proteico de Campomanesia adamantium (Myrtaceae) em células endoteliais e fibroblastos, a tese foi conduzida pela técnica de laboratório da Faculdade de Medicina (Famed) Verônica Assalin Zorgetto Pinheiro. “Sou formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de São Carlos, mestra em Ciências com Ênfase em Patologia Experimental pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e, agora, doutora em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste, com ênfase em Tecnologia e Saúde com a orientação da professora Danielle Bogo”, conta Verônica.

A etapa de testes in vitro com o hidrolisado proteico de guavira

Ela disse que as pesquisas iniciaram em 2019. “A defesa da tese aconteceu no mês passado e contou com a participação das professoras e pesquisadoras Rita de Cássia Avellaneda Guimarães, Raquel Pires Campos e Maria Helena da Silva Andrade da UFMS, Ana Tereza Gomes Guerrero da Fiocruz e Carolina Moretto Carnielle do LNBio/CNPEM”, conta. “Gostaria também de acrescentar que o trabalho foi feito em parceria com outros grupos de pesquisa: a etapa de digestão enzimática foi realizada em colaboração com os meus colegas do Laboratório de Purificação de Proteínas e suas Funções Biológicas sob coordenação da professor Maria Lígia Macedo da UFMS e a análise da capacidade antioxidante in vitro foi executada em colaboração com o Laboratório de Nutrição e Metabolismo da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas sob a coordenação do professor Mário Roberto Maróstica Júnior. Além disso, a execução dos testes com células contou com o auxílio indispensável da acadêmica do curso de Farmácia da UFMS, Gabrielle Teixeira Machado, que na época fazia sua iniciação científica conosco”, lembra Verônica.

“A ideia surgiu durante uma disciplina do PPG em que tínhamos que pesquisar artigos utilizando frutos e técnicas que estávamos familiarizados. Apresentei um artigo que estudava as atividades biológicas do hidrolisado proteico de quinoa em cultura de células e me dei conta, depois de pesquisar na literatura, de que não havia ainda estudos sobre o hidrolisado proteico de frutos nativos aqui de Mato Grosso do Sul”, explica a pesquisadora. Segundo Verônica, outros fatores que também colaboraram para a escolha em trabalhar com a guavira foram suas participações nos eventos científicos desenvolvidos na UFMS em colaboração com outras instituições Simpósio de Frutos Nativos e Exóticos (Sinatex) e o Simpósio Estadual da Guavira. “Esses eventos me apresentaram esse fruto tão importante, culturalmente e socioeconomicamente falando, para o estado de Mato Grosso do Sul, uma vez que não sou natural daqui e foi à partir desses eventos que conheci pela primeira vez o fruto”, diz.

Etapa de testes in vitro com o hidrolisado proteico de guavira

Resumidamente, o objetivo do trabalho desenvolvido por Verônica foi analisar os efeitos biológicos do hidrolisado proteico de guavira em células endoteliais e fibroblastos, células que estão envolvidas em processos de cicatrização, reparo tecidual e formação de novos vasos sanguíneos. “Para atingir o objetivo central do estudo, foi feito o mapeamento do bioprocessamento dos frutos de guavira em farinha, concentrado proteico e hidrolisados. Foi feita a composição centesimal da farinha dos frutos de guavira, o isolamento do concentrado proteico e a digestão simulada gástrica in vitro desse concentrado utilizando as mesmas enzimas digestivas que atuam em nosso trato gastrointestinal”, detalha. “O produto dessa digestão é o hidrolisado proteico de guavira, um conjunto de proteínas quebradas em pedacinhos menores que chamamos de peptídeos e são esses peptídeos que podem possuir ação em nosso organismo colaborando com nossa saúde e qualidade de vida”, fala a pesquisadora.

“A farinha de frutos de guavira chama atenção por conter um alto teor de fibras, o que seria interessante para proporcionar saúde e bem-estar com seu consumo. O concentrado e o hidrolisado proteico de guavira apresentaram uma alta capacidade antioxidante in vitro o que também faz deles potenciais bioprodutos para auxiliar na saúde humana colaborando com a prevenção de doenças crônicas”, comenta. Ela enfatiza ainda que o hidrolisado proteico de guavira não apresentou toxicidade nas linhagens de células utilizadas (fibroblastos e células endoteliais) e, inclusive, estimulou a proliferação delas, o que faz dele um forte candidato para o desenvolvimento de fármacos, pomadas ou como suplemento para a aceleração e estímulo da cicatrização e reparo tecidual.

Verônica espera ainda publicar os resultados observados e entrar com pedido de patente devido ao grande potencial de desenvolvimento de novos produtos a partir da descoberta. “Como passei no concurso para técnica de laboratório no começo deste ano, está nos meus planos dar continuidade ao projeto para seguir investigando o hidrolisado proteico, isolar e identificar os peptídeos responsáveis pelos efeitos proliferativos e desenvolver bioprodutos a partir de novos resultados, contando com a colaboração de professores e laboratórios parceiros. É essencial trabalhar em colaboração para o progresso da pesquisa científica”, finaliza.

 

Texto: Vanessa Amin

Fotos: Acervo da pesquisadora