Com competência identificada e instalada, o Grupo de Óptica e Fotônica da UFMS é apontado pelo documento “Mapeamento dos principais segmentos do ecossistema de fotônica do Brasil”, como um dos polos nacionais, entre instituições científicas e tecnológicas, para desenvolvimento de pesquisas e aplicações na área.
O documento foi recém-publicado pela Coordenação-Geral de Desenvolvimento e Inovação e Tecnologias Estratégicas, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e propõe um estudo nacional de avaliação dos impactos econômicos e sociais prospectivos dos investimentos em Fotônica.
“O objetivo da pesquisa é a elaboração de relatórios técnicos, mapeamentos e levantamento de dados e informações das instituições científicas e tecnológicas, bem como dos setores público e privado relacionados à pesquisa, ao desenvolvimento e à inovação, envolvendo a área de Fotônica. Tal estudo fornecerá subsídios para a formulação de políticas públicas para a área de Fotônica, alinhadas ao Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação em Tecnologias Convergentes e Habilitadoras do MCTI, de modo a melhor atender aos objetivos do desenvolvimento econômico e social do País”, apontam os organizadores do mapeamento.
Coordenado pelos professores Anderson Caires e Samuel Leite de Oliveira (Instituto de Física), o Laboratório de Óptica e Fotônica tem como estratégia de pesquisa “aplicar as técnicas ópticas em problemas de interesse na áreas de energia, ambiental e ciências da vida.”
O significativo histórico de publicações na área, em revistas nacionais e internacionais, com o cadastrado do Grupo de pesquisa no CNPq, são alguns dos quesitos que levaram o apontamento da UFMS, assim como da Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal de Goiás (UFG), como polos de referência na região Centro-Oeste.
“Eles identificaram que a UFMS pode ser um polo de desenvolvimento regional do ponto de vista da fotônica, tentando fazer uma interface, principalmente, com a parte da agricultura de precisão e também de inteligência artificial, ligado a questão do agronegócio. Podemos ser um núcleo de referência para dar treinamento e temos uma infraestrutura para dar suporte para essa área”, afirma o professor Anderson Caires.
Esse documento é importante, segundo o coordenador, e está dentro do plano de ações de Ciência e Tecnologias convergentes e habilitadoras. “A estratégia desse documento é dar orientações a médio e longo prazo para o desenvolvimento ordenado dessa tecnologia de fotônica no Brasil, que infelizmente investe uma parcela muito ínfima quando se olha o cômputo mundial. E não podemos deixar de investir, para não ficarmos eternamente dependentes de tecnologias de outras nações. Do do ponto de vista da UFMS, esse documento pode induzir uma mobilização ordenada dos pesquisadores da área junto com os gestores”, avalia.
A partir da luz
Na fotônica, a luz é utilizada para desenvolver processos, produtos, investigar, fazer diagnósticos, desenvolver dispositivos e até mesmo possibilitar tratamentos. Uma das áreas trabalhadas pelo grupo é a biofotônica, que utiliza a fotônica para aplicações na biologia, como para inativar superbactérias ou fazer o controle populacional do Aedes aegypti.
“Em nosso laboratório desenvolvemos novas tecnologias e dispositivos baseados na luz, nossa ferramenta principal. Temos tecnologia para avaliar biocombustível, por exemplo, propondo metodologias alternativas às convencionais para quantificar adulterantes no diesel e biodiesel, para monitorar degradação de biocombustíveis e óleos vegetais, fazer um controle de qualidade desses produtos. Também usamos a luz para interagir com plantas, investigar seus status fisiológico, retirar informações de como está o ambiente, pois se está contaminado a planta sofre, não produz energia química como deveria e usamos a luz para investigar a vitalidade das plantas e propor ações que possam resultar em um aumento de produtividade vegetal”, expõe o coordenador.
Os pesquisadores podem, a partir da fotônica, dizer se a planta tem um déficit de mineral ou não. “Isso é importante porque as vezes se gasta muito dinheiro fazendo um processo de fertilização, mas talvez seja numa área que não necessitasse fazer. Então, pode-se entrar na agricultura de precisão, e com tecnologias inovadoras, avaliar toda ou parte da cadeia que está produzindo e tentar minimizar os custos ou tentar melhorar os produtos ou processos”, completa.
É possível detectar se uma planta está em estresse hídrico, detectar pesticidas e seus níveis. O professor explica que hoje se gasta muito, porque muitas vezes se faz pulverizações em momentos inadequados e com a fotônica pode-se apontar o momento exato para essa aplicação, ajudando o produtor e o meio ambiente.
Pode-se ainda ajudar a melhorar a produtividade, como detectar doenças em plantas ou em grãos previamente. Em vários desses processos é possível utilizar a luz solar, que é de graça, limpa, abundante, renovável, sem qualquer agressão à planta.
“Já trabalhamos num projeto de detecção prévia da ferrugem asiática – doença causada por fungo na soja, e mesmo com as tecnologias que temos hoje, a maneira de se fazer a detecção da ferrugem asiática é com uma lupa; o especialista olha na folha e consegue identificar, mas quando ele o faz significa que o fungo já está ali há sete ou dez dias. Se usarmos a luz e eu “converso” com a clorofila, a medida em que o fungo começa a alterar a produção de energia química, começa a alterar a fotossíntese da planta, já consigo fazer uma detecção precoce. Então, vou a tempo de combater, de fazer todo o manejo que é necessário. Isso é um exemplo, mas serve para outros cultivares”, aponta Anderson.
O Grupo de Óptica e Fotônica é formado por professores, técnicos, alunos de iniciação científica, de Mestrado e Doutorado dos Programas de Pós-graduação em Ciências dos Materiais e de Química e estão inserido no Programa Capes Print na grande área de Química. O grupo faz parte do INCT de Óptica Básica e Aplicada às Ciências da Vida, liderado pela Universidade de São Paulo, e está articulado com outros centros de pesquisas do Brasil e internacionais.
Veja aqui o Mapeamento (MCTI/Unesco).
Texto: Paula Pimenta