Ética em pesquisas científicas é tema de palestra

Atividade integra programação do 2º Workshop de Etnobiologia da UFMS que é realizado hoje e amanhã

Nesta quinta-feira, 29, pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação têm a chance de participar de palestra para discutir aspectos éticos na pesquisa científica. O evento é realizado pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares: aspectos ambientais, culturais e socioeconômicos e Laboratório de Etnobotânica, ambos vinculados ao Instituto de Biociências (Inbio) da UFMS.

“Será que estamos agindo com conduta séria e ética na condução de nossos grupos de pesquisa e na formação dos recursos humanos?”, questiona o coordenador da palestra e professor do Inbio, Reinaldo Lucena. De acordo com Lucena, a ênfase das discussões será sobre a atuação enquanto pesquisadores.

Para ministrar a palestra foi convidado o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Ulysses Paulino de Albuquerque. “Tomando por base toda a formação acadêmica e experiência do professor Ulysses, o evento será muito importante para a comunidade acadêmica da UFMS, pois nos permitirá um momento para amplo debate sobre questões como: qual pesquisa estamos desenvolvendo? qual contribuição estamos trazendo para a ciência e para a sociedade? como estamos formando os nossos alunos? como temos interagido com pesquisadores nacionais e internacionais? Levando-nos a uma profunda reflexão sobre a ciência no Brasil e sobre a ciência que estamos conduzindo na UFMS”, ressalta.

“É a minha primeira vez em Mato Grosso do Sul. Tenho viajado pouco para a região e só por isso já estou muito empolgado. Além de encontrar parceiros de pesquisa, terei a oportunidade de falar de uma tema que me encanta”, destaca o professor da UFPE. Ulysses é doutor em Biologia Vegetal  pela UFPE, com realização de estágio no laboratório de etnobotânica da Universidade Nacional Autônoma do México sob a supervisão do Dr. Javier Caballero. Já foi presidente da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia e integrou a Sociedade Latino-americana de Etnobiologia.

Publicou vários artigos em periódicos especializados e trabalhos em anais de eventos. Atua na área de botânica, ecologia e antropologia ecológica, com ênfase em etnobiologia. Tem interesse especial voltado para a compreensão dos fatores que modulam a relação entre pessoas e outros seres vivos na interface ecologia e processos evolutivos. É membro do corpo editorial das revistas Plos One, Economic Botany, Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, Ethnobotany Research and Applications e Ethnobiology and Conservation. Em 2022, em uma pesquisa publicada por cientistas da Universidade de Stanford, integrou a lista dos 100 mil pesquisadores mais influentes do mundo. Atualmente ocupa a cadeira 46 da Academia Pernambucana de Ciência.

“No contexto pós-pandemia, observamos um amplo debate e valorização da ciência. No entanto, é crucial reconhecer suas limitações e crises. Como cientista, sinto a necessidade de abordar abertamente essas questões, e a ética na ciência emerge como um tema de extrema importância. É essencial promover reflexões sinceras junto aos nossos grupos de pesquisa e alunos, a fim de evitar que as próximas gerações de cientistas se envolvam em práticas éticas questionáveis que poderiam ser solucionadas por meio de discussões esclarecedoras”, ressalta Ulysses. “Como humanos, os cientistas estão sujeitos a influências externas, como pressões políticas, financeiras e vieses inconscientes. Ao reconhecer abertamente essas limitações e crises, fortalecemos a integridade da comunidade científica e buscamos soluções éticas para os desafios que enfrentamos”, fala.

Segundo o pesquisador, um aspecto importante a ser debatido é a comunicação científica. “Durante a pandemia, ficou evidente a rapidez com que as informações científicas se espalham e como isso afeta diretamente a saúde e o bem-estar da sociedade. A ética na comunicação científica envolve a transparência na divulgação de resultados, a clareza na apresentação dos dados e a responsabilidade em evitar a disseminação de informações enganosas. Ao abordar essas questões, podemos garantir que a sociedade confie na ciência e tome decisões informadas”, diz.

“Além disso, é fundamental refletir sobre a diversidade e inclusão na ciência. A ausência de representatividade de certos grupos dentro da comunidade científica pode resultar em uma ciência tendenciosa e limitada. Devemos promover um ambiente inclusivo, onde todas as vozes sejam ouvidas e respeitadas, para que a pesquisa científica seja verdadeiramente abrangente e equitativa. Essa abordagem ética garante que as perspectivas diversas sejam consideradas, enriquecendo a qualidade e a relevância do conhecimento científico produzido”, comenta o pesquisador.

Ele destaca, ainda que a ética na ciência não pode mais ser negligenciada. “Ao abordar de forma aberta as limitações e crises da ciência, estamos pavimentando o caminho para uma prática científica mais responsável, transparente e inclusiva. É fundamental envolver nossos grupos de pesquisa e alunos nessa reflexão, a fim de construir um futuro em que a ética seja um pilar fundamental em nossas atividades científicas”, conclui.

Sorteio de livros

Quem participar da palestra ministrada pelo professor Ulysses concorrerá a um sorteio de quatro livros de autoria do pesquisador em parceria com outros cientistas: Trajetórias Acadêmicas, O que você precisa saber sobre ciência para não passar vergonha, Aprendendo Etnobiologia e Introdução ao Antropoceno.

Mais informações

A palestra será realizada no auditório do Inbio, na Cidade Universitária, das 16h30 às 18h, e integra a programação do segundo Workshop de Etnobiologia. O evento é totalmente gratuito e será transmitido pelas plataformas digitais para a comunidade externa. Na programação do 2º Workshop estão palestras sobre temas variados, realizadas durante todo o dia 28 e 29. A primeira terá como tema uma revisão sistemática cadeia produtiva da bocaiúva. É necessário fazer inscrição prévia apenas para quem desejar obter certificado: link.ufms.br/etnobiologia, onde também é possível conferir a programação completa.

 

Texto: Vanessa Amin

Foto: Arquivo Pessoal