Estudo visa a desvendar reendereçamento de clássicos da literatura

No Câmpus de Três Lagoas (CPTL) a professora Amaya Obata Mouriño de Almeida Prado, do curso de Letras, coordena uma pesquisa que visa a observar como tem sido a transmissão da obra Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, para os jovens leitores brasileiros, distanciados do universo hispânico e de sua língua. Intitulado “Reendereçamentos de Dom Quixote: concepção de público leitor”, o estudo nasceu da observação da professora do surgimento de muitas adaptações da obra que, segundo Amaya, têm um claro direcionamento para o público escolar.

“As diversas adaptações foram objeto de compras governamentais para distribuição nas escolas públicas. Assim, essa quantidade de adaptações e essa distribuição nos permitem levantar hipóteses de que determinados públicos poderiam requerer projetos editoriais com características específicas e que os textos, por seu turno, poderiam conter aspectos estruturais e estilísticos escolhidos a partir de uma concepção prévia de público leitor”, explica.

A pesquisa vem sendo desenvolvida informalmente há pelo menos dois anos, mas, a partir de 2015, foi organizado um grupo de estudos e discussões do qual participam alguns acadêmicos do curso de Letras. Do 1º semestre de Letras/Literatura do CPTL participam: Cláudia Regina Pereira, Clayton Martins da Silva e Beatriz Nunes. Do mesmo curso, mas do 5º semestre participam: Ana Elisa Toneti, Lucas Borel Cristiano e Milena Claudino. E do 5º semestre de Letras/Espanhol do CPTL participam: Flávio Faccioni, Gabriela Carvalho dos Santos e Inês dos Santos Reis. Além da professora, outro docente envolvido na pesquisa é Wagner Corsino Enedino também do CPTL.

O grupo realiza reuniões semanais para discutir textos lidos. “Há um corpus teórico comum, que parte de textos da Estética da Recepção, das teorias sobre Letramento Literário, de Crítica Literária e de estudos imanentes dos textos literários. Quanto a estes, há uma abertura para que se analisem os reendereçamentos de outras obras canônicas e por isso cada participante teve a liberdade de selecionar uma obra de seu interesse”, explica a professora que ministra as disciplinas de Literatura Infanto-juvenil e Literaturas de Língua Espanhola.

Proj Pesqu  CPTL

De acordo com Amaya são encontradas com facilidade muitas adaptações, algumas delas produzidas para o público escolar, cuja principal característica é a extrema simplificação, tanto do conteúdo como da forma, fato que, via de regra, descaracteriza o texto clássico. Tais alterações são geralmente justificadas pelos adaptadores e editores em paratextos, com argumento de facilitar a leitura. “Pretendemos proceder ao levantamento das edições existentes no mercado editorial brasileiro, identificando seus autores e ilustradores, edições e tiragens, com o objetivo de traçar um percurso histórico da difusão do clássico. Outra preocupação é com a identificação do perfil do leitor que pode ser depreendido dessas produções”, reforça.

Atualmente a pesquisa está na fase de estudos dos textos teóricos e de leitura e análise de diversos textos literários. Além das adaptações de Dom Quixote, os pesquisadores estão também definindo quais obras vão compor o corpus de cada participante. Por enquanto o projeto não conta com fomento, mas está inscrito em editais e aguardando resultados. “Os próximos passos na pesquisa são o levantamento e a descrição das adaptações disponíveis no mercado, seja de Dom Quixote, seja das outras obras que serão analisadas e o prazo de finalização previsto para o estudo é 2017”, finaliza a professora.