Pesquisa da Faculdade de Medicina (Famed) foi contemplada com o 1º lugar no prêmio Victor Politano, do Congresso da Confederação Americana de Urologia 2023. A premiação é voltada aos melhores pôsteres enviados ao evento, que será realizado em Santiago no Chile, de 4 a 7 de outubro.
O trabalho de Henrique Scherer Coelho traz os resultados de um tratamento inédito desenvolvido na Universidade para o tratamento da bexiga hipoativa. O pesquisador utilizou células-tronco mesenquimais do tecido adiposo para tratar pacientes com incapacidade de contrair a bexiga, que acabam acumulando urina e assim necessitam de atendimento médico constante.
Henrique é mestre e doutor em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste pela UFMS e desenvolveu o trabalho premiado sob a orientação do professor Rodrigo Juliano Oliveira, da Famed, no Centro de Estudos em Células-Tronco, Terapia Celular e Genética Toxicológica (CeTroGen).
Segundo o orientador, os pacientes com bexiga hipoativa são frequentes no ambulatório de urologia e trazem gastos aos Sistema Único de Saúde. “São acometidos por muitas infecções urinárias devido à realização do cateterismo intermitente limpo pelo menos cinco vezes ao dia, por frequentemente ocuparem leitos de internação, e por, em geral, evoluírem para doença renal crônica, necessitando de hemodiálise e todo o acompanhamento que essa condição requer”, explicou.
Os pacientes participantes da pesquisa na UFMS foram submetidos a uma mini-lipoaspiração, as células foram processadas no CeTroGen e na sequência transplantadas para os pacientes (transplante autólogo) em duas ocasiões, com um intervalo de 30 dias. Os resultados demonstraram que a terapia celular aumentou o fluxo máximo, o fluxo médio e volume urinado e reduziu o volume residual no exame de urofluxometria. Observou-se ainda aumento do fluxo máximo, da pressão detrusora máxima, do volume urinário e do índice de contratilidade vesical no estudo de fluxo pressão.
Assim, sete dos nove pacientes tratados não precisaram mais dos cateterismos diários e dois reduziram a quantidade necessária. “Isso representa melhora da qualidade de vida e retorno às atividades diárias”, apontou o pesquisador Henrique.
“Concluímos que a terapia celular com células-tronco mesenquimais é segura e deve ser considerada uma nova opção terapêutica para o tratamento da hipoatividade detrusora, que até o presente momento não possui tratamento eficaz na medicina tradicional. Devido ao ineditismo desse estudo, buscamos divulgar o seu resultado reforçando que essa terapia é genuinamente sul-matogrossense. Nós fomos os primeiros pesquisadores no mundo a desenvolvê-la”, destacou o professor Rodrigo. Os pesquisadores agora irão buscar o registro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para que as terapias possam ser utilizadas em serviços e não somente como pesquisas.
Quanto ao prêmio, Henrique disse ser uma motivação para continuar atuando em projetos de pesquisas de ponta em outras doenças ainda sem tratamento efetivo. “Agradeço o professor Rodrigo Juliano, ao CeTroGen e ao programa de pós-graduação em Saúde e Desenvolvimento da Região Centro-Oeste pelo apoio que foi essencial para o desenvolvimento do projeto”, finalizou o autor.
Os trabalhos já publicados sobre a pesquisa e que atestam o ineditismo dos resultados podem ser acessados na Revista Biomedicines, na Brazilian Journal of Biology e na Stem Cell Research & Therapy.
Texto: Ariane Comineti
Foto: Álvaro Herculano