Novos hábitos em virtude da pandemia do Coronavírus, que impôs adequações em todos os setores, levaram formandos de Administração da UFMS a analisar o valor das empresas e a adaptação de seus modelos de negócios em função da Covid-19.
Em Trabalho de Conclusão de Curso, os acadêmicos Henrique Salina de Oliveira, Júlia Almeida Lamim e Marcelo Braga Paulino, orientados pela professora Thelma Lucchese Cheung, da Escola de Administração e Negócios (Esan), escolheram nove empresas para analisar: Make Burguer, Receita 00, Maracutaia, Niura, Mínimos, Domino´s, Ambev, Malibu Bartenders e Outback.
De acordo com os graduandos, as empresas foram “escolhidas com base na observação feita pelo grupo sobre mudanças positivas das mesmas em relação a este período de isolação social, e pelas soluções criadas que consideramos interessantes. E todas as empresas tem em comum o fato de serem do ramo alimentício”.
O grupo iniciou com pesquisas nas redes sociais das empresas, sites, matérias de jornais, entrevistas e ligações. “Posteriormente, foram revisados os textos por todos os acadêmicos e feita a troca de informações sobre o que poderia ser corrigido ou alterado. Depois, os textos foram passados para o programa IraMuteQ que nos forneceu os dados solicitados pela professora, onde mostram a estrutura de nosso texto, os termos em destaque e a nossa Nuvem de Palavras”, expõem os estudantes.
Resultados
A pesquisa, que levanta as propostas de valor e modelos de negócio das empresas selecionadas, mostrou que a maior parte das organizações, com o atual cenário da pandemia causada pela Covid-19, apenas teve a necessidade de impor mudanças à estrutura de funcionamento de suas empresas, e não à sua proposta de valor original.
“Para analisar esse ponto, é importante salientar que esses negócios já possuíam de maneira clara e objetiva a maneira que seus produtos e serviços entregavam valor aos seus consumidores, demonstrando então que esse é um passo importante para a sobrevivência de um negócio em tempos de crise. Ainda, o uso da tecnologia para adaptar os modelos de negócio também fora aproveitado, e pode ser considerado uma etapa essencial, já que 100% das empresas estudadas alternaram seus canais de distribuição para método delivery”, explicam os acadêmicos.
Percebeu-se que o relacionamento com os clientes também necessitou ser aproximado, para que houvesse a certificação do entendimento do novo modelo de negócios ou para relembrar o consumidor da marca, como no caso da Malibu Bartenders.
“Ações como a da Ambev, empresa mais popular pelo público em geral, seguem a mesma conduta desse último ponto, porém demonstram o uso da pandemia para fomentar práticas de marketing, onde a empresa será lembrada por suas “atitudes de solidariedade” durante o cenário da Covid-19”, dizem.
Foi preciso ainda trabalhar a criatividade, oferecendo novos produtos de forma a atender uma nova demanda de consumidores diante de realidades como o isolamento social, surgindo aí comidas congeladas, aplicativos personalizados para entrega e novas adaptações de produtos.
Para os pesquisadores, alterar o público-alvo também pode ser considerada uma saída, caso observado na Malibu Bartenders, que conseguiu partir do setor de atendimento de eventos para experiências íntimas dentro de casa.
“Com isso, acredita-se que a proposta de valor em tempos de pandemia esteja diretamente e, principalmente, ligada ao relacionamento com o cliente. Mais do que antes, há a necessidade de trabalhar na fidelização dos usuários e consumidores dos produtos e serviços oferecidos, garantindo que não haja esquecimento da marca. Uma empresa bem posicionada, seja com estratégias de marketing, como a Ambev ou preocupação com o bem-estar dos clientes, como a hamburgueria Make Burgers, não está fadada a necessitar de grandes mudanças para fidelizar clientes”, analisam.
A preocupação com uma possível contaminação, também força as empresas a repensarem seus layouts internos para recebem seus clientes para consumo local, incluindo ações como fixação de número máximo de cliente por vez, disposição das mesas e barreiras de proteção, adoção de plataformas digitais para reserva de mesas e até mesmo um cardápio virtual, além no controle de higienização de todo o local.
Todas as novas práticas, segundo os estudantes, permitem melhora na relação entre as empresas e os consumidores e as experiências de compra se tornam muito mais valiosas e proveitosas.
Nuvem de Palavras e Análise de Similitude
As análises realizadas por meio de um software de análise textual e estatística de domínio público conhecido como IraMuteQ possibilitaram aos acadêmicos apresentar resultados com base nas informações coletadas anteriormente.
“O referido programa é capaz de mapear as informações de todos os dados previamente tratados para serem inseridos no mesmo. O IraMuteQ, em conjunto com uma base de dados estatísticos conhecido como R para análises de conteúdo, lexicometria e análise do discurso, nos trouxe resultados importante para a conclusão do nosso estudo por meio de Nuvem de Palavras e Análise de Similitude”, expõem.
A Nuvem de Palavras expôs que as nove empresas analisadas possuem preocupações em comum com os seus clientes, funcionários e em como adaptar as suas propostas de valores.
“A ênfase em ‘Cliente’ e ‘Empresa’ demonstrou que as nove empresas analisadas se dedicaram em manter um bom relacionamento com seus clientes, sendo necessário sofrer algumas mudanças nas suas propostas de valores, até mesmo uma readequação no plano de atendimento que antes era praticamente focado no atendimento presencial e agora passou adotar o sistema de entregas (delivery) para o consumidor, mas sem perder a sua essência”, afirmam.
Já a Análise de Similitude baseia-se na teoria dos grafos, ramo da Matemática que estuda as relações entre os objetos de um determinado conjunto.
“Ao analisarmos o resultado obtido, percebe-se que há uma forte ligação entre a Empresa, Proposta de Valor e Cliente, com isso é possível identificar as mudanças realizadas pelas empresas para se adequarem ao cenário que estamos vivendo atualmente. Não só as empresas mudaram suas propostas de valores, mas também seus clientes começaram a se adaptar com o novo modelo de atendimento, logo, seu olhar para a qualidade do serviço prestado e a qualidade do produto que receberá em sua casa ou até mesmo retirar no local, aumentou de forma significativa”.
Texto: Paula Pimenta