Enxergar-se em cases de crescimento, desenvoltura, superação, nada menos que êxito, é o reflexo que acadêmicos de disciplinas oferecidas na Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia (Faeng) querem ver na tela do computador ou celular quando estão cara a cara – por encontros virtuais – com empresários e managers de sucesso do Brasil e de outras partes do mundo.
“No planejamento das minhas disciplinas, na Faeng, costumo incluir atividades como visitas técnicas e palestras. Em razão da pandemia as visitas foram suspensas. No entanto, em três turmas – Fundamentos da Administração, Empreendedorismo e Gestão da Cadeia de Suprimentos – já recebi 13 convidados locais, de São Paulo, da Bélgica e da Colômbia para conversas com os alunos”, explica o professor Francisco Bayardo que apostou na oportunidade de reduzir fronteiras com os meetings on-line.
As atividades são relevantes para o processo de desenvolvimento profissional dos alunos, garante o professor, que ganham em histórias de carreira, das empresas, das estratégias, de erros e acertos, das novas ferramentas de trabalho, um legado para fracionar em conhecimento e posterior aplicação.
“Observo cada vez mais a importância da participação das empresas na Universidade. É uma parceria em que ambos ganham muito. Em alguns casos, vagas de estágio, parceria para projetos, e mais visitas técnicas”, diz Francisco.
Cadeia de Suprimentos
Quase finalizando o curso de Engenharia de Produção, a acadêmica Luiza Abreu Medeiros classifica as palestras como ótimas para o acesso a informações diferentes e super valiosas por virem de pessoas que estão trabalhando e colocando em prática vários conceitos que os alunos aprendem nas aulas.
“Ter acesso a esse tipo de informação motiva a empreender ou trabalhar em alguma área específica. Quando eu entrei no curso de Engenharia de Produção, não sabia muito bem o que seguir e as palestras que o professor promove me ajudam muito a ter um rumo de quais serão meus próximos passos. Quando o palestrante é um egresso do nosso curso e ocupa um cargo de destaque em uma multinacional no exterior faz a gente ficar ainda mais animado com as possibilidades que nós podemos ter. Os profissionais são super abertos a dúvidas, e nós trocamos muitas ideias proveitosas”, expõe.
Para a formanda, é incrível o fato de o professor utilizar as aulas a distância para trazer palestrantes de Campo Grande e também de outros países para conversas com os alunos.
“Talvez essa experiência nós não teríamos no modelo de aula presencial. A iniciativa do professor em fazer isso mantém a gente motivado na matéria e também serve de entretenimento no meio do isolamento, porque a forma como o ele e o convidado conduzem a palestra é bem dinâmico e faz com que a gente fique pensando e relacionando os conceitos e as matérias que já aprendemos”, assegura.
Convidado na disciplina Gestão da Cadeia de Suprimentos, Eduardo Freme, Country Manager para Colômbia, América Central & Caribe na Asics Corporation, que atualmente vive em Bogotá, afirma que o trabalho do professor Francisco de aproximar alunos e profissionais do mercado é extremamente valioso e deveria servir como referência para todas as universidades do país.
“É ótimo para o aluno e para os profissionais. O contato com o mundo universitário é algo que renova minhas energias. Nosso dia a dia no trabalho é intenso, muito focado em uma série de urgências e problemas do negócio. Quanto tenho contato com os estudantes e professores universitários, percebo o quanto o mundo é muito mais amplo do que meu dia a dia. Eles trazem perguntas interessantes, pontos de vistas diversos, conhecimentos e vivências ricas. Além disso, fico feliz que possa compartilhar um pouco de informação que de alguma maneira vai ser útil para eles. É gratificante poder ajuda”, afirma Eduardo.
A primeira grande dificuldade para alcançar os melhores resultados na área de Cadeia de Suprimentos está no desenvolvimento de talentos, segundo o manager da Asics.
“No Brasil, treinamos pouco e treinamos mal nossos profissionais. Temos sérios problemas de produtividade em quase todos os setores. Mesmo com altos índices de desemprego, quando abrimos uma posição é difícil achar profissionais com algumas qualificações que deveriam ser comuns. Vemos muita dificuldade em análises e interpretação de números e gráficos, ponto crítico para um profissional de Supply Chain. Também encontramos limitações em ferramental, como dificuldade para realizar operações simples no Excel. O Brasil precisa urgentemente superar esse tema, e isso envolve um esforço do Governo, das Empresas e também do indivíduo”, pontua.
Para Eduardo Frame, os acadêmicos prestes a se formar devem aproveitar esse momento para descobrir o que realmente gostam e por onde querem seguir carreira, investindo muito tempo em pesquisas e entendendo as empresas e setores que podem fazer sentido trabalhar.
“Entenda com profundidade cada um deles. Escolha os que te interessam e busque vagas nessas empresas. Trabalhe em uns dois ou três lugares diferentes antes de se consolidar em um caminho. A fase de estágio e recém-formados nos permite explorar essas alternativas. Isso fará uma diferença enorme na carreira inteira. Outro ponto importante é estudar muito, aprender novos idiomas, fazer cursos complementares e ler muito. De agora em diante, essas atividades são uma das fontes mais ricas de construção de conhecimento. A diferença desse tipo de prática no longo prazo é impressionante”, afirma.
Empreendedorismo
Há cinco anos como empresária do Green Souk Mercado Natural, após onze anos atuando como jornalista, Debora Charro compartilhou com a turma de Empreendedorismo algo que aconteceu naturalmente e que a fez se encontrar no ramo que assumiu.
“Para empreender de forma satisfatória, a pessoa tem de entender o dom dela e ter prazer em fazer aquilo que está empreendendo, não pensar nisso como uma forma financeira, mas como algo quer será prazeroso, que irá dedicar boa parte do seu tempo. Tem de ser algo que te dê satisfação, porque a parte financeira automaticamente vai acontecer se estivermos realmente dispostos em empreender naquilo que estamos buscando”, afirma.
Para a empresária, que pela primeira vez esteve em uma aula de vídeo, a participação mais ativa dos acadêmicos, em comparação com uma aula presencial, foi algo que lhe chamou atenção.
Acadêmico de Engenharia Elétrica, Rafael Vargas já teve oportunidade de fazer cursos e matérias voltadas para a área de empreendedorismo, desenvolvimento profissional, mas nunca de estar interagindo com pessoas que já passaram por todo o processo e tiveram êxito.
“É muito interessante conversar com essas pessoas, poder trocar ideias, ver os pontos que deram certo e não deram, sempre trazendo um feedback aos contar suas histórias, passo a passo, as falhas, as conquistas. Isso traz muito mais para a nossa realidade, porque sempre vemos os empresários, as pessoas de sucesso nas mídias, mas conversar, dialogar, trocar ideia, humaniza muito mais essa pessoa e torna muito mais real, plausível, palpável”, garante o estudante.
Classificados de geniais pelo acadêmico, os encontros on-line diferenciam-se também pela liberdade de conversar, de fazer questionamentos, por um bate-papo muito mais leve e ao mesmo tempo muito mais informativo.
“Conseguimos sanar nossas dúvidas já durante as conversas, é uma experiencia muito legal, porque os empresários são geralmente da nossa faixa etária, por isso tem uma linguagem mais despojada, mais solta, mais fácil de entender. Conseguem nos cativar, é tudo mais fluído. Com essas palestras ocorrendo de forma on-line, a distância, às vezes os alunos até se sentem mais a vontade de fazer questionamentos. Tem funcionado muito bem e nos ajuda a nos mantermos mais ligado, mais constante nos nossos estudos, engajados nessa matéria”, completa Rafael.
A variabilidade é grande entre os convidados que passeiam por diferentes segmentos e empreendimentos, como nas áreas de comes e bebes, setor de roupas, ou até mesmo que atuam na área de Direito advogando para Start ups.
Resiliência seria a palavra para resumir todos os profissionais convidados. “Eles têm esse ponto em comum: a determinação de continuar, de passar pelas dificuldades, mas se recuperar, não se deixar abalar, isso é muito valioso para a gente, principalmente nesse momento que vivemos incertezas. Trazendo essa mensagem de esperança, de perseverança, têm nos ajudado bastante”.
Texto: Paula Pimenta