Estudante de doutorado é premiada pelo Conselho Federal de Administração

A doutoranda em Administração, Marilza Trindade Mendonça, foi contemplada com o Prêmio CFA Guerreiro Ramos – edição 2023, do Conselho Federal de Administração. O projeto intitulado Incubadoras 3.0*: Transformando as Incubadoras de Empresas do Município de Campo Grande (MS) em Ambientes de Inovação Contemporâneos, foi o vencedor na categoria Práticas inovadoras

Apesar de o projeto não ser o desenvolvido no Doutorado em Administração, na Escola de Administração e Negócios da UFMS, ambos têm o mesmo objeto de estudo, as incubadoras de empresas, e, de forma implícita, o projeto tem base na teoria principal da tese em finalização. O objetivo geral da tese de Marilza é analisar as dimensões da percepção de valor transformador percebidas por empresas incubadas e transmitidas aos consumidores do segmento de alimentos no Brasil. 

Segundo o orientador, professor Filipe Quevedo Pires de Oliveira e Silva, o valor transformador é aquele capaz de oferecer mudanças edificantes e promover o bem-estar para as pessoas. “Entendemos que as incubadoras proporcionam justamente isso para as empresas incubadas. Queremos avaliar isso e entender também como isso ‘transborda’ para os consumidores das empresas incubadas. A pesquisa está em fase de finalização e deve ser defendida no primeiro semestre de 2024”, informou.

Projeto vencedor

Marilza Trindade Mendonça é administradora concursada da prefeitura de Campo Grande e contou que as incubadoras se tornaram seu objeto de estudo no doutorado, pois já estudava a teoria do valor percebido desde o mestrado, e, paralelo a isso, percebeu a importância de trazer a teoria para as incubadoras de empresas que já existiam no município. “Eu entendi que, adequando-as, elas serão capazes de propor valor aos incubados, além de poder nivelar todas elas a padrões nacionais e internacionais de excelência”, comentou. 

Atualmente diretora de Administração e Finanças na Fundação Municipal de Esportes, Marilza desenvolveu o projeto vencedor do Prêmio CFA Guerreiro Ramos enquanto esteve como superintendente de Fomento à Ciência, Tecnologia, Inovação e Incubação na Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Econômico e Agronegócio de Campo Grande. “Utilizei diversas ferramentas da Administração, inicialmente, fiz um diagnóstico de como funcionava a secretaria como um todo, e, especificamente a minha superintendência que cuidava das incubadoras de empresas, dentre outras funções. Uma análise SWOT foi realizada, e baseada nestes levantamentos, listei tudo que seria necessário mudar, para que eu pudesse transformar as incubadoras. Desde as leis, a propriamente o ambiente delas e o programa de incubação ofertado. O propósito era sinalizar a proposição de valor tanto na lei quanto na oferta do serviço”, disse.

A doutoranda explicou que ao longo das etapas do projeto alguns resultados já foram alcançados. “A primeira etapa consistiu em instituir a Lei Municipal das Incubadoras de Empresas, em novembro de 2021, o que deu segurança jurídica para a atuação das incubadoras, que funcionavam desde 2003 apenas com um decreto. A Lei da Inovação do Município, instituída em março de 2022; a reformulação da Lei de Incentivo Fiscal e a publicação do Decreto da Escola de Empreendedorismo também garantiram mais segurança jurídica às incubadoras de alguma forma”, elucidou. 

Na segunda etapa, referente às reformas estruturais nas incubadoras, uma já foi reformada por completo e as outras três encontram-se em andamento. A terceira fase consiste em modernizá-las, ou seja, tornar os ambientes arrojados e equipá-los com tecnologia e inovação como ambientes compartilhados, biodigestores, energia solar, laboratórios maker, entre outros. “Esta fase está em vias de captação de recursos, já tendo sido captado um recurso inicial junto à Financiadora de Estudos e Projetos, que deverão ser investidos no futuro Parque Tecnológico, bem como nas incubadoras de empresas, tornando-as também, hubs do parque tecnológico. E, por fim, a última fase, já iniciada, é a aquisição do programa de incubação baseado nos oito eixos da Administração, previsto na nova Lei, que garante ao incubado capacitações e o serviço de gestão para a sua empresa. Atualmente encontra-se em processo de estudo técnico preliminar para a aquisição via licitação”, informou. 

A administradora frisou que para o projeto funcionar em sua plenitude, a gestão da prefeitura precisa entender sua importância para a sociedade, devendo o gestor executar o que determina a Lei das Incubadoras. Para Marilza, trabalhar com a gestão pública é um desafio diário, pois os recursos são limitados e há impactos tanto da variável política, quanto da técnica na tomada de decisão. “Há também uma tremenda responsabilidade com o dinheiro que não é nosso, é da população, então, para o administrador, é um constante jogo de equilíbrio. E, pode parecer que não, mas nós sofremos por entender que temos que investir em diversas áreas para a melhoria do bem-estar das pessoas e muitas vezes estamos de mãos atadas”, comentou.

Premiação

Sobre a premiação a doutoranda atribuiu o significado de coroar seu empenho por acreditar que pode fazer a diferença na gestão, por meio de tudo que aprendeu e aprende na Universidade. “Demonstra que estou no caminho certo e que penso bons projetos para que a gestão pública melhore e consiga entregar um serviço de qualidade, e, sobretudo, que a população possa um dia perceber esse valor, que não só eu mas muitos de nós servidores lutamos diariamente para conseguir entregar. Para a minha formação, significa que fui feliz na escolha do objeto de estudo, as incubadoras de empresas, feliz pelo apoio que recebi do meu orientador, que compreendeu de imediato a relevância de estudar algo com o qual eu estava trabalhando no momento na Superintendência de Inovação, e por perceber que o estudo poderá ser uma contribuição relevante para o mercado do empreendedorismo e da inovação”, falou.

“Tenho grande orgulho da Marilza não só pela premiação, mas pelo trabalho desenvolvido no doutorado. Entendemos que as pesquisas científicas devem extrapolar o ambiente acadêmico e trazer impacto real para o dia a dia das empresas e pessoas. Buscamos isso constantemente na Universidade. O trabalho da Marilza tem justamente esse foco e a premiação é um grande reconhecimento disso”, finalizou o orientador.

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Texto: Ariane Comineti 

Fotos: Arquivo da doutoranda  

*O formato Incubadora 3.0 remete à terceira geração de Incubadoras de Empresas segundo a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec/Sebrae), que diz respeito àquele formato que fornece ao empreendedor incubado um espaço físico adequado às instalações de sua empresa e também conexões em redes, seja de fornecedores, de compradores, etc, e facilidade ao crédito para o seu desenvolvimento. No projeto premiado, a doutoranda vislumbrou também uma possível próxima geração, que poderá ser a de sustentabilidade ecológica, por isso inseriu biodigestores e energia limpa em sua concepção.