Cotutela com Université Grenoble Alpes, tese estuda sistema de avaliação de livros didáticos nos anos iniciais

“A noosfera, um lugar de tensão para o currículo. Estudo didático de um sistema de avaliação de livros didáticos sobre o estudo do campo aditivo nos anos iniciais” é o título da tese em cotutela entre a UFMS e Université Grenoble Alpes (França), defendida hoje pela doutoranda Danielly Kaspary, do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática.

Essa é mais uma tese em cotutela que vem se somar ao projeto de internacionalização da UFMS. A doutoranda foi orientada pela professora Marilena Bittar (Instituto de Matemática) e pelo professor Hamid Chaachoua, da Universidade Grenoble Alpes e agora terá dupla diplomação.

“No centro desta pesquisa está o estudo das relações entre o Programa Nacional do Livro Didático e os livros didáticos, desde quando este programa foi implementado, em 1994, até 2016, quando iniciou o doutorado. Seu estudo toma como caso particular o campo aditivo, composto das operações de adição e subtração, nos cinco primeiros anos do ensino fundamental brasileiro”, expõe a professora orientadora, Marilena Bittar.

Na tese, a doutoranda discute a influência do PNLD sobre o que é veiculado nos livros didáticos, esclarece a orientadora, apontando possibilidades e limites deste que é um dos maiores programas do Estado brasileiro para a educação.

Doutoranda Danielly Kaspary

Segundo Danielly, o termo “noosfera” é um termo teórico do campo da Didática da Matemática, especialmente tratado pela Teoria Antropológica do Didático, desenvolvida por Yves Chevallard.

“Esse conceito se faz presente ao longo da tese e está no centro de nossas reflexões. De maneira bastante resumida, podemos dizer que a noosfera, segundo esse quadro teórico, é a esfera da sociedade que se preocupa e se ocupa das questões ligadas ao que deve ou não ser ensinado nas escolas. É essa parte da sociedade que assume a responsabilidade sobre escolhas curriculares dos sistemas educativos”, explica a doutoranda.

Cotutela

A Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação tem como foco a internacionalização, reforçada não só por iniciativas como essa de cotutela em programas de pós-graduação, mas também pela oferta de disciplinas em língua estrangeira, capacitação de docentes e técnicos-administrativos da UFMS nesse propósito, aumento da mobilidade de estudantes e professores em instituições estrangeiras e vice-versa, e na busca de transferência de tecnologias.

Alguns fatores levaram a doutoranda a pensar na possibilidade de realizar um doutorado em cotutela.

“O primeiro fator é o fato da minha orientadora brasileira ter realizado um doutorado na França e ter parcerias com pesquisadores franceses. Um segundo, foi a vinda de alguns pesquisadores a um congresso organizado por um time da UFMS e outros colaboradores. Nesse congresso tive a ocasião de apresentar o que vínhamos desenvolvendo e laços foram construídos. Após o retorno desses pesquisadores, continuei a manter contato a distância com participação em grupos de estudo com colegas franceses, especialmente da Universidade de Grenoble. As trocas se intensificaram até o momento que o doutorado em cotutela pareceu ser uma estratégia interessante para tornar essas trocas oficiais. A universidade francesa está habituada em realizar esse tipo de estratégia de integração e então colocamos em prática esse plano”, afirma Danielly.

Os ganhos com o Doutorado em cotutela são muitos. “São Ligados ao enriquecimento cultural, ao aperfeiçoamento de uma língua estrangeira, à aprendizagem de modos diferentes de se fazer pesquisa, a possibilidade de discutir diretamente com fundadores de quadros teóricos, entre tantos outros. O fato de ter ao final do trabalho de tese dois títulos de Doutorado: um brasileiro e um francês. Do ponto de vista legal e burocrático, tem-se algumas vantagens que podem ser interessantes para uma carreira internacional”, diz a doutoranda.

Mas o Doutorado em cotutela prevê necessariamente parte do tempo em cada uma das universidades.

“Além disso, precisei cursar a grade de disciplinas de cada uma das universidades. Aí está um dos pontos que mais encontramos problemas nesse regime de formação doutoral: são duas universidades diferentes, com culturas e regras também diferentes e todas elas devem ser cumpridas”, compartilha Danielly.

Para a professora Marilena Bittar, as contribuições desta investigação tanto no que diz respeito aos seus resultados, como pelas novas questões postas, foram amplamente evidenciadas nos relatórios feitos por especialistas que autorizaram a defesa: uma pesquisadora espanhola e uma pesquisadora brasileira.

“Com certeza, este doutorado em cotutela contribuirá com a projeção internacional do Programa de Pós-graduação em Educação Matemática e deve incentivar novas investidas nessa mesma perspectiva”, completa Marilena.

Texto: Paula Pimenta