Conferencista destacou que é preciso valorar uso de plantas nativas no País

Para a professora e pesquisadora Maria das Graças Lins Brandão, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a biodiversidade brasileira é subestimada. Tanto no sentido de quantidade de espécies úteis quanto em sua valoração.

Durante a 71ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a doutora em química orgânica ministrou a conferência “História natural das plantas úteis e medicinais do Brasil”, apresentada por Leopoldo Clemente Baratto, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente da Sociedade Brasileira de Farmacognosia.

Segundo a pesquisadora, biólogos estimam que 10% das plantas mundiais tenham algum uso, o que, no Brasil seriam cerca de 4.500, já que se tem registro de 45 mil espécies. Mas os registros no Centro Especializado em Plantas Aromáticas, Medicinais e Tóxicas (CEPLAMT) da UFMG, resultantes de sua pesquisa e de colegas professores, técnicos administrativos e estudantes de diferentes universidades e institutos, estão ainda em fase inicial e já contabilizam 2 mil espécies. “Incluímos até o momento 20% do que será adicionado ao banco de dados, então estimo que sejam na verdade 6 mil plantas úteis e medicinais no Brasil”, explicou.

Ainda de acordo com Maria das Graças, dessas 6 mil, muito poucas são atualmente utilizadas nos remédios disponíveis nas farmácias. “Muita gente se engana e acha que a babosa, o gengibre, o capim santo e a hortelã, entre outras, são nativas e não são. Brasileiras mesmo são a caroba, ipecacuanha, jaborandi e capeba, entre muitas outras. Há um histórico forte de influência da indústria farmacêutica internacional no mercado brasileiro e há deflagrada falta de investimento em pesquisas sobre as plantas nativas. Faltam recursos, porque são pesquisas caras, e incentivo governamental. Atualmente se valoriza muito mais a carne, a soja e o minério em detrimento de todo o patrimônio da biodiversidade. Ele está sendo destruído em prol de uma economia devastadora”, alertou.

O que a conferencista defende é, além da valorização do conhecimento tradicional e das espécies nativas brasileiras, sua valoração, ou seja, a atribuição de valores econômicos, por instâncias governamentais e principalmente pela comunidade. Isso faria com que as plantas passassem a ser mais utilizadas e consequentemente mais produzidas e preservadas.

Alessandra dos Santos Olmedo, que é professora de Ciências e Biologia na Escola Estadual Vilmar Vieira Matos em Dourados (MS), gostou bastante da conferência. “Sou bióloga e quero desenvolver no doutorado um projeto para a valorização do ensino de botânica frente à Base Nacional Comum Curricular. Além de todo conhecimento dessa área fiquei surpresa também com o trabalho da professora Maria das Graças com a educação. São maravilhosos os projetos e a valorização que ela promove entre crianças em idade escolar e também a socialização de todo esse conhecimento”, disse.

 

Texto e fotos: Ariane Comineti