A semana chega ao fim, mas as atividades ainda são intensas durante o penúltimo dia da 71ª Reunião Anual da Sociedade para o Progresso da Ciência (SBPC). Na manhã de sexta-feira (26), o pesquisador Eduardo David de Oliveira, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), realizou a conferência “O pensamento que ginga: a capoeira como filosofia da liberdade” como parte da programação da SBPC Afro e Indígena.
“Deve-se ocupar a SBPC, para que negros e negras estejam mais presentes com produções científicas”, afirmou Nelson Pretto, coordenador da atividade e professor da UFBA, em sua fala de abertura.
“A gente trabalhou a capoeira angola como uma filosofia da liberdade. Não é pensar uma filosofia para a capoeira, mas a capoeira como filosofia e aí falamos de liberdade em tempos de guerra, em tempos de conflito”, explica Eduardo. Questões fundacionais do jogo da capoeira e da ginga entraram no debate. “A ginga não nasce da capoeira, a capoeira nasce da ginga”, menciona o professor.
A cultura ocidental é muito forte na sociedade, porém, conforme trabalhado na conferência, é possível olhar para um viés, uma filosofia diferente, e ver que há outras razões e existências. “Em geral a filosofia que a gente tem aprendido na academia possui matriz quase ou unicamente europeia e que mais serve para justificar a opressão que a gente sofre do que para ajudar a pensar saídas para esse modelo de opressão”.
O professor insere as questões de racionalização individual na discussão, usando como exemplo o molejo necessário para a capoeira. “É na medida que eles vão se racionalizando, que eles perdem a ginga”, satiriza o professor ao falar da forma em que os estrangeiros dançam, durante o carnaval de Salvador, na Bahia. Dentro da conferência, foi exposto que a ginga vai além do jogo. “A ginga é uma negociação entre os corpos”, afirma Eduardo. A ginga, segundo ele, consegue explicar as formas de entender a razão e abordar a cultura.
Trazer uma discussão diferente e repensar filosofias era um dos objetivos da conferência. “A ideia é tensionar para dentro do campo da filosofia e da educação uma perspectiva mais afro referenciada. A gente tem na capoeira uma experiência de séculos que vem produzindo suas categorias, suas práticas, e são todas elas voltadas exatamente para isso: liberdade. Eu quero debater a emancipação das pessoas numa tecnologia de inclusão”.
Texto e fotos: Leticia Bueno e José Câmara (estagiário de Jornalismo)