Com aprovação do público, Banda Sinfônica da UFMS atende procura dos instrumentistas por repertório diferenciado

Com concertos invariavelmente lotados, a Banda Sinfônica da UFMS oferece aos músicos de sua formação e ao público que a prestigia repertórios ímpares e bastante diversificados que exibem não apenas composições originalmente destinadas ao conjunto de sopros e percussão, mas que transitam por transcrições de orquestra, adaptações, arranjos de músicas populares, contemplando obras nacionais e internacionais.

Exemplo disso foi a recente (25/7) apresentação, durante a 71ª Reunião Anual da SBPC, da Divina Comédia, com música do americano Robert W. Smith, compositor de bandas que escreveu uma sinfonia baseada na poesia épica Divina Comédia, do italiano Dante Alighieri.

Obra difícil de tocar, esse concerto encantou e demonstrou o claro comprometimento do conjunto, composto por cerca de 40 instrumentistas, entre mulheres e homens – que desde 2014 está sob a regência do professor do curso de Música da UFMS Jorge Augusto Mendes Geraldo.

“Se não tivermos uma banda bacana, com músicos interessados, não conseguimos tocar. A apresentação foi um sucesso, com participação dos Corais da UFMS, do IFMS e Escala. Boa parte de nossos músicos pertencem a outras bandas – militares, civis ou de escolas – ou outros conjuntos, com atuação profissional ou semiprofissional, e vem para a Banda Sinfônica para tocar esse repertório diferente”, explica o regente.

Criação

Criada em 2011, pelo então professor da UFMS Alexandre Takahama (veja aqui o primeiro concerto), a Banda Sinfônica surgiu de uma demanda dos acadêmicos do curso de Música à época – que por se tratar de Licenciatura – não dispunha de um conjunto para os instrumentistas de sopro se inserirem, entre eles trompetistas, trombonistas e clarinetistas.

“Começou com um projeto de extensão, de quinteto de metais, e depois ampliou para o conjunto de sopros. Como houve muita procura e interesse, criou-se a Banda Sinfônica”, diz Jorge.

A Banda possibilita aos músicos integrantes usufruir de conteúdo mais pedagógico e aproveitar a vinda de professores de outras localidades que aqui compartilham conhecimento e ensinamentos em palestras, aulas e apresentações conjugadas.

“Então, o ambiente da Banda Sinfônica seria de formação continuada para os músicos. Somos o único curso de graduação do estado, há poucos cursos de extensão ou especialização oferecidos. A Banda acaba sendo um ambiente para desenvolver atividades e continuar a formação pela prática”.

A visita de músicos de fora colabora para o crescimento do conjunto. “Essas oportunidades são interessantes na Banda e o curso tem sabido aproveitar a vinda desses profissionais. Acabamos por trazer professores de outras universidades. Como o nosso curso é de Licenciatura, não temos professores para cada instrumento; até por isso que o trabalho em conjunto favorece, faz com que eles se desenvolvam nesse trabalho coletivo”.

Esse ano, o curso de Música recebeu o percussionista brasileiro, residente na Alemanha, Kleber Tertuliano, e o saxofonista Pedro Bittencourt, professor de saxofone da UFRJ. A Banda Sinfônica realizou atividades específicas com eles. Quando os profissionais convidados trabalham com bandas ou tem conhecimento de uma área específica de música, além de lecionar para grupos específicos, também fazem atividades abertas para o Curso de Música e comunidade em geral.

A formação da Banda são instrumentos de sopro e percussão, basicamente, com um contrabaixo de cordas agregado à instrumentação do conjunto.

Entre os instrumentistas de sopro, parte toca madeiras (oboé, clarineta, saxofone, fagote e flautas) e parte metais (trompete, trombone e tuba).  A percussão abarca músicos nos tímpanos, teclados, caixa, bombo, pratos e acessórios. Os ensaios acontecem às segundas-feiras no Teatro Glauce Rocha, entre 17h30 e 19h.

Alguns músicos acompanham a Banda Sinfônica desde a sua primeira formação, mas há rotatividade e novas vagas usualmente são ofertadas, com seleção feita por meio de audição, em quem os candidatos precisam apresentar o repertório que a Banda irá tocar no ano.

“Eu separo as partes específicas daquele instrumento, abro as vagas remanescentes e os interessados se inscrevem. Faço essas audições para ver se o músico tem condições de participar ou não. Como trabalhamos pensando nos concertos, exige-se um nível musical mínimo para o desenvolvimento do repertório”, expõe Jorge Geraldo.

Repertório

Além do repertório comum às bandas de música, a Banda Sinfônica executa um repertório específico que normalmente não faz parte da seleção usual das demais bandas. “Tentamos sempre incluir esse tipo de repertório, que é de grande interesse dos músicos. Acredito também que é uma obrigação nossa levar essas obras, que não costumam ser tocadas, para o público”, completa o regente.

Em 2017, o grupo apresentou concerto com transcrição das partes de “O Messias”, de Haendal, original para orquestra e coro. “Naquele ano fizemos muitas obras originais para banda, mas também alguns arranjos de música popular, suítes nordestinas, etc. Tivemos um concerto quase que exclusivo de música popular em 2016, dedicado à música ragtime, swing, rock, pop. Tentamos fechar em algumas temáticas e nos concertos mais abertos tento incluir uma obra de cada tipo”, aponta o regente.

No ano passado, a Banda Sinfônica gravou o Hino Nacional e este ano o Hino da UFMS, com regência do professor Jorge Geraldo, em parceria com o Coral da UFMS, regido pelo professor Manoel Rasslan.

No próximo dia 21 de outubro, na abertura do Festival Mais Cultura 2019, a Banda Sinfônica apresentará programa bem diversificado, com obras originais para banda, arranjo de música popular, obra de orquestra transcrita para banda, música tradicional de banda de coreto, totalizando seis obras.

“Nós tentamos uma temporada anual, com três a quatro concertos, com dois a três programas de repertórios diferentes. Algumas vezes conseguimos fazer mais de um concerto com o mesmo programa”, diz.

O concerto do Festival Mais Cultura, por exemplo, será tocado mais duas vezes ainda este ano: dia 8 de novembro, em Aquidauana, no Festival de Arte e Cultura do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), e no dia 11 de novembro na abertura do Congresso Nacional da Associação Brasileira de Educação Musical, que será sediado na UFMS.

“É difícil atender todos os convites devido a disponibilidade dos músicos. Um que falte fica prejudicado. Mas o grupo é bem comprometido. Tentamos estabelecer a agenda no começo do ano e eles reservam para os concertos”, explica Jorge.

Acervo

A Banda Sinfônica depende de um acervo de instrumental grande. Os instrumentos de sopro menores costumam ser dos músicos, mas os maiores ou mais caros são do curso, entre eles os de percussão, bombo sinfônico, tímpano, tubas, trompas, fagotes e contrabaixo.

Os instrumentos não ficam restritos ao uso da banda, mas são reservados de acordo com as temporadas, sendo utilizados também em outros grupos ou atividades do curso de licenciatura.

“Faltam alguns instrumentos: temos dois tímpanos, mas precisávamos de quatro, porque a maioria do repertório para banda sinfônica utiliza quatro tímpanos. Mais uma tuba, que é um instrumento de difícil transporte, e um vibrafone”, diz o professor.

Local fixo de ensaio e horário mais flexível são ambições da Banda Sinfônica que também almeja ter um espaço para armazenamento das partituras. “O ideal é que fosse para uma biblioteca especial porque é um documento muito específico. A futura inauguração de um auditório no prédio do curso de Música trará um grande ganho, ajudando a prever melhor o próximo ano de trabalho”, afirma Jorge.

Banda escola

Esse ano o projeto da Banda Sinfônica iniciou um segundo grupo, uma banda escola, que funcionava às quartas-feiras e que aguarda a inauguração do novo auditório de Música para retomar as atividades.

Com um repertório mais didático, a banda escola tem uma parte da atividade de ensino e outra de repertório, num ambiente de aula e ensaio coletivo. Os encontros semanais são coordenados e regidos pelo professor Jorge Geraldo e dois bolsistas, mas no primeiro semestre integrantes da Banda Sinfônica puderam colaborar oferecendo atividades específicas para os alunos da Banda Escola.

Essa banda reúne mais de 40 músicos e possivelmente dará vida a um conjunto grande devido a procura crescente. “Na banda escola, a proposta era deixar as inscrições abertas em fluxo contínuo, mas divulgamos que era um grupo educacional. É para quem realmente quer estudar o instrumento, aprender um pouco mais de banda. Não fazemos testes. O grupo transita por todos os repertórios, mas o tipo de dificuldade é diferente”, explica o professor.

Existe uma classificação no repertório didático e mesmo no repertório sinfônico, variando de um a cinco. No primeiro nível, os instrumentos tocam menos notas, menos variação rítmica, as peças são mais curtas, tem tonalidades mais fáceis. Tudo vai aumentando gradativamente até chegar nos níveis quatro e cinco que seriam o repertório de Banda Sinfônica. Por isso, a banda escola trabalha mais nos níveis dois e três, mais restrito tecnicamente, visando ao desenvolvimento dos instrumentistas.

A proposta é que seja fixado repertório e seja feito uma apresentação a cada dois meses em algum lugar específico da Universidade. As atividades devem ser retomadas em breve.

Aprovação

Campo Grande tem uma forte cultura de banda, segundo o professor Jorge Geraldo. “Acho que um dos pontos principais é a presença de muitas bases militares que têm bandas grandes. E o estado em si tem um movimento de bandas de escola bem forte também. São conjunto que participam de competição, bandas de marcha, muitas têm até corpo coreográfico. Quase todas as cidades aqui têm a sua banda, isso é muito interessante”.

O professor enfatiza que a cultura de banda no Brasil foi muito forte no século 20, sendo a principal formadora de músicos – principalmente sopro e percussão. “A escola de música do interior era a banda. Temos muitos mestres de bandas que ensinam todos os instrumentos. Os alunos participam de desfiles, eventos cívicos e isso influencia o público em geral, não só quem gosta de banda. A nossa experiência aqui com os concertos é sempre casa cheia e em dois ou três eventos não foi possível atender a demanda. A recepção ao trabalho é muito boa”.

Para 2020, o regente planeja apresentar atividades com o Coral de Trombones, coordenado pelo professor Jackes Douglas e também com o professor de Cello, Wiliam Teixeira. O conjunto também recebeu convite para repetir um dos programas em Goiânia e uma participação em um encontro de trombonistas que será realizada na UFMS.

Além da Banda Sinfônica, o Movimento Coral da UFMS, o PCIU! – Projeto Coral Infanto-juvenil da UFMS, o Coral de Trombones, a Camerata Madeiras Dedilhadas e a Camerata de Cordas atuam nas três frentes: na extensão, oferecem cursos para músicos e concertos gratuitos; no ensino, os alunos podem se aproveitar desses projetos para estágios obrigatórios, disciplinas específicas. Na pesquisa, professores e alunos se utilizam do repertório dos grupos, da pedagogia que utilizam dentro desses conjuntos. “Todos esses projetos são um grande diferencial para o curso”, completa o regente da Banda Sinfônica.

Texto: Paula Pimenta

Fotos: acervo Banda Sinfônica