Coleta de dados sobre impacto do isolamento social já possui resultados preliminares

O projeto de pesquisa e extensão que mapeia os efeitos do distanciamento social, decorrente da pandemia de Covid-19, na saúde mental da comunidade universitária começa a segunda fase de coleta de dados, que vai até o dia 10 de agosto.

Porém já foram compilados dados preliminares da primeira coleta, realizada de 10 de maio a 10 de junho com 2.244 estudantes de graduação e pós-graduação e servidores dos 10 câmpus da Universidade.

Destes, 88% disseram ter adotado o regime de ensino remotamente dirigido (ERD) ou de teletrabalho e, depois de instituído estes regimes, 14% não interagem mais diariamente com outras pessoas e 77% sentem falta de interação social. Porém, 48% dos participantes contam que o ERD ou o teletrabalho ajudam a diminuir o isolamento social, enquanto que para 28% o ERD ou o teletrabalho não fazem nenhuma diferença.

97% dos participantes afirmaram estar mantendo as recomendações de distanciamento social, mas 12% alegam estar pouco ou mal informado sobre o que está acontecendo e sobre a razão das medidas de distanciamento social. “Isso pode contribuir para a produção de processos psíquicos negativos”, declara o professor Cremildo Baptista, coordenador do projeto.

Os efeitos na saúde mental constatados na pesquisa são relevantes – 35% das pessoas relatou que já foi diagnosticado com alguma alteração do humor, emocional, psicológica ou psiquiátrica. Em comparação ao período anterior a pandemia, ao ERD e ao teletrabalho com distanciamento social, 6% dos participantes disseram que seu campo emocional está melhor, porque não precisam socializar e 35% não sofreu nenhuma alteração, mas, para 59% dos participantes, o campo emocional piorou.

Quanto a interação social, 24% dos participantes disseram ficar mais de 12 horas por dia sem interagir com outras pessoas e 10% não interage com ninguém nas 24 horas do dia.

“Chama muita atenção o relato de consumo de bebidas alcoólicas durante o distanciamento social, 45,27%, sendo que 15% afirmam ter aumentado o consumo após o distanciamento social. Apesar de vários estudos apontarem a população universitária como um grupo suscetível à dependência química, especialmente do álcool, é preciso considerar que o uso de bebidas alcoólicas no período do distanciamento social também pode indicar a presença de outros sintomas psicológicos. Na cultura brasileira, o álcool tem sido utilizado como possível estratégia de enfrentamento de problemas, especialmente em situações nas quais as pessoas se sentem impotentes, como na atual pandemia, e em que vivenciam elevados índices de estresse e sofrimento psíquico”, ressalta Cremildo.

7% diz não sentir nenhum medo de se contaminar pelo novo coronavírus, enquanto os outros sentem algum medo (pouco, moderado ou muito). “É preciso considerar que o medo é um importante elemento que, além de indicar o sofrimento dos participantes do estudo diante da pandemia de Covid-19, também pode estar associado a fragilidades psíquicas, sobretudo em um contexto social onde a população vivencia diversas incertezas quanto a disponibilidade de leitos e recursos hospitalares, indispensáveis para o tratamento e sobrevivência dos acometidos pela nova doença”, explica o professor.

De acordo com ele, os dados citados acima podem ter relação direta com a constatação de que 40% dos participantes indicaram não sentir que possuem controle da própria vida durante o distanciamento social e de que 12% não acreditam possuir objetivos e propósitos na vida. Outros 42% disseram se sentir desanimados e deprimidos, e 23% sentiram que entrariam em pânico durante o distanciamento social, período no qual 53% vivenciaram alguma situação em que foi difícil se acalmar, 43% frequentemente se sentiram sozinhos e sem amigos com os quais contar e 29% sentem não ter nada a esperar do futuro.

“Esses achados mostram um cenário preocupante do ponto de vista da saúde mental da comunidade universitária da UFMS, ao indicar que ela vivencia processos que podem estar associados ao sofrimento e adoecimento psíquico. É preciso lembrar que outros estudos já vinham sinalizando que a comunidade universitária convive, diariamente, com sintomas psicológicos que, não raras vezes, evoluem para quadros mais graves. Por fim, esses resultados parecem indicar que o distanciamento social pode ampliar sintomas psicológicos pré-existentes, colocando algumas pessoas em situações de maior vulnerabilidade psíquica que comprometem também sua saúde física”, observa o professor Cremildo.

A Universidade possui desde o início da substituição das atividades presenciais por atividades a distância os atendimentos psicossociais remotos, para todos que sentirem necessidade e lançou a “Se cuide, te amo! – Uma ação do coração da UFMS”.

Para solicitação de atendimento, estudantes e servidores podem preencher este formulário. Para informações sobre atendimento psicológico nesse período e para dirimir dúvidas em relação a encaminhamentos em saúde, entre em contato pelo e-mail disau.proaes@ufms.br. Já nos câmpus que possuem profissional de psicologia, entre em contato por e-mail com a unidade para informações.

Acesso à Internet

Dentre os participantes, 57% afirmaram ter acesso tanto à internet banda larga quanto aos pacotes de dados móveis, 14% têm acesso apenas via dados móveis e 4% não possuem acesso à internet em casa. “Esse número pode ser ainda maior, uma vez que o instrumento de pesquisa requer o acesso à internet para envio das respostas”, aponta.

Em abril, a Universidade criou o Auxílio Inclusão Digital, medida inédita que visa atender todos os estudantes de graduação em situação de vulnerabilidade socioeconômica com dificuldades para acessar a internet, fornecendo auxílio financeiro para obtenção de pacotes de dados. As inscrições estão abertas até o dia 1 de agosto e devem ser feitas pelo site selecao.ufms.br.

Acesse ufms.br/coronavirus e fique por dentro de todas as iniciativas institucionais criadas para enfrentar a doença.

Texto: Leticia Bueno

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