CeTroGen tem novas instalações na Faculdade de Medicina

Foram inauguradas as novas instalações do Centro de Estudos em Células-Tronco, Terapia Celular e Genética Toxicológica (CeTroGen) da UFMS. O laboratório, que antes funcionava no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap-UFMS/Ebserh), agora passa a integrar o prédio da Faculdade de Medicina (Famed).

“É um laboratório que já tem 10 anos de história na UFMS. Ele faz parte do programa de Pós-graduação em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste da Famed, com trabalhos publicados em revistas científicas de impacto e várias dissertações de mestrado e teses doutorado defendidas. Nele, são realizadas pesquisas que abordam principalmente a aplicação de células-tronco mesenquimais como terapia celular no tratamento de doenças relacionadas com a inflamação e envelhecimento de órgãos do aparelho digestivo, respiratório, osteomuscular e geniturinário, entre outras”, explicou o diretor da Famed, Marcelo Luiz Brandão Villela.

“O CeTroGen passou por uma mudança extensa devido às necessidades de mudança de prédio e também redução nas atividades desde o início da Pandemia da Covid-19. Hoje em seu novo espaço, o CeTroGen retoma as pesquisas com força total e novo ânimo. O local foi totalmente reformado e readequado às suas necessidades”, apontou o coordenador do laboratório, professor Rodrigo Juliano Oliveira. 

Nas novas instalações constam uma sala de cultivo celular, salas de biologia molecular, salas de microscopia, sala de cirurgia, sala de higienização e um biotério para pequenos roedores. Segundo o coordenador, a estrutura é adequada e suficiente para a retomada das pesquisas pré-clínicas com animais e para reiniciar os primeiros passos das pesquisas clínicas. No entanto, para se atingir o nível de especialização para as pesquisas em terapia celular em seres humanos, o CeTroGen precisa também de um novo ambiente, uma sala ISO 8. “O espaço físico para essa reforma já está destinado e ficará no mesmo prédio da Famed, no entanto, o recurso ainda está em fase de captação. Esse novo espaço a ser reformado garantirá todas as condições ideais para o desenvolvimento das pesquisas clínicas em concordância com a legislação vigente”, informou. 

A cerimônia de inauguração teve a presença e participação da Pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação Maria Lígia Rodrigues Macedo e do Senador da República Nelsinho Trad. 

 

10 anos de pesquisa

O CeTroGen foi inaugurado em 15 de março de 2013. Em 10 anos de atividades, foram publicados 137 artigos em modelo pré-clínico, que são estudos em animais, e clínico, que são estudos em humanos, com assuntos das áreas de Terapia Celular, Genética Toxicológica e Toxicologia Reprodutiva, em revistas nacionais e internacionais. O centro já foi abordado também na segunda edição da Revista Candil.

Na Terapia Celular, os pesquisadores se dedicam à extração de células-tronco mesenquimais, que são células primordiais e que podem formar e/ou regenerar várias partes do nosso corpo, principalmente, do tecido adiposo e o seu uso para tratar doenças que não possuem cura ou que não possuem perspectivas de tratamento adequado na medicina tradicional. “Assim, desenvolvemos terapias inovadoras em busca da cura ou de melhor tratamento dessas doenças. Atualmente, são tratadas ou já foram tratadas no CeTroGen quatro doenças em humanos: Tendão de Aquiles roto, osteoartrite de joelho, doença de Crohn e bexiga Hipocontrátil”, apontou o coordenador, que explica, a seguir, como são utilizadas as terapias em cada uma dessas doenças.

1 – Tendão de Aquiles roto – “Essa é uma doença que acomete principalmente atletas e pessoas que praticam futebol, por exemplo, e, numa torção do pé, rompe o tendão do calcanhar. Essa lesão requer cirurgia e a ferida cirúrgica é de difícil cicatrização. Além disso, o tendão suturado não mantém a arquitetura original o que dificulta a recuperação, a força e a mobilidade. Com a terapia celular com células-tronco mesenquimais é possível ‘colar’ o tendão sem fazer a cirurgia”. 

2 – Osteoartrite de joelho – “Essa doença acomete principalmente idosos. Esses pacientes são não responsivos aos medicamentos e são frequentes nos ambulatórios, gerando muitos gastos ao Sistema Único de Saúde (SUS) e ocupando muitas vagas de consultas e leitos hospitalares. O CeTroGen consegue tratar esses pacientes com o transplante de células-tronco mesenquimais levando à redução de dores, principalmente. Dessa forma, os pacientes voltam às suas atividades de vida diária porque, com menos dor nos joelhos e menos rigidez, caminham com mais facilidade e voltam a realizar outros movimentos. Com esse artigo, o CeTroGen publicou o primeiro transplante de células-tronco mesenquimais em paciente do SUS com osteoartrite no dia 2 de outubro de 2018. E com esse artigo, marcou uma terapia de alta eficiência para o tratamento da osteoartrite”. 

3 – Doença de Crohn – “Essa doença é uma inflamação intestinal que pode causar abertura de fístulas, que são feridas, em volta do ânus e que podem comprometer regiões próximas aos órgãos genitais. O CeTroGen tratou pacientes com fístulas que estavam abertas há muitos anos e que causavam muito desconforto e dores. Após apenas 24 semanas e duas aplicações de células, as fístulas se fecharam e os pacientes ganharam muito em qualidade de vida. Nós temos um depoimento que relata que a paciente retomou sua vida completamente e com qualidade, inclusive voltou a frequentar a escola, visto que se trata de adolescente. O relato está neste artigo”. 

4 – Bexiga Hipocontrátil – “Essa doença acomete, em especial, pessoas idosas e trata-se da incapacidade de contrair/apertar a bexiga para que toda a urina possa sair. Em geral, essas pessoas têm perda de xixi ao longo do dia. Dentre muitos problemas, essa doença retira os idosos da convivência social porque precisam ir ao banheiro com urgência muitas vezes e a perda de xixi pode causar mal cheiro. Muitas vezes esses pacientes podem evoluir para hemodiálise e/ou doença renal crônica o que é uma condição muito ruim e que pode determinar óbito. Além disso, são pacientes que requerem tratamento frequente e que assim também geram altos gastos para o SUS. O CeTroGen fez dois transplantes de células para dentro da bexiga e os pacientes tiveram melhoras muito importantes o que também permitiu a redução de dores e daquela sensação de bexiga sempre cheia. Além disso, os pacientes passaram a fazer xixi com mais facilidade e, portanto, cessaram ou reduziram as perdas de xixi ao longo do dia, bem como reduziu a urgência em ir ao banheiro muitas vezes. Esses pacientes estão em acompanhamento há quase dois anos e os resultados estão mantidos, o que indica alta eficiência do tratamento. Essa terapia é nova no mundo. Nós fomos os primeiros a publicar esse tratamento. Publicamos o artigo em uma importante revista científica. Esse artigo marcou o primeiro transplante de células-tronco do tecido adiposo para o tratamento da Bexiga Hipocontrátil no Brasil, e esse artigo, marcou o primeiro transplante de células-tronco do tecido adiposo para o tratamento da Bexiga Hipocontrátil no mundo. Esse artigo reúne todos os dados da pesquisa”. 

Conforme o coordenador, na área de Genética Toxicológica, os pesquisadores se dedicam a monitorar produtos ambientais contaminantes, alimentos, medicamentos e compostos químicos, naturais ou sintéticos, que possam levar à indução de câncer, à sua prevenção e/ou tratamento. Nessa linha de pesquisa e por meio de parcerias, já foram desenvolvidos no CeTroGen produtos que têm alta capacidade de tratar a doença. “Os nossos estudos estão mais avançados na área do tratamento do melanoma. Com esse mesmo tipo de tecnologia, já desenvolvemos um larvicida contra o mosquito da dengue que é tão efetivo quanto os produtos que são vendidos comercialmente e com a vantagem de ser natural, não poluir o ambiente e ser menos tóxico”, indicou.

E, por fim, na área de Toxicologia Reprodutiva, os pesquisadores do CeTroGen se dedicam a estudar a interferência de contaminantes, alimentos, medicamentos e produtos naturais e sintéticos no desempenho reprodutivo de fêmeas e no desenvolvimento embriofetal. Assim, é possível prever se um produto causará danos à mãe gestante ou ao seu filho em desenvolvimento. “Nessa linha temos pesquisas referentes às plantas medicinais, que são muito consumidas por gestantes porque acreditam que, por ser natural, não fazem mal à saúde. No entanto, nós temos demonstrado que há plantas medicinais que, se consumidas durante a gestação, podem causar aborto e ou malformações nos fetos em desenvolvimento”, disse.

Para o professor os resultados obtidos até o momento demonstram a importância da ciência produzida no CeTroGen para toda a população, uma vez que são tratadas doenças que até então não tinham possibilidades adequadas de cura. “Podemos desenvolver medicamentos para o câncer, desenvolver larvicidas verdes e seguros para o uso em nossas residências. Além disso, podemos fazer biomonitoramentos para orientar a comunidade dos riscos de exposição a contaminantes ambientais e até mesmo a produtos naturais que podem ser tóxicos e causar prejuízos à nossa saúde”, concluiu.

O CeTroGen agora está localizado no prédio da Famed. Mais informações podem ser obtidas neste link

Confira imagens do laboratório na galeria a seguir:

 

 

Texto: Ariane Comineti 

Fotos: Álvaro Herculano 

Imagem das células ao microscópio: Silvia Cordeiro das Neves