Iniciado em novembro de 2014, o projeto de extensão “Atenção e Intervenção Precoce em Bebês de Risco” tem sido um diferencial na evolução de pequeninos de até 24 meses de idade atendidos por acadêmicos do curso de Fisioterapia.
Criado para suprir a lacuna de um campo de prática aos acadêmicos, o projeto prima pela prevenção com a oferta de tratamento fisioterapêutico precocemente em bebês com riscos biológicos, como nascimento prematuro, hemorragia intracraniana, hipóxia/anóxia neonatal, ou com riscos estabelecidos, como microcefalia, síndromes genéticas, entre outras, que possam vir a ocasionar disfunções do desenvolvimento neurosensoriomotor.
De acordo com a professora e coordenadora do projeto Daniele de Almeida Soares-Marangoni, há carência desse tipo de assistência em Campo Grande, porque não há serviços ambulatoriais voltados para a intervenção fisioterapêutica precoce em bebês.
“Médicos e outros fisioterapeutas relataram não haver um local próprio para encaminhar os bebês que necessitam de intervenção fisioterapêutica regular logo após a alta hospitalar. Diante disso e da necessidade de levar os acadêmicos para esse campo de prática, pensei em desenvolver o projeto”, expõe a professora.
Os bebês que durante o período gestacional, perinatal ou pós-parto sofreram alguma intercorrência que os coloca em risco para apresentar alterações do desenvolvimento motor são atendidos na Clínica Escola Integrada da UFMS, todas as quartas-feiras, em até uma hora com atendimento fisioterapêutico, entre 15h e 17h.
“No projeto trabalhamos com essa intervenção preventiva, para que os bebês não venham a apresentar alterações sensoriais, de postura e movimento que levem a limitações funcionais, que os impeça de explorar o ambiente adequadamente; ou, quando essa prevenção não for possível, que consigamos pelo menos minimizar a instalação dessas alterações”.
A maior parte dos bebês é encaminhada ao projeto pelo Hospital Universitário, mas o atendimento está aberto também a bebês que sejam provenientes de toda a rede de serviços. A maioria chega até os quatro meses de idade.
“Os bebês toleram até 30-40 minutos de atendimento individualizado, com estimulação sensoriomotora. O tempo restante é utilizado para ministrar orientações às mães, que aprendem sobre a responsabilidade compartilhada, devendo realizar estímulos com os filhos durante os demais dias da semana em casa”, explica a professora.
O trabalho inicia-se com a atenção fisioterapêutica respiratória ao bebê, se necessária. Em seguida, é realizada a fisioterapia sensoriomotora, ou seja, trabalha-se a estimulação sensorial e motora do bebê por meio de brinquedos atrativos e brincadeiras, nas diversas posturas e suas transições: deitado de barriga para baixo, para cima, sentado, o escalar, em pé, a marcha, etc., de acordo com sua idade e necessidades. O intuito é eliciar movimentos ativos de forma agradável para o bebê, potencializando sua motivação e suas capacidades sensoriomotoras.
Uma vez ao mês são realizados encontros com as mães para conversas, dúvidas, e para que haja troca de experiências. Para ajudá-las na execução das atividades de estimulação com os filhos em casa, são distribuídos cartões de orientação ilustrados.
Como há uma demanda constante, os bebês geralmente não são retidos por muitos anos no projeto. “Quando observamos que a criança adquire a marcha com bom equilíbrio e que as habilidades manuais estão adequadas, optamos por dar alta e inserir um novo bebê, mas marcamos um retorno de seguimento pós-alta dentro de quatro meses, para nova avaliação”, diz a coordenadora, que espera futuramente poder contar com uma linha de cuidados interdisciplinar que envolva o bebê desde a gestação.
Há quase um ano sendo atendida, a pequena Emanuelly, de 1 ano e 8 meses, sequer sentava ou aceitava o toque quando foi recepcionada pelo projeto, aos 9 meses de idade. Com a intervenção sensoriomotora, ela que, segundo a mãe Jeanne de Araújo Serrana, apresenta diferenças na ossatura do quadril, já caminha segurando-se.
“Eu fui encaminhada pela médica pediatra da Maternidade Cândido Mariano. Acho que ela melhorou muito com a fisioterapia”, avalia a mãe.
A felicidade pelo resultado também é compartilhada pelas acadêmicas que acompanham semanalmente a evolução das crianças.
“Sabemos o quanto é difícil para essas pessoas receberem um atendimento público especializado e é uma grande satisfação poder ajudá-los, ver o desenvolvimento dos pacientes que chegam aqui ainda sem falar, andar e recebem alta bem diferentes”, diz a acadêmica do 8º semestre, Amanda Girard.
Aprender a lidar com os bebês e até mesmo com as mães, que muitas vezes chegam ao projeto fragilizadas, é um dos principais ganhos de aprendizagem, segundo Amanda. “Esse contato terapêutico com as crianças e seus familiares enriquece muito o que aprendemos na sala de aula”, afirma.