Pesquisadores nacionais e estrangeiros contribuíram para a obra Neotropical Diversification: Patterns and Processes, recém publicada pela editora alemã Springer, com uma breve revisão da importância biológica e biogeográfica das principais montanhas da América do Sul não andinas, discutindo seu papel na diversificação e manutenção da biodiversidade neotropical.
A obra é direcionada a seis regiões: Serra do Mar, Serra da Mantiqueira, Serra do Espinhaço, Planalto Nordeste, Planalto Central do Brasil e Região do Pantepui. Nela, os autores apresentam as principais características geofísicas e bióticas de cada cordilheira, bem como os principais resultados de estudos filogenéticos, registro fóssil e estudos sobre padrões biogeográficos de diversidade, riqueza e endemismo.
O professor Diogo Provete, do Instituto de Biociências (Inbio/UFMS), é um dos autores do capítulo “Diversity, Endemism, and Evolutionary History of Montane Biotas Outside the Andean Region”, assinado em coautoria com Thaís B. Guedes, da Universidade Estadual do Maranhão; Josué A. R. Azevedo, Christine D. Bacon e Alexandre Antonelli, todos da University of Gothenburg, Göteborg (Suécia).
“Neste capítulo de livro tive a oportunidade de trabalhar novamente com o grupo de pesquisa do professor Alexandre Antonelli, da University of Gothenburg, onde fiz um estágio de pós-doutorado em 2015. A nossa proposta foi revisar a literatura sobre padrões ecológicos, macroevolutivos e biogeográficos de montanhas da América do Sul, exceto os Andes”, explica Diogo.
Maior cadeia de montanhas contínua do planeta e a única que cruza o equador, os Andes têm recebido significativa atenção na literatura há bastante tempo, destaca o professor Diogo, justamente porque vários estudos encontraram que os Andes de fato tiveram um papel bastante importante na geração da biodiversidade de vários grupos de organismos para toda a América do Sul.
“O que quisemos enfatizar é que, embora com influência mais regional, outras cadeias de montanhas também foram e são importantes em gerar biodiversidade. Como exemplo, mostramos como variáveis climáticas e densidade populacional moldaram a diversidade de anfíbios na Serra do Mar, que é um dos hotspots de diversidade no mundo para esse grupo”.
Anuros da América do Sul
O professor Diogo Provete é também um dos seis pesquisadores brasileiros que assinam um dos mais completos registros de sapos, rãs e pererecas da América do Sul. O livro “Biogeographic patterns of South American Anurans“, também publicado pela editora alemã Springer, no final do ano passado, tem autoria ainda de Tiago Gomes dos Santos, Tiago da Silveira Vasconcelos, Fernando Rodrigues da Silva, Vitor Hugo Mendonça do Prado.
Em 160 páginas, ilustradas com fotografias dos anuros mapeados, os pesquisadores compilaram 2.623 espécies presentes no continente, integrando métricas biológicas alternativas, empregando métodos de ponta para entender os processos subjacentes aos padrões e dinâmica de distribuição de espécies.
“Nesse livro reunimos e sistematizamos novas informações sobre distribuição de espécies de sapos na América do Sul. Este é um dos continentes mais diversos em anfíbios no mundo e vários estudos anteriores já haviam analisado padrões de diversidade para este grupo nesta região. A novidade do nosso estudo foi que produzimos mapas de distribuição para espécies recentemente descritas que ainda não haviam sido incorporadas em estudos anteriores”, afirma Diogo.
Em cada capítulo do livro, foram explorados temas ainda pouco compreendidos, como padrões de distribuição de diversidade funcional (atributos de história de vida das espécies que influenciam a relação delas com o meio ambiente) e filogenética (relação evolutiva entre espécies de um local). Os autores exibiram um gráfico que mostra o ritmo de descrição de novas espécies e um mapa mostrando as regiões onde poderiam haver espécies ainda não descritas.
“Por fim, apresentamos também uma proposta de priorização de conservação de regiões, pensando na diversidade de sapos. Todas essas abordagens confirmaram que os Andes são de fato uma região com alta diversidade de espécies, assim como a região central da Floresta Atlântica, portanto corroborando os dados do capítulo de livro acima”, completa o professor.
De forma peculiar, os pesquisadores apontaram ainda na obra várias regiões chamadas “coldspots”, que são regiões com baixa diversidade de espécies, mas que contém espécies únicas em termos de seus atributos ou história evolutiva. “Essas regiões incluíram áreas com florestas temperadas e regiões semiáridas do continente”, diz.
Texto: Paula Pimenta