Alunos de escolas públicas aprendem sobre doenças infecciosas de forma lúdica

Trem do Pantanal é uma das canções que mais representam Mato Grosso do Sul. Composta por Paulo Simões e Geraldo Roca em 1982, fez sucesso na voz de Almir Sater. É com essa inspiração cultural que surgiu um projeto de extensão desenvolvido na Cidade Universitária, que leva o nome da canção no título e que tem o objetivo de conscientizar alunos e professores do Ensino Médio sobre as doenças infecciosas comuns no Bioma Pantanal.

Em sua sexta edição, o projeto de extensão Trem do Pantanal: trilhando o caminho do bioma e as doenças tropicais, tem como objetivo a oferta de cursos para alunos e professores de escolas públicas. A conscientização é realizada de forma que os alunos consigam distinguir as principais doenças infectocontagiosas e parasitárias, degenerativas, ocupacionais e as provocadas por toxinas ambientais.

Anualmente são ofertadas 60 vagas para alunos e 10 para professores, com duração de 40 horas.  As atividades são realizadas na Cidade Universitária com base em metodologias ativas e experimentais de forma lúdica e interativa e monitoradas por estudantes de graduação e de pós-graduação. Ao final do curso, os participantes recebem um livreto instrutivo com história sobre parasitoses produzido pelos professores e pelos monitores.

O próximo curso está programado para ser ofertado em outubro  de 2023. A parceria com a rede pública de ensino é uma forma de estabelecer uma ponte multiplicadora para que os avanços em ciência e tecnologia, construídos dentro da Universidade, cheguem à comunidade. Desta maneira, a participação dos estudantes da pós-graduação atuando como monitores, é uma forma de fomentar a responsabilidade social na popularização da ciência aproximando-os da comunidade.

A primeira edição do projeto foi em 2016 e está sob coordenação da professora do Instituto de Biociências, Ana Paula Marques. “O projeto nasceu em 2015 a partir do credenciamento de alguns professores e colaboradores do Programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina à Rede Nacional Leopoldo de Meis de Educação e Ciência. Um dos requisitos para o credenciamento era apresentar um projeto que tivesse como objetivo a inserção dos pesquisadores e dos estudantes da pós-graduação na rede pública e com isso poder melhorar o ensino básico do país através de cursos, como é o caso do Trem do Pantanal e também através da produção de material didático ou paradidático”, conta a professora.

As doenças abordadas no curso para os alunos são divididas em 4 linhas: as parasitárias, respiratórias, arboviroses e as infecções sexualmente transmissíveis. “O curso é baseado em metodologias ativas, então começamos sempre com as dúvidas que eles têm dentro dessas 4 áreas, porém a definição das doenças depende das dúvidas dos alunos. Mas no geral temos dentro das parasitoses: a ascaridíase, teníase, doença de chagas, giardíase. Nas respiratórias: influenza, tuberculose, resfriados e agora deve entrar Covid-19. As arboviroses são a dengue, zika, chikungunya e febre amarela. E as infecções sexualmente transmissíveis: sífilis, gonorreia, AIDS e clamidiose. Cada edição varia, pois depende do que os alunos trazem de questionamentos, de história de vida, de conhecimento prévio”, explica Ana Paula.

Além de levar conhecimento para a rede pública de ensino, o projeto leva inspiração para os futuros profissionais. Flávio Vieira, participou do curso em 2017, quando o projeto atendeu a escola em que cursava o segundo ano do Ensino Médio e anos mais tarde conclui a graduação em Letras – Inglês e Literatura, atua como professor e deseja que os seus atuais alunos também tenham a mesma experiência.

“Participei do curso como aluno e foi uma experiência nova até então, até aquele momento eu praticamente não tive nenhuma experiência com aulas em laboratórios e metodologias diversificadas. Os professores responsáveis pelo projeto nos acolheram, deram espaço para questionamentos, compartilhamento de ideias, além de serem muito gentis. Tivemos gincanas relacionadas aos temas tratados, além da interação com a Universidade. Acredito que foi algo inovador para muitos de meus colegas também. Seis anos se passaram e, quando me lembro daquela experiência e, sobretudo, das pessoas que fazem acontecer, bate aquela saudade boa, a vontade de repetir. Hoje, como professor, eu já demonstrei interesse que minha escola participe do projeto. Trabalhos assim precisam ser replicados”.

Influenciado pelo o que aprendeu, o então estudante de Ciência Biológicas e monitor Dario Corrêa Júnior teve a certeza de que queria seguir carreira como professor. “Eu participei da formação do projeto junto com a professora Ana Paula e outros professores e estudantes de Ciências Biológicas e Medicina. A primeira edição foi em 2016, na qual ainda estava na graduação e fiz meu trabalho de conclusão de curso sobre o projeto. Formei em Ciências Biológica – licenciatura em 2017 e finalizei o mestrado em Doenças Infecciosas pela Parasitárias em 2019, ambos pela UFMS. Em todas as edições fui monitor das atividades desenvolvidas no curso de férias, planejando como seria o curso em si e também nas dinâmicas envolvidas no decorrer das atividades. Sempre fui apaixonado pelo ensino. A licenciatura me abriu os olhos para o caminho da aprendizagem e o projeto contribuiu para sentir na prática o quanto o estudo pode mudar a vida das pessoas.”.

Atualmente Dario é estudante de doutorado no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele relembra como o projeto foi importante em sua trajetória e deixou marcas que são evidentes até hoje. “Hoje sou um pesquisador apaixonado por ensino, pesquisa e extensão, as bases de uma universidade. Atualmente faço doutorado na UFRJ e por aqui também venho participando de projetos de extensão. Não existe alegria maior do que saber que um pouco do seu trabalho pode mudar vidas”.

Texto: Bianka Macário
Fotos: Arquivo dos pesquisadores