Estudo analisa impactos nos seguros agrícolas devido a eventos climáticos

O fim de uma graduação pode oferecer a oportunidade de uma pesquisa que está diante dos nossos olhos e, muitas vezes, presente na rotina. Foi o caso do egresso do Câmpus de Naviraí, Leonardo Silva de Oliveira, que, prestes a concluir o Curso de Administração, decidiu aproximar os estudos da sua realidade profissional. A pesquisa sobre a contratação de seguros agrícolas rendeu frutos e foi publicada na Revista Política Agrícola, uma publicação da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária.

O trabalho foi desenvolvido em parceria em parceria com as professoras Sibelly Resch e Jaiane Aparecida Pereira. Na ocasião, ainda enquanto estudante, Leonardo também era proprietário de uma seguradora. Logo, foi orientado a escolher um assunto que pudesse ser aplicado no seu dia a dia. O método pedagógico, que nos lembra Paulo Freire, apresenta a conexão com o cotidiano social dos estudantes, partindo para o ensino e compreensão, resultando em uma forma mais clara de aprendizado. 

A professora Sibelly sugeriu o tema e foi assim que surgiu a ideia de trabalhar com os seguros. “Inicialmente, foi realizado um levantamento sobre o impacto desse processo de prejuízo das seguradoras no preço das apólices de seguro agrícola. Alguns dados secundários foram utilizados para conduzir essa análise, não apenas em relação aos valores das apólices, mas também para realizar comparações com os preços em Mato Grosso do Sul e abordar a questão dos eventos extremos”, relatou.

Durante a pesquisa, uma análise dos seguros agrícolas em 2022, focando nos desdobramentos de eventos extremos, ou seja, a seca severa na região ocorrida no ano anterior (2021), revelou alguns números importantes. Com base em informações do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) sobre o Brasil e Mato Grosso do Sul, a pesquisa, de natureza quantitativa e descritiva, apontou diversas conclusões relevantes.

Primeiramente, constatou-se que o reajuste no Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) e o aumento do orçamento destinado à subvenção impactaram positivamente o número de produtores beneficiados por essa política pública. Em relação às seguradoras em Mato Grosso do Sul, o estudo apontou que o prejuízo, calculado como a diferença entre prêmios e valores indenizados, foi 31,5% superior ao índice nacional em 2021. Além disso, cerca de 80% dos sinistros pagos no mesmo ano foram decorrentes da seca, sendo este o principal evento climático responsável pelos sinistros tanto no Brasil quanto no estado sul-mato-grossense.

Outro ponto destacado pelos autores foi a alta sinistralidade relacionada à safra de 2021, resultando em um aumento médio nos preços das apólices para o país como um todo, com um aumento ainda maior para Mato Grosso do Sul. Essas descobertas sinalizam desafios significativos no setor de seguros agrícolas em decorrência de eventos climáticos extremos e suas consequências econômicas.

A professora e coautora, Jaiane Aparecida Pereira, destaca que o projeto também foi importante para a contribuição com outros pesquisadores da área, uma vez que o tema não é muito encontrado nos livros. “Observamos também que na literatura há poucos trabalhos que discutem essa questão. Assim, realizamos essa pesquisa, obtivemos resultados bastante interessantes e conseguimos publicá-la em uma revista da Embrapa. Com isso, esperamos auxiliar pesquisadores e produtores a tomar decisões e se preparar para os próximos anos. Destacamos a importância de considerar esses eventos extremos no planejamento agrícola e na gestão de riscos”, ressaltou.

Para o egresso Leonardo Silva de Oliveira, seu trabalho de conclusão de curso foi além de uma fase para obter o título de bacharel. “No âmbito profissional, por meio da pesquisa, conquistei novos clientes para minha corretora e, ao mesmo tempo, mantive uma excelente taxa de retenção de clientes, uma vez que o conhecimento sobre o produto foi aprimorado”, explicou.

Texto: Elton Ricci