UFMS 45 anos: relatos narram a trajetória das construções da Universidade

Em quatro décadas e meia, a Universidade cresceu tanto no número de estudantes, professores, técnicos-administrativos e colaboradores, quanto em sua infraestrutura. Em 1979, a recém-criada UFMS já nasce multicampi, com 22 cursos em Campo Grande, Corumbá, Três Lagoas, Aquidauana e Dourados, além de monumentos e construções importantes como o Teatro Glauce Rocha, o Estádio Morenão e o Monumento Símbolo. Atualmente, a Instituição possui 10 câmpus, 23 polos de educação a distância, duas bases de pesquisa e uma Fazenda Escola, distribuídos por todas as regiões do Estado, com instalações que representam o espaço para conquistas profissionais de toda a comunidade universitária.

As edificações da Universidade evocaram memórias frente à pergunta “Como a UFMS faz parte da sua história?” e por isso, nesta quinta reportagem especial em comemoração aos 45 anos de Federal, apresentamos os relatos de quem acompanhou de perto a construção de prédios e ambientes nos quais inúmeros sonhos são realizados. 

Apesar de nunca ter estudado ou trabalhado na Universidade, a doutora em Educação Neiva Mattos conta que teve a infância marcada pela Instituição. “Quando os primórdios da construção dessa linda cidade de concreto começaram a ser plantados no meio da mata desta Cidade Morena [Campo Grande], eu era criança e fui vendo nascer blocos, salas e corredores. Diziam que haveria até um cinema sem salas, nem cadeiras e um grande estádio de futebol. Eu não entendia direito e nem sei, até hoje, se essas informações estão corretas, o que eu sei é que eu amava passear na ‘Cidade Universitária’. Sim, era assim que nós a chamávamos e, de fato, era uma cidade que surgia do chão, em meio a muita madeira, ferro e cimento. E eu e meus irmãos corríamos, subíamos e descíamos daqueles monumentos em construção como se estivéssemos em casa e tudo aquilo fosse o nosso quintal”, rememora.

Neiva destaca o privilégio exclusivo que tiveram no acesso ao local, pois seu pai era operário da construção civil atuante nas obras da Cidade Universitária durante a semana e, aos sábados e domingos, trabalhava como guarda, vigiando a construção. “Nós íamos levar o almoço para o papai e, enquanto ele almoçava ali mesmo, nós ganhávamos asas e explorávamos cada cantinho daquela cidade gigante. Por entre blocos de concreto e tapumes de madeira, acontecia o espetáculo do esconde-esconde, do pega-pega, da amarelinha riscada no chão com pedaços de pedras da construção. Eu passava a semana inteira esperando por esse momento”, relembra.

“A minha vida não seria a mesma se na minha história não houvesse esse capítulo. Parabéns UFMS pelos seus 45 anos de federalização, sucesso e prosperidade para você e os seus. Eu guardo na alma o orgulho de saber que em algum canto do seu chão, a terra foi molhada pelo suor do meu papai”, finaliza. 

A professora do Instituto de Matemática (Inma) Sonia Maria Monteiro da Silva Burigato também tem boas memórias na Cidade Universitária. Seu pai também trabalhou na edificação e costumava contar a ela, orgulhoso, dos detalhes da construção do Monumento Símbolo, em 1970, e do Teatro Glauce Rocha, em 1971, antes mesmo do processo de federalização. Além das histórias, Sônia esteve muitas vezes no local acompanhando familiares. “A UFMS sempre foi um ponto turístico para os campo-grandenses e sempre que recebíamos parentes de outras cidades meus pais os levavam para conhecerem e tirar belas fotos”, recorda.

Em 1999, Sonia Maria realizou o sonho de ingressar no Curso de Licenciatura em Matemática e se formou no início de 2003. Após a formatura, atuou como professora substituta na Universidade até 2005, quando entrou para o Programa de Pós-Graduação em Educação. Em 2009, começou a jornada como professora efetiva do Inma e, posteriormente, de 2015 a 2019, cursou o doutorado em Educação Matemática, com um período sanduíche na Universidade de Reims Champanhe-Ardenas (França). “Como podem ver, a UFMS faz parte da minha história há muito tempo”, conclui.

A professora aposentada Tania Mara Garib, que atuou no antigo Departamento de Tecnologia de Alimentos e Saúde Pública e coordenou o Curso de Odontologia por dois mandatos antes da instalação da Faculdade de Odontologia, tem boas lembranças do tempo em que esteve na Base de Estudos do Pantanal (BEP), acompanhando o atendimento dos estudantes à população local.

A história de Tânia com a BEP começou antes mesmo dela ser estruturada, quando ficou sabendo de sua construção. “Via um professor do Curso de Ciências Biológicas andar para cima e para baixo nos corredores da Universidade com uns mapas embaixo do braço. Um dia matei minha curiosidade e perguntei: ‘o que são esses mapas professor?’ e ele me respondeu: ‘estamos fazendo uma grande obra no Pantanal, para estudarmos a flora e a fauna’. Em um relance perguntei: ‘e o homem pantaneiro? Não terá um espaço lá para estudarmos o homem no seu bioma, aprendermos com eles e cuidarmos também?’. E ele me respondeu: ‘os recursos são poucos, um empresário está nos ajudando. Um verdadeiro “mecena*”’. ‘Me leva até ele’, respondi, ‘quero ver se o sensibilizo e ele ajuda a construir uma unidade de saúde por lá’. Bem os protagonistas dessa história, se estiverem lendo podem corrigir e complementar, o certo é que nos deram um bloco para uma unidade de saúde e o desafio era equipá-lo”, narra.

Assim, Tania também colocou a proposta embaixo do braço e foi atrás dos “mecenas”, termo designado para pessoas ricas e poderosas interessadas em financiar projetos artísticos e literários na Antiguidade e no período do Renascimento. Posteriormente, a expressão tornou-se mais abrangente, indicando também o patrocínio a instituições e outras atividades.

A professora aposentada destaca que o necessário aos consultórios médicos era mais fácil de conseguir, pois eram mesas, cadeiras e macas. Para os laboratórios de exames, seriam necessários itens um pouco mais complexos, mas havia a alternativa também de levar as amostras para análise em Campo Grande. Já para os consultórios odontológicos, as necessidades eram ainda mais complexas e caras, o que a levou a buscar uma parceria com a Secretaria de Estado de Saúde. 

Os passos seguintes foram sensibilizar os colegas para que, além do trabalho semanal, topassem viajar quase 300 km aos finais de semana para o atendimento na Base de Estudos do Pantanal, inaugurada em 1991, e propor a experiência aos estudantes. “Nossa proposta era pegar o barco, subir e descer o rio Miranda que passava nos fundos da Base, fazer um levantamento epidemiológico das necessidades odontológicas do homem pantaneiro, divulgar que a cada quinze dias estaríamos lá para atendê-los. No começo eram duas ou três pessoas que compareciam, mas, com o tempo, este número foi aumentando”, rememora.

Os cursos de Farmácia e Bioquímica e de Medicina logo se juntaram à empreitada. “Vale destacar que lá não tinha luz de rede elétrica. Era um motor a diesel que gerava energia para o funcionamento. Quando todo mundo estava no alojamento, pronto para dormir, alguém dava um grito e lá ia o zelador, sr. Tomás, se não me engano, desligar o motor”, revela. Segundo Tania, os professores repassavam a mesma ladainha todos os dias junto aos estudantes, para que não saíssem à noite, que carregassem sempre suas lanternas e tomassem cuidado com a presença de onças. “Éramos acordados pelos pássaros e o delicioso cheiro de café que a querida cozinheira que tinha por lá já estava preparando. Os mais afoitos desciam correndo as escadas para ver se havia marcas das patas de onças, como havíamos alertado”, informa.

A docente aposentada lembra dos tempos iniciais nos quais improvisou alguns instrumentos de especialidades e destaca ainda o grande aprendizado com as famílias pantaneiras e com os colegas das outras áreas de atuação. Ao final da tarde, os biólogos com seus equipamentos e binóculos observavam os animais e aves e eu, curiosa, também aprendia um pouco. “E assim, por muitos anos, participei desse trabalho maravilhoso. A cada quinzena um professor se oferecia para acompanhar a turma. Ninguém pensava em hora extra ou vantagem pessoal. Era amor mesmo”, encerra.

UFMS 45 anos

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Texto: Ariane Comineti 

Fotos: Arquivo pessoal e Agência de Comunicação Social e Científica